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Tinha, há alguns tempos atrás, prometido ir publicando a estórias escritas pelo meu pai, Fernando Gil Cardeira, e recolhidas no livro "Memórias Escritas". Comecei com a "História Breve do Cinema de Cacela" e, se não me engano, "Um Casaco de Peles que não Chegou a Sê-lo" Como não encontrei a diskete onde tinha reunido estas estórias, escrevi-as a partir do livro. No entanto, por falta de tempo e porque não queria estragar o livro a scaneá-lo, nunca mais tinha postado nada. Hoje encontrei a dita diskete e recomeço a postar as estórias que considero muito importantes para compreender um tempo que já lá vai mas que é essencial para interpretar o hoje, das zonas do sotavento algarvio compreendidas entre Tavira e Vila Real de Santo António e a sua evolução nos últimos 50 anos.
O livro "Memórias Escritas" esgotou rapidamente após a sua publicação e, portanto, só pode ser lido, em exclusivo aqui no "quinta".
Santa Rita é uma pequena povoação situada na parte Oeste da freguesia de Cacela, concelho de Vila Real de Santo António.
Desde data imemorável que ali se realiza a cura de Santa Rita. No seu início devia ser feita por uma só mulher que a idealizou e pôs em prática, com o decorrer dos anos essa mulher deve ter transmitido o seu saber a uma ou mais das suas filhas, pois as curas eram sempre feitas por mulheres e sempre da mesma família, que transmitiam de geração em geração o segredo das suas praxes. Contudo só algumas descendentes femininas faziam curas.
Em Santa Rita nunca houve mais de três curandeiras ao mesmo tempo, mesmo havendo mais do que três descendentes mulheres.
As curandeiras guardavam religiosamente o segredo da sua arte, mas sabia-se que para preparar o remédio elas utilizavam sal moído e outras substâncias sólidas, também moídas, e um líquido feito com a infusão de erva de Santa Maria. Esta erva é expontânea e abundante nesta região.
O preparado era exposto durante algumas noites ao luar de um determinado mês.
Faziam-se duas curas por ano, a primeira era feita na primeira Lua cheia de Maio e a segunda na primeira Lua de Junho. Porque as fases da Lua não coincidem com o início ou o fim de mês, por vezes só era considerada pelas curandeiras, como a primeira Lua cheia de Maio a primeira Lua cheia de Junho e então só nessa altura se fazia a primeira cura, sendo a Segunda em Julho.
Em cada cura eram aplicadas três doses do remédio, uma dose um dia antes de ser Lua cheia, outra no dia de Lua cheia e outra no dia seguinte.
Para fazer a cura a curandeira esperava sentada pelos pacientes, estes também se sentavam e deitavam a cabeça com o lado direito para cima, numa almofada que aquela tinha sobre os joelhos. A curandeira então com uma espátula, aplicava-lhe dentro do ouvido uma porção do remédio em pó. Em seguida com uma almotolia especial, deitava também dentro do ouvido algumas gotas da infusão herbanácea, colocando em seguida um pequeno tampão de algodão no ouvido. Depois a operação era repetida no ouvido esquerdo. Os pacientes então amarravam um lenço ou um bocado de pano a tapar os ouvidos, para que o remédio fizesse melhor efeito.
O pagamento era feito após as três aplicações e não havia um preço estipulado para o efeito. As curandeiras recebiam o que as pessoas queriam dar e estas já sabiam por tradição ou conversas o que era costume pagar, pelo que não havia conflitos.
Durante os dias de cura afluíam a Santa Rita muitas pessoas para esse fim vindas dos diversos pontos do Algarve, que utilizavam na sua deslocação comboio, autocarros, automóveis, bicicletas, carroças e bestas. Os que moravam longe aguardavam no local até completar a cura e dormiam nas carroças que os transportavam, ao relento ou alugavam quartos para dormir aos residentes locais.
Era tão grande a afluência de pacientes, que as curandeiras tinham de arranjar uma ou duas colaboradoras para ajudar e mesmo assim, chegavam a fazer curas até próximo da meia-noite.
Muitas pessoas acreditavam que as curas lhes faziam bem a diversas doenças que tinham. Entre as doenças tidas como mais susceptíveis de cura com aquele tratamento destacava-se a escrofulose ( uma espécie de tuberculose infantil). Contudo as pessoas residentes em Santa Rita e num raio de uns cinco quilómetros raramente se curavam.
Uma descendente da família das detentoras do segredo foi residir para Faro e também aí fazia a cura, mas não teve êxito porque o povo só tinha como genuína a cura de Santa Rita.
Nos dias da cura vivia-se em Santa Rita num ambiente misto de feira e festa. Havia bailes de tarde e à noite e também se instalavam barracas de quinquilharias, utilidades domésticas, doces, etc. Também havia sempre três ou quatro botequins onde mulheres, com uma pequena mesa e quatro cadeiras, vendiam suspiros, biscoitos e copos de aguardente de figo a troco de pouco dinheiro. Tudo isto atraía ali muita gente, dos mais diversos lugares, que não ia às curas.
