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Nos olhos do tubarão

por vítor, em 08.06.20

Retirei os olhos e coloquei-os
Sobre o parapeito da tua janela.
Com o corpo cambaleando, cego,
Entrei pelo mar adentro e
Nadei até perder o pé. Do
Parapeito da janela avistava-se
Um ponto boiando no azul
De chumbo, na boca hiante entre
O céu e o mar.
Quando abriste a janela e
Viste os meus olhos voltados
Ao mar, vimos os dois, da
Janela do teu quarto, um
Tubarão avançando ao meu
Encontro. Sem olhos, o meu corpo nada via. E nadava.
E o grito arrepiante que vibrou no
Ar da tarde que se iniciava
Nunca haveria de chegar ao
Nadador cego que planava nas
Profundezas de si mesmo. Fizera sim,
Tombar os meus olhos na
Areia morna da tarde de outono.
Foi então que a cena que a
Tarde geria se transformou bruscamente
Na peripécia estranha que os
Nossos olhos presenciaram:
O tubarão rodopiou três vezes
No ar que cobria a serenidade
Das águas e apontou
O nariz de lixa às areias sonolentas
Da praia, Chegado ao borbulhar da
Espuma das ondas, aspirou intensamente
O ar que cobria a praia e os meus olhos rolaram suavemente
Na direção da garganta profunda do seláquio.
A menina de tranças e peitos
Inchados que atravessava a praia
Numa corrida desenfreada chegou
Tarde e já não viu o animal
Que os olhos tinha engolido.
Eu também não o vejo, mas vislumbro o nada
Porque os meus olhos estão dentro do tubarão.
A escuridão que me rodeia afasta-me de ti e o mar é imenso.
Os peixes trarão o nosso estranho passado.

Monte Gordo – 8/6/2017

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publicado às 13:41

March 21, 2007

Registo número oito [Registos gerais sem pretensões de diário] — joão bentes @ 3:57 pm

Julgo que a minha educação falhou de alguma forma, e que esse assinalável embuste escapa à capacidade de juízo da minha natureza. Sou por isso uma pessoa amedrontada. Não porque receie que algum desconhecido na rua me esfaqueie a troco de míseras importâncias, mas sim porque a minha lucidez é uma estranheza pouco abrangente. À imagem do meu rosto todos os outros são pouco esclarecidos. É devido a essa falta de confiança que os meus sentimentos são uma névoa de emotividades suspensas num paralelismo sempre ambíguo, desguarnecidos da clareza própria aos homens fortes.

Infelizmente nunca me considero ridículo, nem de algum modo penso que as minhas atitudes podem ser desrespeitosas, pelo que não posso, e ninguém pode, em qualquer situação, colocar a minha seriedade em causa. Não sei se estas observações abreviam-me a indolência, ou se a força da minha expressão terá suficiência redundante.

Não sou um indivíduo político, mas estou guarnecido de tal promiscuidade. Tenho a certeza de que conspiram contra mim, mas a minha fragilidade é hostil e acabarei por me tornar mártir. Tratar-se-á de mesquinhice ou decadentismo senil. Há quem no vulgo me ache a personagem trágica de um enredo extremamente óbvio. Enfim, sempre houve de tudo e para todos. Eu não vou além da minha fúnebre tristeza, do masoquismo da minha melancolia.

March 19, 2007

PS: Se algum estúpido me vier falar de erros ortográficos, que vá levar no cu. O erro ortográfico está para a literatura como o nú está para a arte. Ou como o ânus está para o sexo. Ou como a cegonha está para a maternidade . Ou...é melhor parar por aqui, não me vá sair algum disparate...

PS2: Vou voltar a colocar a tag sexo. Estou tão por baixo nas visitas, e até não vai em contra-mão. Pois não?!

PS3: O joão é meu amigo e ainda vamos ouvir falar,e falar, muito dele.

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publicado às 19:25


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