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celebrando as palavras

por vítor, em 07.09.11

 

(texto de Adão Contreiras)

 

46º parágrafo
... Perdi a existência por não ter escrito.

 

Estou vendo duas palmeiras, colunas de pedra rústica, um vale espraiando-se  em espaço  aberto até um mar ao fundo.

 

Imperador Romano, diria; - abraço esta Terra Minha com a espada reluzente, coloco nela as minhas colunas, a minha esquadra o meu jardim!

 

Faraó, na sua glória de Sol acrescentaria esta dádiva mais à sua pose Divina.

 

Sobrevivente das Cavernas pisaria a Terra com as Colunas  ainda  em sonho e diria: - o que é isto que me rodeia tão perto e tão longe?

 

Dito e escrito isto, sinto porventura que continuo existindo perante a exuberância das coisas o silencio do espaço e o vento cingido às copas das árvores, penso.
08.09.11


45º parágrafo

...o copo côncavo agudiza  ecoando na palavra  no som de copo, o som soando soa o corpo, o corpo copo  soando soa o côncavo copo, penso.

23.06.11

 

44º parágrafo
... quando entrei naquela casa todo o espaço estava cheio e leve, havia qualquer coisa de subtil na atmosfera que subtraía o peso aos abjectos, penso.
13.06.11

 

43º parágrafo
... o espaço é o lado visível do tempo, penso.
 03.06.11

 

42º parágrafo
... é aqui na magia do encontro do ser colado ao dia, com o olho nu da ternura, que abrigo este querer de querer a palavra e o corpo inteiro. Sólida razão. Caminho sem reservas do dia completo, de musas abrigadas nas cascas dos caracóis; é aqui que estou, onde a terra acaba e o corpo começa e as árvores crescem em sílabas palavras em local com corpo e marés, constelação de pedras, em redor do silêncio, é aqui que estou.
24.05.11

 

41º parágrafo
... busco na memória antiga o que no silêncio das veias outrora fecundava a terra, penso
02.05.11

 

40º parágrafo
... tirar à cal da parede as palavras sem resíduos é saber que o dia é vegetal, penso.
05.04.11


38º parágrafo
...perscrutando o futuro com palavras ainda sem corpo, não mais do que buracos no tempo obtemos, penso.

20.03.11

 

37º parágrafo

... de todo o pensamento e cultura grega clássica o mais importante do seu legado é o ter desvinculado o pensamento da crença e ter colocado lá a permanente interrogação, penso.
04.03.11

36º parágrafo
... não estamos no "fim da História", estamos sim no fim do não à História, penso.
 23.o2.11

 

35º parágrafo
... se não fosse a realidade que se transforma para que serviam as palavras e os muitos sentimentos?
18.02.11

 

34º parágrafo
...estou pensando, mas o que acrescento são buracos ao universo, penso.
11.02.11


33º parágrafo

... haveria peixe se não houvesse mar, e poderia eu existir se não houvesse universo?
 03.02.11

 

32º parágrafo
... para  forjar  pensamentos  tenho que  alimentar o cérebro com carvão em brasa, penso.
13.01.11

 

31º parágrafo

... será porque o sol não se vê a ele que cada um de nós irrompeu da escuridão, para o ver, penso.
01.01.11

30º parágrafo
... só depois de morrer vou acreditar que morri, até lá sou eterno, penso.
10.12.10

 

29º parágrafo

... uma sociedade que necessita de tanta "vigilância" é como um corpo doente a sobreviver  à custa de  antibióticos, penso.