Nos últimos anos só uma senhora, de avançada idade, pratica a cura, e a pouco mais de uma dúzia de clientes fiéis, que acredita que só aquele tratamento contribui para aliviar os seu males.
em, Memórias Escritas, de Fernando Gil Cardeira
(artigo enviado para o Jornal do Algarve a 16 de Janeiro de 1997)
PALAVRA IBÉRICA 2008
III Encontro Hispano-luso de Escritores
Punta Umbría 7 e 8 de Março de 2008
É já a terceira edição do Encontro Palavra Ibérica, desta vez em Punta Umbria, como na primeira edição.
O Encontro Palavra Ibérica pretende ser uma ponte intercultural entre países de expressão ibérica e um local de encontro de pessoas e culturas. Encontra-se inserido no projecto com o mesmo nome do qual faz parte ainda uma colecção de livros bilingues de poesia e um prémio internacional de poesia (ambos com o nome Palavra Ibérica).
Neste encontro privilegia-se o contacto e convívio entre os escritores das várias nacionalidades e entre estes e o público. Procura-se a divulgação das línguas e das literaturas de expressão ibérica, assim como dos autores, obras e projectos que sempre se encontram e se criam nestes dias.
O ano passado o encontro decorreu em Portugal, em Vila Real de Santo António, organizado pelo Sulscrito e pela Câmara Municipal da cidade em parceria com as entidades acima referidas.
Os parceiros do Palavra Ibérica:
Ayuntamiento de Punta Umbria
Câmara Municipal de vila Real de Santo António
Casa da Cultura de Punta Umbria
Sulscrito - Círculo Literário do Algarve
Editora Livrododia (na colecção)
Fica o programa para este ano em Punta Umbria, apareçam.
Programa:
SEXTA FEIRA - 7 de Março
19:00h. Sala Polivalente
Inauguração do III Encontro hispano-luso de Escritores PALAVRA IBÉRICA
Antonia Hernández Galloso (Vereadora da Cultura do Ayuntamiento de Punta Umbría)
José Carlos Barros (Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Vila Real de Sto. António)
Fernando Esteves Pinto (Círculo Literário do Algarve “Sulscrito”; Co-coordenador Palavra Ibérica)
Uberto Stabile (Coordenador do Encontro hispano-luso de Escritores Palavra Ibérica)
19:30h. Sala Polivalente
Acto de entrega e apresentação dos Prémios Internacionais de Poesia Palavra Ibérica 2007
“El sitio justo” de Rafael Camarasa (Valencia)
“Sobre as imagens” de Amadeu Baptista (Viseu)
20:30h. Sala Polivalente
Cara a cara, verso a verso: outros tempos para a lírica.
José Mário Silva (Lisboa)
Manuel Moya (Fuenteheridos, Huelva)
21:30h. Sala de Exposições do Teatro del Mar
Inauguração das exposições fotográficas:
Paula Ferro (Tavira)
Angeles Santotomás (Huelva)
22:30h. Gran Café Nexo
Eladio Orta (Ayamonte)
Golgona Anghel (Lisboa)
Elisa York (Sevilla)
Tiago Nené (Faro)
Manuel A. Domingos (Manteigas)
Miguel Godinho (Vila Real de Sto. António)
SÁBADO 8 de Março
11:30h. Sala Polivalente
Apresentação do livro “Lo que cayó del Conquero - Antologia de Narradores Onubenses”
Apresentam:
Marcos Gualda
Uberto Stabile
Intervenções de: Rafael Delgado
Francis Vaz
Manuel Garrido Palacios
Manuel Moya
13.00h.
Cara a cara, verso a verso: espaços para a poesia
Manuela Ribeiro (Directora do Encontro “Correntes d’Escritas” de Póvoa de Varzim, Portugal)
Antonio Orihuela (Director do encontro “Voces del Extremo” de Moguer, España)
18:00h. Sala Polivalente
Apresentação dos livros e recitais poéticos dos autores da colecção Palavra Ibérica
“Las moradas inútiles”de José Carlos Barros (Vila Real de Sto. António)
“Só mais uma vez” de Uberto Stabile (Valencia)
“Pequeña antología para el cuerpo” de Luis Filipe Cristóvão (Torres Vedras)
20.00h. Sala Polivalente
No feminino plural
Margarida Vale de Gato (Lisboa)
Josefa Virella (Huelva)
Ana Mafalda Leite (Moçambique)
María Gómez (Isla Cristina)
Diana Almeida (Lisboa)
Rosario Pérez Cabaña (Sevilla)
22:30h. Gran Café Nexo
Pedro Afonso (Faro)
José Varós (Granada)
João Bentes (Faro)
Carmen Camacho (Jaén).
Eduardo White (Moçambique)
Antonio Orihuela (Moguer)
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