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Da morte

por vítor, em 03.06.24

Pode ser uma imagem de gato

Ao final da tarde, a nossa gata Betty, morreu tranquilamente (eutanasiada) nas minhas mãos, sob uma cascata de lágrimas e o cuidado irrepreensível do Dr. Juan Díaz.
Depois de mais de uma década e meia de felicidade, numa quinta inteira só para si e numa casa que a adorava e mimava sem limites, deixa um imenso vazio e uma dor imensa na família.
 
 
 
 
 
 

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publicado às 17:37

Rio da Morte

por vítor, em 09.05.23

O pus que escorre desta ferida aberta inicia o rio. Onde começa a dor de me tornar velho. Sim, na ferida aberta, a nascente deste rio sem esperança, a viagem cansada por terras estranhas, traga a planície lenta em meandros de sangue azul cobalto desenhando veias e artérias rompendo a pele. O mar imenso da morte espera a corrente que o procura. Tudo desliza para o mar sem fim. Tudo se despenha na renúncia de continuar. É desespero e sapiência a torrente de lama que arrasta os últimos a sorrir. A cobarde morte esconde o trabalho intenso dos vermes devorando a carne devoluta. A podridão da vida.



Oceano emético de pus iridiscente, lavoura sanguinolenta castrando os antigos temores a deus. Nebulosa opaca ardendo no fim dos dias, atraindo os ossos dos defuntos ao abismo das árvores petrificadas, onde o vento range nas folhas tatuadas pelo verbo insano, verborreia inútil no clamor do silêncio. A morte sempre vence as desvalidas carcaças nauseabundas, envergando os paramentos dos profetas fraudulentos como são todos os videntes encartados.

Quando o rio se perde na lagoa que engole a vida, os patrões da noite sem memória atingem orgasmos monumentais roçando o renascimento das almas eméritas. São portas sólidas as que te oferecem para arrombar.

16/17.2.2023

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publicado às 01:07

...

por vítor, em 09.05.23

Vivemos tempos confusos, difíceis e cruéis, em que tudo parece não ter sentido, tempos como são todos os tempos. Só a morte nos livra de todos os tempos! A morte e alguma embriaguez enquanto vivos.

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publicado às 00:56

La mort de mamam

por vítor, em 15.03.23

je suis très triste , je pense a vous souvent , plus encore aujourd'hui car une part de mon coeur est brisé.

Luís de Brito

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publicado às 15:51

Rio da Morte

por vítor, em 15.03.23

 



O pus que escorre desta ferida aberta inicia o rio. Onde começa a dor de me tornar velho. Sim, na ferida aberta, a nascente deste rio sem esperança, a viagem cansada por terras estranhas, traga a planície lenta em meandros de sangue azul cobalto desenhando veias e artérias rompendo a pele. O mar imenso da morte espera a corrente que o procura. Tudo desliza para o mar sem fim. Tudo se despenha na renúncia de continuar. É desespero e sapiência a torrente de lama que arrasta os últimos a sorrir. A cobarde morte esconde o trabalho intenso dos vermes devorando a carne devoluta. A podridão da vida.

Oceano emético de pus iridiscente, lavoura sanguinolenta castrando os antigos temores a deus. Nebulosa opaca ardendo no fim dos dias, atraindo os ossos dos defuntos ao abismo das árvores petrificadas, onde o vento range nas folhas tatuadas pelo verbo insano, verborreia inútil no clamor do silêncio. A morte sempre vence as desvalidas carcaças nauseabundas, envergando os paramentos dos profetas fraudulentos como são todos os videntes encartados.

Quando o rio se perde na lagoa que engole a vida, os patrões da noite sem memória atingem orgasmos monumentais roçando o renascimento das almas eméritas. São portas sólidas as que te oferecem para arrombar.

16/17.2.2023

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publicado às 15:41

Um ser estranho

por vítor, em 04.11.22

Nada há de mais medonho do que a imortalidade. O ser para sempre. Sem obstáculos nunca haveria sombras. Eras, enquanto te conheci, um ser estranho: procuravas na obscuridade desejos insondáveis.

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publicado às 13:28


Ali era a casa da tua bisavó. Aquela de riscas azuis e caiada de branco.



Esta tua bisavó, que ali vivia, tinha três filhas: lindas e cobiçadas.

Eram três as irmãs: a Belinda, a mais velha; a Amélia,

A tua bisavó; e a Josefina. A Josefina tinha

Menos dezoitos anos do que a Amélia, que tinha

menos um que a Belinda. A tua bisavó Amélia era a mãe da tua avó Amélia que era

Mãe do teu pai. A tua avó Amélia foi a pessoa

Que o teu pai mais amou: um amor que tudo superava (e eu amuado).

Foi nesta casa que eu conheci o teu pai para o passar a amar

Até ao final dos tempos. A tua bisavó Amélia era minha prima.

Prima segunda. Primeira, era do meu pai. O teu avô João de Deus.

Que no teu assento de nascimento, na conservatória, está como João de Jesus.

(tenho que lá ir mudar o erro – diz-me a minha mãe desde

que a conheço e eu sei, sempre soube, nunca irá)

Quer isto dizer, e tu sabe-lo bem, que o teu pai era meu primo:

Meu primo segundo colateral. A tua bisavó Amélia que

Era minha prima segunda, via o meu pai, que era seu primo, como mais um irmão.

Ou seja, os meus bisavós paternos eram os mesmos que os bisavós

Maternos do teu pai. A esta casa vim, com a minha prima Célia, visitar a nossa prima

A mando do meu pai que era muito dado ao culto da família.

