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Quando vens até mim transportando as tuas incertezas no regaço da dor. Quando chegas sem remorso algum em relação aos tempos comoventes da nossa solidão repartida. Quando o vento me diz o que não quero saber, e nunca soube, as confusões construídas por mal-entendidos jamais esclarecidos sobrepõem-se a tudo o que algumas vezes sonháramos.
Não há nas densas sombras das noites um sequer riso que nos descongele as emoções, as impossibilidades de compreender o outro, enfim, os reflexos inertes da esperança por explicar. Desenhos numa face rasgada por cicatrizes voláteis, riscando o futuro como palavras brutais que penetram a música censurada, liberta no éter, atravessando as bocas unidas num coro que vomita acordes fedendo a absinto. Lembramos os tempos já amortalhados na memória abandonada pela voragem incontinente dos mirones que nos acompanham no caminho. Que nos resgatam da carne imagens vazias de antanho. Eu não sou o que fora nos teus braços; a amplitude oblíqua, brusca, do rasgar da pele, do convívio insano da carne, da espiritualidade desconcertante dos ossos, do ainda impossível tráfico das vísceras, rejeita quaisquer sentimentos eruptivos da filogénese que comanda as artes vitais. Do amor. Sem açaime, os órgãos dispõem-se na estrada como animais selvagens colapsando sem rede. Rastejando por entre cardos e pedras latejantes. O caminho estará vedado a quem não acompanha o vil uivar das comadres patrocinadas por empresários bem-intencionados. O uivo das almas de quem não chega a lado nenhum, e inspira os dejetos acantonados no imaginário dos imbecis.
Quando as nossas mãos procuram a lentidão dos gritos esventrados e manipulam ostensivamente o pulsar das criaturas e dos venenos que as encorpam, somos só uma alucinação no clamor da luz que substitui o tempo oculto. O tempo sem fim repetindo a dor que parimos juntos.
Monte Gordo, 17/12/2019
O grande pintor Degas muitas vezes me contou essa frase de Mallarmé, tão justa e tão simples. Degas às vezes fazia versos, e deixou alguns deliciosos. Mas constantemente encontrava grandes dificuldades nesse trabalho acessório de sua pintura. (Aliás, era homem de introduzir em qualquer arte a dificuldade possível.). Um dia disse a Mallarmé: “sua profissão é infernal. Não consigo fazer o que quero e, no entanto, estou cheio de idéias…”. E Mallarmé lhe respondeu: “Absolutamente não é com idéias, meu caro Degas, que se fazem os versos. É com palavras.” (VALÉRY, 1991, p. 207-208).
60x35
colecção de Laurentino Pinto Madeir
Ah, tinha-me esquecido! No Mercadinho de Cacela Velha, comprei, para além do livro de Borges (que afinal não foi um negócio assim tão bom...) esta pintura de sardinhas em papel de arroz. O artista parece ter assinado e tudo. Custou-me 5 euros mas valeu a pena. Quem conhecer o artista, que diga qualquer coisa. Pela obra deve ser grande! japonês, chinês, coreano, vietnamita?????
É preciso recuar até ao ano de 1937, a Veneza e ao Palácio Pesaro , para podermos encontrar a última exposição que abarca quase toda a sua obra. Embora a maior parte dos seus trabalhos se encontre ainda na cidade dos canais, encontra-se dispersa pelos sítios para onde foram encomendados.
Agora, 70 anos passados, podemos visitar uma espectacular antologia do pintor no Museu do Prado, em Madrid. 59 pinturas, 13 desenhos e 3 esculturas para enlouquecer!
Já agora, para quando uma investigação séria sobre o hipotético Jacomo Comim do convento (igreja) de S. Paulo em Tavira?
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