Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


...

por vítor, em 01.04.25
Eu posso, e passo, a explicar...

A vida não é senão uma dança sem fim do que somos com o que fomos.

O tempo voa no nosso pensamento mas aquieta nas nossas vontades:

nunca chegar a chegar.

Querido amigo! A viagem segue a sua vertigem e irá até onde nós formos. Vamos. Anda!

Nunca os vivos deixarão partir os mortos. A sua vida, a dos que viver deixaram, será, até que a sua, a dos que a viver restaram, único garante de que vivos continuam.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:17

Moisés Espírito Santo Bagagem

por vítor, em 01.04.25
Quando chegou à nossa primeira aula, na velhinha Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova, ainda a confundir-se com o quartel Trem Auto, no início dos anos 80, com os olhos muito vivos e rolantes, pousados no teto, de quando em vez olhando-nos rasando o alto do cocuruto; os seus esparsos cabelos revoltos, pensei tratar-se de um maquinista de comboio. Não, era o nosso professor de Sociologia, e Sociologia das Religiões, Moisés Espírito Santo Bagagem. Rapidamente se tornou um professor muito querido dos alunos e um mestre. Levava-os em trabalho de campo consigo (célebre ficou a ida à sua aldeia para os lados da Batalha) e discutia com eles no recreio e no bar a religião popular como se de um assunto da maior atualidade se tratasse. A sua humildade talvez lhe viesse do seu peculiar percurso académico: começou como carregador de material necessário ao trabalho de campo de sociólogos belgas, onde se tinha refugiado, e acabou por se licenciar e doutorar na disciplina.

Homem da ruralidade, tinha um sentido de humor fino, e às vezes corrosivo, e às vezes incompreendido, como o provam as dificuldades que parte dos seu pares lhe foi colocando no caminho da sua evolução na carreira.

Morreu hoje um mestre e um amigo. MESB (1934-2025)

PS. Esta página parece ter-se tornado, ultimamente, um necrotério, mas parece ser o destino das impressões de quem já tem uma certa idade.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:16

Matrix

por vítor, em 01.04.25

O nosso 4.o Guardião da Quinta passou hoje para uma nova dimensão. O bravo e, ao mesmo tempo, dócil cão de quinta, que alegrou a família durante quase duas décadas, não resistiu a uma já longa velhice. Foi asssistido na hora da partida pelo seu veterinário dedicado e o seu dono mais velho. Este último, destroçado.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:07

para quê morrer?

por vítor, em 01.04.25







Se há vida para lá da morte, para quê morrer? A degradação final e a morte terão, assim, ou de outra forma qualquer, alguma finalidade? Se houve premeditação, só poderemos classificá-la como violência gratuita.













 

 

 


 



 




Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 19:00

O novo não tem chagas

por vítor, em 01.04.25
Quando me disseram que tinhas ressuscitado, compreensivelmente, e embora o desejasse ardentemente, tende piedade, não acreditei e disse-vos que só o creria quando introduzisse um dedo numa das Suas chagas.

Quando me disseram que passeavas pelas ruas de Jerusalém, mais vivo do que os muitos que vivos te seguiam, aproximei-me a medo e disseste-me:

Anda, Tomé, vem ver O que ressuscitou, O que voltou da morte. Que deixou a frieza da pedra para respirar o ar puro da Palestina. Que deslocou a pedra que O cobria com a força do desejo do Pai.

Caminhei para perto do homem, do amigo, que acompanhara pelas pedras e poeiras dos caminhos da Galileia e furei pelo meio da multidão ensandecida. Que falavas como nos conduzias antes, e parecias O que tinhas sido, não haveria dúvida nenhuma, mas das cinco chagas, de onde tinha visto escorrer da cruz o escarlate e morno sangue, nada vislumbrei. Na cabeça luzia uma fronte cobreada, bela e invicta. Do aro de espinhos nada restava que me aprouvesse observar. Cheguei-me mais perto ainda, e acariciei o teu peito nu e limpo. Olhei-Te demoradamente o corpo jovial e belo. Nada vi que me pudesse fazer crer no que me tinham dito. E fui-me dali chorando incréu e desolado. Só.

