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um homem que por acaso era eu

por vítor, em 10.12.10

 

 

Outro com produção integral edições CATIVA.

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publicado às 11:38

Caminhos Sem Retorno

por vítor, em 31.03.09

 

Alguns ficaram para trás

o caminho tinha buracos e sabiam-no

abismos laterais

e não os temeram.

Uns soçobraram nos primeiros palmos da curta jornada

atarantados pelo súbito levantar dos cabelos.

Os que presenciaram a aspiração das almas,

caíram um pouco com eles, mas continuaram a trilhar

a poeira dos atalhos.

 

As linhas que conduzem os gritos

levam-me a terras estranhas

onde os moradores enlatam sonhos

que engolem os que não sabem esperar

pelas imposições agrestes da morte.

 

Em Marrakesh dormimos nas açoteias doridas

do barro tecido a kiff.

Em Amesterdão dormimos com as mulheres

que não sabiam podar laranjeiras.

Em Bordéus dormimos no átrio da estação de comboios

com lágrimas partilhadas por todos.

Quando acordámos, muitos tinham voltado atrás

o medo toldara-lhes o futuro

as suas mães cantavam nos mares originais.

 

Tapámos os ouvidos com cera

e os pés voltaram a rasgar as sendas desconhecidas

do acaso.

 

Para onde queres ser levado?

Pareceu-me ouvir

vindo da intolerância espiral

das atitudes ateológicas.

 

Nunca um amigo uivará na noite

sem que tudo pare

sem que o rastejar dos sentimentos

se esboroe na areia das engrenagens.

 

Depois do amor chegam aqueles que o amor contem

os que não deixarão de nos acompanhar

os que são a carne que restará da carne

que a terra nunca há-de aceitar.

A carga tornou-se pesada

 e os pés afundaram-se nas águas rasgando o caminho,

impossibilitando a progressão de alguém na poeira lavrada.

Mesmo assim teimámos seguindo os mortos esquecidos

os sem rosto ecoando  antanho nos labirintos.

 

És a espuma silenciosa que se alevanta na proa

revolvendo as correntes inadvertidas do tempo

o nevoeiro que oculta a insensata correria

dos deuses.

 

Os homens não são o que a natureza quis para si,

os frutos contêm os genes da podridão

que alimentam o que renasce da escuridão prenhe de sabedoria

 

Olhas, então, para trás.

Nada do que vês te é íntimo.

As pegadas cruzam-se em bebedeiras estéreis,

em estratagemas frágeis que ocultam a memória.

Voltar atrás será uma aventura tão rude

como seguir em frente.

És tu que tens que decidir

sou eu quem escolherá o destino.

Resolvemos recomeçar os trilhos invisíveis

que se estendem pela imensidão do deserto!

 

Quantos ainda nos acompanharão?

Quantos desistiram exaustos?

Quantos voltaram a pisar os mesmos pés que os pés calcaram?

 

Nada interessa.

O que fazemos hoje iniciará pensamentos

anacrónicos amanhã.

E tudo recomeça a partir do lodo inicial,

nos primórdios da caminhada.

 

Eis senão que alguns se adiantam

 e se despenham na sofreguidão da jornada

no abismo que ampara e enternece.

Refulgem na noite e alcançam

as esculturas da libertação da morte.

 

Nada disso me interessa, nos interessa.

 

Fico só

eu e a imensidão dos nossos.

Ninguém é ele próprio

todos caminham à boleia de todos.

Só quando nos excluirmos da globalização da consciência

sairemos para sempre de deus.

O esquecimento varrerá as partículas que restam

e nada será tudo (como sempre foi)

A marcha que nos conforta a respiração deixará, então,

a podridão alimentar o retorno dos corpos.

