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Este é um blogue de esquerda. Todos os que por aqui passam o sabem. No entanto vou desiludir muitos com este post .
Sou contra referendos. Ou melhor, acho que referendar algo só em casos verdadeiramente excepcionais e mesmo assim com reticências. Tipo:
Concorda com a integração de Portugal em Espanha, passando a constituir uma das suas regiões autónomas?
Ou, Concorda com a reintrodução da pena de Morte em Portugal?
Ou ainda, Concorda com a restauração da monarquia em Portugal?
Como estas questões seriam sempre raras, estapafúrdias e excepcionais, sou, em regra, reafirmo, contra referendos.
Acredito na democracia, confio na representatividade dos eleitos para decidir e aceito a vontade da maioria dos representantes na Assembleia da República.
Em tempos de populismo e de desconfiança em relação aos eleitos e aos políticos em geral, penso que ainda é mais pertinente a negação do poder dos referendos. E os políticos são como os outros profissionais. Há bons, maus e assim-assim. Ainda por cima têm que ter uma cachola que poucos possuem e aguentar com todo o tipo de enxovalho sem poder, quase, responder. Alguém imaginaria um ministro a chamar mentirosos e corruptos a sindicalistas? Os políticos têm de mentir algumas vezes e outras de ocultar as suas verdadeiras vontades. E isso é próprio do seu difícil ofício. Quem ganharia eleições se dissesse que ia congelar salários, aumentar impostos ou fazer outras malvadezas do género? E que poderia um ministro responder a um jornalista perante uma pergunta do género: É verdade que Bin Laden introduziu no país operacionais da Al- Qaeda e se prepara um violento ataque terrorista? Claro que iria dizer que não era verdade, que o país estava perfeitamente calmo e em segurança e que a polícia controla qualquer actividade que ponha em causa a segurança dos cidadãos. Mesmo sabendo que era mentira e que o risco de atentado era elevado. Outra resposta poderia dificultar os trabalhos das polícias e levar o pânico às populações.
Voltando aos referendos. Estes são uma verdadeira arma nas mãos de políticos populistas. Estou até convencido que num referendo sobre a pena de morte se correria o sério risco de ver ganhar a hipótese da sua reintrodução.
Vem tudo isto a propósito de referendar ou não o tal de Tratado Reformador (seja ele constitucional ou não). Sou profundamente contra. Compreendo perfeitamente os argumentos (cínicos ) do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda. Num referendo iriam capitalizar os votos contra, que seriam sobretudo votos contra a situação económica, as medidas anti-sociais do governo e o medo da perda de soberania nacional. Com os partidos de centro-direita apostados na aceitação do tratado, era só facturar. Esta última ( a questão da soberania e da independência nacional)que constitui um logro obeso e facilmente desmontável. Quanto mais integração maior é a força de um pequeno país como é o caso de Portugal. Na comunidade podemos fazer ouvir a nossa voz e influenciar o nosso destino, aqui e no mundo. Sós, ninguém nos ligaria. Foi sempre assim. A nossa independência e a nossa soberania foram bem sentidas aquando do Ultimato inglês, em 1890, ou perante a invasão dos territórios de Goa; Damão e Diu. Inversamente, foi o peso da União europeia que nos ajudou a impor os nossos interesses na questão de Timor.
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