27.11.10


28ª parágrafo

... O fim de semana passado estive acampado, que tal! até rima; passei aí perto de ti se é que estavas aí, e esta que continua rimando! fui parar a Aljezur estrear a tenda ligeira que se abre numa brincadeira o pior foi que do céu caiu água como da torneira e a tenda quase ia indo parar à ribeira e tive que dormir no carro mas tudo passou sem percalço de monta e estou de volta para te dar esta notícia quase tonta!
04.11.10


27º parágrafo

... Hoje é terça e há um rastilho de domingo ainda por incendiar  um sol que nutre o silêncio uma voz que abre o corpo um destino nas palavras por dizer; hoje é terça  e ainda é o sábado na madrugada de domingo quanto o crepitar terno e são de;  quando o sol olha as flores para dentro de elas e me interroga; hoje é terça quando ainda quarta se aproxima emboscada numa luz em gritos e terna combustão de mim.
12.10.10

 

26º parágrafo
... quando o amor se abre entre as pernas as palavras ficam vermelhas, penso.
23.09.10


25º parágrafo
...vivo,com o corpo entre parêntesis, ao lado do infinito, penso.

03.09.10


24º parágrafo
... ontem, disse palavras com os olhos, e elas ficaram no espelho, coloridas.
23.08.10

23º parágrafo
... intempéries absurdas no horizonte desfilam diante das rosas do jardim, penso.

15.07.10


22º parágrafo
... escrever é um exercício infindável de musculatura e sorrisos brancos.

22.06.10


21º parágrafo
... devemos ao sistema financeiro a chuva, rigorosamente, pensava eu quando não chovia.

03.06.10


20º parágrafo
... quando sonho não serão os meus braços que estão pensando?

24.05.10



19º parágrafo
... hoje encontrei o silêncio debaixo do travesseiro, onde havia ruídos de ontem.
13.05.10

18º parágrafo
... estava eu no café, procurando entender o mundo, saboreando as dádivas da natureza com a alegria do sol que ora se esconde ora aparece, pensava:
-a Luísa está sem casa, será que a chuva esburacou tanto as telhas que , coitada, deambula agora em algures? isto pensava eu quando escrevi;

" diálogo com uma palavra":

-òh palavra, que dizes tu?

a palavra:
- eu não digo, tu é que dizes!

- se não dizes tu, o que digo eu, palavra?

a palavra:
- tu não dizes nada, porque eu é que sou a palavra!


A olhar para o tampo da mesa fiquei pensando:

vou escrever um livro de poemas, talvez um só poema e dei-lhe um título, " abstracção do poema abstracto",

seria assim :
as vírgulas de pernas para o ar entram no poema como a chuva no terreno, etc etc.

e:
cada vez que um amor se encontra pendurado nas pernas duma abelha, vem o sol em grande algazarra burilar os buracos do vento,
etc etc.

ou:
agora que o espaço se abriu de encontro aos joelhos da montanha que fazer com a alegria que as palavras têm no ventre, etc etc.

quando pensava que tinha encontrado um rumo para o poema, apercebi-me que de há tempos para cá, desde que comi brutamente um pedaço de chocolate preto, uma ligeira agonia subjaz pesando no pensar como se tivesse engolido sal a mais.

enfim, tomei tudo isto por vontade de escrever apenas, arrumei as coisas e vi-me embora.

um grande abraço e até breve.

18.04.10



17º parágrafo
... que cão me mordeu, foi aquele sapato de marca!

09.04.10


16º parágrafo
... em crepúsculos de intimo olhar moram as palavras a nascer

30.03.10


15º parágrafo
... são como fósforos acendendo-se na mente as palavras que nascem involuntárias.
03.03.10

14º parágrafo
... quando penso estou eu dentro do pensamento ou está o pensamento dentro de mim?
10.03.23

13º parágrafo:
... se mexo um braço na viva voz do tempo, construo um saber antigo que a mim me foi dado.
10.02.10

12º parágrafo:
... eu penso o universo, mas pensará o universo em mim?
01.01.21

11º parágrafo:
... com o Sol ao centro e a Terra a entrar em nova elipse saudemos o corpo, a sua casa e as nossas vidas.
01.01.10

10º parágrafo:
... se eu pudesse viver sem palavras lambia os calcanhares e adormecia, penso.
18.12.09

9º parágrafo:
... prosélitos afâs de minúsculas palavras invertem a ordem dos chouriços gordos,
pode ler-se no pensamento de minorias loucas.
12.11.09

8º parágrafo:
... pensando ou não sou sempre mais do que eu mesmo.
07.11.09

7º parágrafo:
... rasgar a pele com uma palavra, - eis o que penso pensando em escrever, se pensasse ser poeta.
04.11.09

6º parágrafo:
... bem cheirosos pensamentos advogando
entre Lisboa e Gorjões em viajem, com conversas de merda falando.
30.10.09

5º parágrafo:
... representação teatral com um só acto, uma só cena, uma só fala e sem actor;
voz fora do palco:

- , aqui só entra o outro!...