 

(Este será o poema que encerrará o livro "Partículas" que com ele finda até ao fim dos dias)

 

 

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publicado às 18:38

pedalando na planície sombria

por vítor, em 18.03.09

http://fundacaovelocipedica.wordpress.com/2009/03/18/muitas-tintas-muitas-linguas-7/

 

osalto

MAS

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publicado às 09:28

Oração sem Consequência

por vítor, em 05.01.09

 

 

Apareces sempre que o embaraço escalda

nas ruas onde a impossibilidade espreita

quando a inútil confluência dos afectos

encontra o vácuo ardente das peles áridas.

 

Apareces como espectro sem leitura

oração sem consequência

escarificando feridas húmidas

revolvendo memórias nas prateleiras longínquas

que obscurecem a sexualidade moribunda

sedimentada na poeira da amargura.

 

Apareces acenando ao longe

atravessando o abismo intransponível

da loucura instalada e fácil

carregando sinais que permanecem nas eternas tempestades

convocando gritos que rasgam cenários escuros

da inacabada árvore dos sonhos.

 

Na tua voluptuosa estratégia dançante

arrasas as defesas do destino

as portas que protegem da festa que alicia

os fluxos inertes da solidão.

 

O alvo não é um refúgio sem consequências

um cadinho estanque e frio.

Todos os lugares transportam distopias  carnais e suicidas

tentações brutais que afrouxam a coesão sofrida dos sentimentos.

 

Apareces e nunca ousas mostra-te.

 

Monte Gordo (aula de substituição - 9 B)

5/01/2009

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publicado às 22:59

O Conforto das Distâncias

por vítor, em 29.12.08

 

A passagem conforta os que não têm nada

os que procuram

os que nunca encontram.

A passagem é um caminho que reflecte as sombras do passado

enquanto dormem os inúteis sobressaltos.

 

Há gente que precisava de mais vidas para amar

os sinuosos tremores da paixão

as escolhas impossíveis e imateriais

os labirintos claros da impotência que sopra da juventude

difusa, larvar  e narcótica.

 

A passagem une o que respira ilusão.

 

Os sonhos são a realidade por cumprir

quando da solidão nasce a palavra que embriaga

que sorve o conforto incontornável das distâncias.

 

Há gente que precisa de mais vidas para sofrer.

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publicado às 23:45

As prepotentes palavras

por vítor, em 11.11.08

 

Luís Feito Lopez

 

Na carne enxuta

um cravo rasga a sedimentação brutal dos sentimentos

revolve as águas na aluvião do desejo amovível

 

Das prepotentes palavras

esquecidas

dos odores intensos da lama

desordenada

da gangrena, dos solavancos da carne,

pingam líquidos que constroem

estalagmites de medo

petrificam os perplexos louvores da memória

o tumor que envolve

amnioticamente a maresia

tornou-se o corpo são onde chapinham as ilusões

incompletas,

sóbrias e descalças

 

Um corpo entumescido

de vibrações inertes que borbulham

ao encontro da eternidade

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publicado às 16:58

O infinito e a sua sombra

por vítor, em 16.09.08

 

Olhaste sempre para o lado

não ousando ver a luminosidade

que se desprende do caminho,

 inventando a gestão do futuro,

corrompendo a perplexa realidade.

 

A memória difusa naufraga

nas traseiras da tua casa,

na árvore enraizada do quintal.

 

Vês as galinhas-da-cor-do-gato

alimentando-se de vermes da estrumeira?

Utiliza-as para viajares no tempo

feliz das paisagens encantadas,

no princípio fracturante e inatingível,

mergulhando as mãos na merda-fresca-da-cor-do-gato.

 

Para compreenderes a utilidade da podridão

reboca o teu olhar até à inscrição escravizante

dos  tempos primordiais

que espreitam por debaixo do entulho

onde o medo cresceu.

 

Não mudes,

o passado tem o tamanho do futuro

e a vida é um efémero lampejo de nudez

na anárquica deriva da esfera celeste,

na ausência dolorosa de lucidez.

 

A tua visão lateral é um sopro

nas velas da caotização do cosmos.

