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Sardinhas Orientais

por vítor, em 02.04.09

 

Ah, tinha-me esquecido! No Mercadinho de Cacela Velha, comprei, para além do livro de Borges (que afinal não foi um negócio assim tão bom...) esta pintura de sardinhas em papel de arroz. O artista parece ter assinado e tudo. Custou-me 5 euros mas valeu a pena. Quem conhecer o artista, que diga qualquer coisa. Pela obra deve ser grande! japonês, chinês, coreano, vietnamita?????

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publicado às 18:51

 

O mundo capitalista está em convulsões. O mundo inteiro. O capitalismo é o modelo económico/ideológico global do planeta e apenas os interstícios da tecelagem escapam à sua voraz heterofagia. Até depressões marginais se ressentem do estertor global: as migalhas do bodo deixam de se precipitar das toalhas bordadas quando os comensais sentem a fartura a esvair-se. A indigência alastra. as poeiras das implosões raramente assentam na base das estruturas. No main stream recorre-se às reservas e os ácidos estomacais não trabalham no vazio.

 

Quando o capitalismo se reergue da grande depressão dos anos 30, o planeta acordou dual. A oriente o comunismo, a ocidente o velho e recauchutado  capitalismo. A rápida entrada na 1º Guerra Global (1939/1945) baralha e volta a dar (e por isso essa crise não poderá funcionar como modelo para a saída da actual) e emerge-se do vazio ideológico da Guerra mais dual e maniqueísta que nunca. Anjos e demónios acantonam-se nos dois lados estanquicizados mudando conforme o ponto desde onde se os observa. A "cortina de ferro" dinamiza, fortalece e cristaliza dois paradigmas que se contendem e alastram pelos campos planetários da não ideologia. A luta é fria no centro mas escalda nas periferias.

 

O capitalismo prospera mas tem medo. Medo da força e medo da ideologia operária. É este último medo que regula os excessos do capitalismo liberal. A ganância, o dinheiro antes do homem e a auto-regulação.

Em meados do séc. XX já só, paradoxalmente, o capitalismo acredita no comunismo. Na sua força moral e filosófica. Os cidadãos do mundo socialista já rejeitaram a modelação do "homem novo". Sobrevivem adaptando-se às arbitrariedades dum paradigma de igualdade medíocre e totalitária. As nomenclaturas já só reproduzem... as nomenclaturas, num bailado escabroso e mortal (curiosamente numa lógica churchiliana de este mundo é uma merda, mas é o menos merda de todos).

Os capitalistas, ainda crentes no comunismo actuam com carapins de lã. Os "direitos dos trabalhadores" irrompem como nunca, em lado nenhum da História. Subsídios de férias, décimos terceiros meses, subsídios de desemprego, baixas por doença pagas, licenças de maternidade, direitos sindicais "avançados", reduções de horário laboral, etc, etc, etc; não são "conquistas dos trabalhadores" (ou não são só) e avanços civilizacionais. São cedências impostas pelo bluff que se instalou a Leste. Cedências ante o medo do modelo moral que poderia levar os "explorados" do ocidente a revoltar-se e a abraçar o paraíso da "sociedade sem classes".

 

Não é por acaso que o modelo económico capitalista solar (ainda só! há 30 anos) era o do Japão. A empresa era uma família, o trabalhador vestia a camisola da sua unidade produtiva e trabalhava nela até à velhice. Patrões, quadros superiores e trabalhadores em geral eram iguais e só se distinguiam pela complementaridade orgânica da produção. O capitalista de chapéu alto (o tio Sam) estava sem glamour. O próprio capitalismo estava sem sex-appeal e não era o capitalista japonês que o tinha (filmes como o 9 semanas e meia só foram possíveis muito depois).

 

Mas entretanto a "terceira vaga" de Tofller varreu o ocidente e alastrou, sem convite, a oriente. As tecnologias da informação e da comunicação (sic)  penetraram por entre as grades da "cortina de ferro" e mostraram aos aparvalhados "cidadãos de leste" um "maravilhoso mundo novo". Parte dele, objectivamente, transportando uma carga considerável de ilusão, engano, propaganda  e pseudo-realidade. Foi este mundo novo, e não o patético Reagan, que estilhaçou cortinas e muros e homogeneizou as partes.