Frase repetida em todas as línguas e em todos os idiomas
23.10.09

4º parágrafo:
... entre a matéria e o meu pensar há um vazio, o qual nomeio-o eu de - "o grande pensamento"
15.10.09

3º parágrafo:
... por vezes, é na sombra das palavras que penso.

2º parágrafo:
... pensando bem, nunca pensei nada.

1º parágrafo :
... estou pensando que poderia pensar, mas não penso o que me deixa pensativo.

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publicado às 12:53

palavras e ideias

por vítor, em 28.01.11

 

O grande pintor Degas muitas vezes me contou essa frase de Mallarmé, tão justa e tão simples. Degas às vezes fazia versos, e deixou alguns deliciosos. Mas constantemente encontrava grandes dificuldades nesse trabalho acessório de sua pintura.  (Aliás, era homem de introduzir em qualquer arte a dificuldade possível.). Um dia disse a Mallarmé: “sua profissão é infernal. Não consigo fazer o que quero e, no entanto, estou cheio de idéias…”. E Mallarmé lhe respondeu: “Absolutamente não é com idéias, meu caro Degas, que se fazem os versos. É com palavras.” (VALÉRY, 1991, p. 207-208).

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publicado às 19:37

noites dolorosas

por vítor, em 18.04.09

 

 

Na noite das facas longas todas as palavras serão lançadas. Enquanto as lâminas rasgarem as carnes palpitantes a hipocrisia dará lugar à verdade plana e dolorosa. As palavras doerão mais que as punhaladas raivosas...

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publicado às 22:22

O Conforto das Distâncias

por vítor, em 29.12.08

 

A passagem conforta os que não têm nada

os que procuram

os que nunca encontram.

A passagem é um caminho que reflecte as sombras do passado

enquanto dormem os inúteis sobressaltos.

 

Há gente que precisava de mais vidas para amar

os sinuosos tremores da paixão

as escolhas impossíveis e imateriais

os labirintos claros da impotência que sopra da juventude

difusa, larvar  e narcótica.

 

A passagem une o que respira ilusão.

 

Os sonhos são a realidade por cumprir

quando da solidão nasce a palavra que embriaga

que sorve o conforto incontornável das distâncias.

 

Há gente que precisa de mais vidas para sofrer.

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publicado às 23:45

Blogues e bancas de mercado

por vítor, em 30.05.08

 

Afinal um blogue é como uma banca de frutas e legumes num mercado qualquer. Os clientes são muito diversos e chegam-se por distintas razões. Uns atraídos pelas cores berrantes dos rabanetes, outros pela opulenta chamada das melancias, alguns pela simpatia do vendedor (não me parece o caso nesta banca), um ou outro pela amizade ao "banqueiro" (muitas vezes comprando por obrigação), ainda alguns pela alegria de comprar num lugar castiço ( os tolos da cidade), por acaso (passei ali e achei piada), turistas de ocasião fascinados pela exoticidade dos autóctones, muitos por engano (curiosamente continuam a comprar mesmo sabendo do engano), fascinados pela leveza dos agriões, por identificação com a qualidade e a frescura dos produtos (estes são os mais palermas. Alegretes e realizados com o que lhes impingem), pela sensualidade das peras- abacates e finalmente os que prali encaminham os seus passos, sem perceberem nada de nada de nada, atraídos pelo cheiro dos elementos,  pelas cores dos vegetais e pela lábia incongruente do comerciante.

 

A mercadoria que lanço na imensidão das mentes carentes destina-se, preferencialmente,  aos que não entendem o que lhes vendo. Deste será o reino das minhas palavras!

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publicado às 13:47


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