 

PS: Qual é a cor do gato?

 

VRSA, 10/9/08

 

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publicado às 22:18

Frito Fanecas

por vítor, em 09.04.08


A morte envolve-te silenciosamente
só o ventre sobe e desce imperceptível no horizonte
morno da serra lunar

Não sei se se me vim antes
ou se te vieste tu
sei que somos felizes na efémera e cruenta palidez dos dias

O frigorífico arranca na noite
e as cortinas nervosas
balançam nas janelas púdicas

Abandonada num corpo maldito
navegando na corrente embriagada
do plasma seminal
embrulhas-te em sonho num novelo felino

O mundo gira ao contrário
aqui neste buraco sem tempo
frito fanecas no óleo quente das sombras

(alguém me sabe explicar porque é que "pudicas" não leva acento? não é uma palavra esdrúxula?)

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publicado às 20:06

Sexo incompleto

por vítor, em 09.03.08


Estrebuchas na  levitação
da noite morna
da noite funda e silenciosa.

As perguntas que ergues na penumbra
não respondem aos mitos,
ritos selvagens de desespero
no limbo do apocalipse.

Os teus camaradas
não respondem, não ouvem
os gritos do embaraço inútil
da convocação dos desejos milenares.

 

Revolves os lençóis encharcados
de secreções animalescas
onde o sexo apodrece sem afectos,
onde a horizontalidade dos corpos
prenuncia o féretro adiado.

A vida rola ao contrário
na irregularidade das memórias deficitárias.
Quando sorris todo o saber se desloca
para as sombrias e profundas cicatrizes
da desesperança terminal.

Os conflitos afluem no deserto inqualificável
e sonolento.
Neles encontras a perenidade das calmarias
enquanto a mão profana
avança entre as nádegas
à procura do sexo incompleto.

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publicado às 00:45

Inquietudes diversas

por vítor, em 28.01.08

Desejas cumprir o silêncio na planície
onde a revolta professa inquietudes diversas,
na completa evidência da apostasia .
Atravessas atalhos caóticos na memória vazia de afectos
salpicando pegadas enquanto as ásperas faces da multidão
se refugiam na fealdade consumada
do princípio uniforme  da manada,
na esparsa rede incontinente que ampara
o precipício magnético e purificador.

A tua noite vem sem o conforto da escuridão
pesadelo laminar abrindo chagas, cicatrizes
incompletas perseguindo os momentos implacáveis
da solidão sôfrega.

A nossa noite vem cobrindo as conversas doentias
de namorados incompatíveis, dualidade controversa
na cadência impossível,
conversas na podridão aberta nas mentes, matriz
dos teus passos na cálida certeza do nada,
quando despertas no longo caminho
a violência dos muros esquarteja o que resta da sinopse
espinhosa do retrato a sépia
insuflando os desperdícios duma juventude precoce.

O tempo é um labirinto que não esconde
a raiz dos espectáculos repelentes da aprendizagem patética,
virtude confusa da simetria ambulante.

O campo lavrado que te precede
impede a reposição das imagens fáceis,
a nudez da planície silenciosa.
Como nas aldeias esquecidas por patrocinadores
da estética alarve da ciência,
escreves sem nunca deixar linhas.
A tinta que usas não deixa crosta, escreve
na vida liquefeita manchando a sangue a planície lavrada.

Os momentos que te fazem repousar os pés
 acorrentam os caminhos e corroem-te os joanetes
tentaculares (apêndices inúteis na erosão dos corpos).

Uma vida assim é a resposta palpável
aos cantadores de odes às criaturas estéreis
que revolvem a lama que cura os desvios elegantes dos marginais.
Uma vida que não responde aos impulsos
psicadélicos dos ventos
às tentadoras sereias das tempestades,
que resiste na inexactidão dos tempos.

Se desejares cumprir o silêncio da planície semi-lavrada
não arrastes os pés na direcção do horizonte.

 

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publicado às 23:34


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