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Só nos faltava esta: uma ministra da Cultura para quem divertir-se com o sofrimento e morte de animais é... cultura. Anote-se o seu nome, porque ele ficará nos anais das costas largas que a "cultura" tinha no século XXI em Portugal: Gabriela Canavilhas. É esse o nome que assina o ominoso despacho publicado ontem no DR criando uma "Secção de Tauromaquia" no Conselho Nacional de Cultura. Ninguém se espante se, a seguir, vier uma "Secção de Lutas de Cães" ou mesmo, quem sabe?, uma de "Mutilação Genital Feminina", outras respeitáveis tradições culturais que, como a tauromaquia, há que "dignificar".
O património arquitectónico cai aos bocados? A ministra foi ali ao lado "dignificar" as touradas. O património arqueológico degrada-se? Chove nos museus, não há pessoal, visitantes ainda menos? O teatro, o cinema, a dança, morrem à míngua? Os jovens não lêem? As artes estiolam? A ministra foi aos touros e grita "olés" e pede orelhas e sangue no Campo Pequeno. Diz-se que Canavilhas toca piano. Provavelmente também fala Francês. E houve quem tenha julgado que isso basta para se ser ministro da Cultura...
D. Maria II proibiu as touradas, em todo o território nacional, em 1836. Passos Manuel, ministro do Reino, lavrou e promulgou o decreto:"Considerando que as corridas de touros são um divertimento bárbaro e impróprio de nações civilizadas, bem assim que semelhantes espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade, e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros."
O decreto foi às urtigas passados escassos nove meses. As poderosas forças da barbárie impuseram a sua lei e voltou-se atrás nos tempos.Mas a vontade de um homem lúcido e ligado às reformas do ensino e das mentalidades, não pode deixar de nos impressionar pela sua precocidade e modernidade.
Vem isto a propósito da decisão da Câmara Municipal de Viana do Castelo em declarar a cidade como a primeira "cidade antitouradas" em Portugal. Seguindo o exemplo que 53 cidades espanholas já tinham dado, Viana do Castelo, corajosamente, rejeita a tortura de animais e abraça o futuro.
Se votasse em Viana, a minha cruzinha seria para quem ousou ser pioneiro nesta luta contra o obscurantismo do prazer pelo sangue.
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