 

Sem o regularizador a Leste o capitalismo iniciou uma cavalgada selvática pelas planícies- sôfregas-de-homens-velhos-à-espera, distribuindo magia e recolhendo dividendos sem fim  para gozo e baba de accionistas e gestores. A desenfreada cavalgada correu maravilhosamente até ao final do século das ideologias, ajudada pelo sustento imponente das novas tecnologias e pelo acordar de mundos distantes e há muito ensimesmados. Este beijo mortal do capitalismo constituiu o seu apogeu e a sua queda. Trouxe para a compita económica global outros contendores onde o capitalismo, aproveitando um húmus cultural favorável e irrepetível, floresceu como cogumelos em estrume de cavalo e provocou o acordar trovejante desse mundo paralelo, o Islão, esse "outro lado" tão distante e tão perto...

 

Estamos numa encruzilhada civilizacional complexa e de difícil desembaraço. Os próximos anos serão excitantes mas, terrivelmente, inseguros e perigosos.

Como irá reagir o ocidente à apropriação oriental do capitalismo? Como irá reagir às inúmeras expressões do renascimento do Islão? Será a guerra (quente) a funcionar como desbloqueador?

 

Quem irá regular quem?

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publicado às 18:58

O Glorioso no Império do Meio

por vítor, em 21.08.08

 

Perante o espanto dos dragões nas terras do sol nascente, O Glorioso, O Grande, O Maior ilumina (como um "lampião" que se transforma no Farol de Alexandria) os céus de Oriente a Ocidente: Nelson Évora, medalha de ouro, no triplo salto; Vanessa Fernandes, medalha de prata, no triatlo e Angel Di Maria, ouro ou prata, no futebol. Maior que o país, O Glorioso consegue mais medalhas do que o próprio país de que é a alma.

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publicado às 15:36

O 25 de Abril e a Coca-Cola

por vítor, em 08.02.08



A confusão e a perplexidade que reina em Portugal nos últimos anos tem a ver com a chegada em força, pela primeira vez, do capitalismo. Puro e duro, instalou-se de forma violenta sem divisar, offshore, terras de Espanha e areias de Portugal. Paradoxalmente, quem lhe escancarou as portas foi o Partido Socialista.

É claro que o tsunami económico que avança do Oriente ajuda a varrer o "estado social" e desespera ainda mais a fragilidade da pessoas. A "globalização" torna os "vasos" comunicantes e as águas assentam sempre nas depressões. Nivela por cima baixando o nível.

Por agora é ainda o ocidente o grande beneficiário da abertura dos mercados a oriente. A coca-cola vende mais na Índia e na China que no resto do mundo, as  tecnologias de ponta continuam ainda a fluir para o sudeste asiático. Os têxteis, brinquedos e componentes electrónicos de pouco valor acrescentado continuam a ser o grosso da exportações dos colossos demográficos que despertam. Mas um dia as coisas vão mudar, já estão a mudar e a uma velocidade vertiginosa. Quando os fluxos monetários se inverterem e o capital começar a reforçar o supra citado tsunami, estejamos certos, o império americano vai entrar em campo: acusando a China de ser uma sangrenta ditadura comunista e de não respeitar os direitos humanos. Utilizando as divisões étnicas como fonte de instabilidade política, social e económica. Surgirão muçulmanos a desestabilizar o formigueiro populacional do sub-continente indiano, entrarão em cena  os cínicos amigos dos tibetanos e outras estratégias que há muito estão estudadas para fazer face ao galopante avanço de tigres e dragões  do Oriente. Amizades e inimizades alterando-se ao sabor das conjunturas. Nada de novo que não tenha já sido visto com Hassans , Ossamas , Noriegas e outros.

Mas voltando a Portugal e ao capitalismo triunfante que por cá irrompe . Acabei agora mesmo de ver e ouvir na televisão um anúncio da coca-cola com a banda sonora de "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, uma das música ícone do 25 de Abril de 74, da revolução dos cravos. No novo Portugal tudo tem um preço. Até a dignidade...

A próxima será o "Grândola  Vila Morena" a acompanhar um video publicitário da Mac Donald`s ?

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publicado às 23:42


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