Quem contraria as leis da vida e da morte, vem nascido de novo como se de mãe virgem tivesse sido anunciado.

Cativa, 8.4.24

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:54

Da morte

por vítor, em 03.06.24

Pode ser uma imagem de gato

Ao final da tarde, a nossa gata Betty, morreu tranquilamente (eutanasiada) nas minhas mãos, sob uma cascata de lágrimas e o cuidado irrepreensível do Dr. Juan Díaz.
Depois de mais de uma década e meia de felicidade, numa quinta inteira só para si e numa casa que a adorava e mimava sem limites, deixa um imenso vazio e uma dor imensa na família.
 
 
 
 
 
 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:37

Rio da Morte

por vítor, em 09.05.23

O pus que escorre desta ferida aberta inicia o rio. Onde começa a dor de me tornar velho. Sim, na ferida aberta, a nascente deste rio sem esperança, a viagem cansada por terras estranhas, traga a planície lenta em meandros de sangue azul cobalto desenhando veias e artérias rompendo a pele. O mar imenso da morte espera a corrente que o procura. Tudo desliza para o mar sem fim. Tudo se despenha na renúncia de continuar. É desespero e sapiência a torrente de lama que arrasta os últimos a sorrir. A cobarde morte esconde o trabalho intenso dos vermes devorando a carne devoluta. A podridão da vida.



Oceano emético de pus iridiscente, lavoura sanguinolenta castrando os antigos temores a deus. Nebulosa opaca ardendo no fim dos dias, atraindo os ossos dos defuntos ao abismo das árvores petrificadas, onde o vento range nas folhas tatuadas pelo verbo insano, verborreia inútil no clamor do silêncio. A morte sempre vence as desvalidas carcaças nauseabundas, envergando os paramentos dos profetas fraudulentos como são todos os videntes encartados.

Quando o rio se perde na lagoa que engole a vida, os patrões da noite sem memória atingem orgasmos monumentais roçando o renascimento das almas eméritas. São portas sólidas as que te oferecem para arrombar.

16/17.2.2023

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 01:07

...

por vítor, em 09.05.23

Vivemos tempos confusos, difíceis e cruéis, em que tudo parece não ter sentido, tempos como são todos os tempos. Só a morte nos livra de todos os tempos! A morte e alguma embriaguez enquanto vivos.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 00:56

La mort de mamam

por vítor, em 15.03.23

je suis très triste , je pense a vous souvent , plus encore aujourd'hui car une part de mon coeur est brisé.

Luís de Brito

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:51

Rio da Morte

por vítor, em 15.03.23

 



O pus que escorre desta ferida aberta inicia o rio. Onde começa a dor de me tornar velho. Sim, na ferida aberta, a nascente deste rio sem esperança, a viagem cansada por terras estranhas, traga a planície lenta em meandros de sangue azul cobalto desenhando veias e artérias rompendo a pele. O mar imenso da morte espera a corrente que o procura. Tudo desliza para o mar sem fim. Tudo se despenha na renúncia de continuar. É desespero e sapiência a torrente de lama que arrasta os últimos a sorrir. A cobarde morte esconde o trabalho intenso dos vermes devorando a carne devoluta. A podridão da vida.

Oceano emético de pus iridiscente, lavoura sanguinolenta castrando os antigos temores a deus. Nebulosa opaca ardendo no fim dos dias, atraindo os ossos dos defuntos ao abismo das árvores petrificadas, onde o vento range nas folhas tatuadas pelo verbo insano, verborreia inútil no clamor do silêncio. A morte sempre vence as desvalidas carcaças nauseabundas, envergando os paramentos dos profetas fraudulentos como são todos os videntes encartados.

Quando o rio se perde na lagoa que engole a vida, os patrões da noite sem memória atingem orgasmos monumentais roçando o renascimento das almas eméritas. São portas sólidas as que te oferecem para arrombar.

16/17.2.2023

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:41


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2006
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D