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diante dela perdi a cabeça.
foi terrível
o chapéu foi-se com ela...
lisboa 25-03-82
Agora que o passado já não conta, vou incendiar a lucidez e permitir-me abraçar os dias sem objetivo. A pequenez de tudo o que circula na contramão ser-me-á o alimento que atenua a faminta vontade. Os olhos dirão o que o silêncio não quiser. Navegaremos, então, na tépida nave dos afectos.
A passagem conforta os que não têm nada
os que procuram
os que nunca encontram.
A passagem é um caminho que reflecte as sombras do passado
enquanto dormem os inúteis sobressaltos.
Há gente que precisava de mais vidas para amar
os sinuosos tremores da paixão
as escolhas impossíveis e imateriais
os labirintos claros da impotência que sopra da juventude
difusa, larvar e narcótica.
A passagem une o que respira ilusão.
Os sonhos são a realidade por cumprir
quando da solidão nasce a palavra que embriaga
que sorve o conforto incontornável das distâncias.
Há gente que precisa de mais vidas para sofrer.
Olhaste sempre para o lado
não ousando ver a luminosidade
que se desprende do caminho,
inventando a gestão do futuro,
corrompendo a perplexa realidade.
A memória difusa naufraga
nas traseiras da tua casa,
na árvore enraizada do quintal.
Vês as galinhas-da-cor-do-gato
alimentando-se de vermes da estrumeira?
Utiliza-as para viajares no tempo
feliz das paisagens encantadas,
no princípio fracturante e inatingível,
mergulhando as mãos na merda-fresca-da-cor-do-gato.
Para compreenderes a utilidade da podridão
reboca o teu olhar até à inscrição escravizante
dos tempos primordiais
que espreitam por debaixo do entulho
onde o medo cresceu.
Não mudes,
o passado tem o tamanho do futuro
e a vida é um efémero lampejo de nudez
na anárquica deriva da esfera celeste,
na ausência dolorosa de lucidez.
A tua visão lateral é um sopro
nas velas da caotização do cosmos.
PS: Qual é a cor do gato?
VRSA, 10/9/08
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