Tinhas perguntado sobre o porquê das alforrecas aparecerem mortas nas praias, e eu, sem saber como responder, retorqui cinicamente, talvez até maliciosamente, que era o sinal do seu fracasso, a desistência de continuar: enfim a aceitação do que o fim determina. E então porque continuam a provocar comichões várias nos incautos caminhantes nas espumas da maresia? Não será isso um sinal de resistência à morte. Diria, que de alforrecas, tenho que ser sincero, pelo menos comigo mesmo, nada percebo ou entendo, o que qualquer leigo poderia dizer sobre assuntos transcendentes e etéreos: nada do que me fascina me espanta. O gozo torna-se sempre mais cortante, coerente, diriam alguns, e até, digo-o com alguma legitimidade, mais íntimo quando desconhecemos o caminho que trilhou até nos atingir. Se for à traição, melhor!
O tempo, que estava quente, passava dolente. Nas entranhas dos pássaros acoitavam-se grãos de sabedoria indeterminada. As moelas nunca paravam. Eternas enquanto os corpos se dispunham a continuar.
Demos as mãos e fomos pela praia fora indiferentes ao destino das gelatinosas criaturas que iluminavam a babuja. Todavia, evitando a sua indesejável adjacência.
Pisa, 1 de agosto de 2022