Viemos de bicicleta desde Santa Rita até às Cabanas. E o teu pai estava de visita à avó.

Afogueada com a longa viagem a pedalar, e com a visão de tal criatura,

perdi, definitivamente, o fôlego. Para sempre!

Depois, ele escreveu-me uma carta e…foi o que se sabe. Tenho a carta guardada

Para ta deixar. Não sei se a tinta do tempo ta deixará entender.

A tua bisavó Amélia, que já era velha por essa altura, era muito engraçada e bondosa.

Estava sempre a queixar-se da perna. Não sei se era só de uma delas,

das duas ou de uma e de outra, alternadamente. E nós, os jovens ríamo-nos a bom rir.

Ela… ria-se também: “Ai a minha perna, ai a minha perna que não me deixa fazer nada!”

As três irmãs eram muito diferentes: a Belinda muito séria e complicada, a Amélia alegre

E bondosa, a Josefina, que tinha menos dezoito aos do que as outras,

mentirosa e infantil. Vá lá que casou com o Ti Evaristo

Que era um bom homem. Foi a irmã Amélia que a amparou nos muitos momentos de aflição.

Dava-lhe dinheiro para ir à praça comprar carne para as duas ao talho do Sr. Feijão,

um bom amigo dos teus avós, e ela ficava a dever e com o dinheiro. Um dia, o Sr. Feijão,

envergonhado, lá contou à tua avó o que se passava. Acho que foi nesse dia que houve a

grande cheia em Tavira. A de 1968. Nesse dia, talvez por causa da arrelia com a carne, a tua

avó caiu na casa do teu tio Joaquim e tiveram que ir os bombeiros de barco buscá-la. O teu tio

morava mesmo nas margens do Rio Séqua. Ninguém sabia onde começava e acabava o rio.

Passavam garrafas de gás. Porcos, galinhas, laranjas e, há quem diga, e jure a pés

Juntos, que vira passar, a esbracejar, homens e mulheres. Até, asseguram, algumas vacas

tristes com a sua sorte. As coisas até correram bem e, chegados a margem segura, lá foi a tua

avó até ao hospital. Era só um braço partido e, depois de bem engessada pelo Dr. Jorge

Correia, ainda apanhou camioneta da carreira para Vila Real e visitou, antes de eu a levar no

Velho Anglia IA-32-12 à fazenda da Cativa, o filho Fernando, como o fazia todas as quintas.

Esses eram dias felizes para o teu irmão e para ti: nunca faltavam

as tabletes Regina compradas na venda do Velho João. O teu pai era o seu menino querido.

Foi-o sempre até ao esquecimento. E, embora o teu nome tivesse sido o último que a sua boca

Pronunciou, foi o seu Fernando o amor da sua vida. O menino teve uma trágica paralisia

Infantil e, a partir dali, viveram um em função do outro. Um para o outro! (só por isso eu

Compreendia essa preferência pela mãe. Compreendia, mas não aceitava. Mesmo depois de

Me ter arrepiado e ter sofrido com o seu choro descontrolado na sua morte…)

A última vez que a tua avó Adelina me bateu, e foram bofetadas cruéis, foi por causa de uma

Tia minha. Dizia ela que o meu namorado não era o melhor para mim. Que nunca me

daria segurança e sustento com o problema da perna. Nem que o tenha que transportar às

costas o resto da minha vida, respondi-lhe eu de forma agreste. A tua avó esbofeteou-me por

causa desta raiva libertada. Foi a última vez. E a primeira. Mas deixou-me casar com o teu pai.

O meu pai morreu dentro da nora que regava a horta. Quando foi pôr o motor

A trabalhar no fundo da garganta vertical. Na plataforma de cimento sobre as águas.

Tinha-o feito centenas de vezes. Neste dia, os fumos subiram mais depressa do que ele pela

escada de corda de aço. Pelo túnel de luz e escuridão.

Caiu inanimado sobre a plataforma de cimento. Se tivesse caído na água talvez tivesse

acordado e sobrevivido. Quando telefonei para a escola para te comunicar e mandar vir para

casa, foi o senhor Coito, o chefe dos contínuos, que me atendeu o telefone. Estavas a dar saltos mortais, vê bem a

ironia, na caixa de areia, por debaixo do depósito da água. No velório choraste

convulsivamente quando te mandei beijar o teu avô para o deixar ir. As velhas consoladas com

o menino sofredor. Disseste-me, mais tarde, que só tinhas chorado porque te obriguei a beijar

um cadáver. E que ainda hoje sentes o frio da sua careca nos lábios.

Nunca conheci o meu pai com cabelo. Como sabes, tive três irmãos que morreram

precocemente. A minha família foi destroçada pela morte:

um maninho tinha apenas uma semana e eu fui avisar o meu pai, o seu pai, o teu avô, o primo

do teu pai, a quem mudaram o apelido no papel, atravessando

Barrocais e arrifes até onde o mestre Deus construía uma casa. Voltámos a casa tão tristes

Como se fôssemos fantasmas no paraíso da loucura… por barrocais e arrifes. Depois, o meu

Irmão mais velho deixou-nos quando veio da tropa e a minha irmã foi-se para lá do tudo e do

Nada e deixou-nos a pequenita, que se fez grande e mulher, a tua prima Antonieta. Foi a tua

avó Adelina e eu que a criámos. A menina tinha uma sombrinha, que a acompanhava para

todo o lado e que só ela via. Existia só para ela. As pessoas abanavam a cabeça com tristeza (eu, que

cheguei muito mais tarde, adorava a sombrinha e até a usava, às escondidas, quando chovia)

Nunca pensei que chegaria a esta idade. Sempre imaginei que também soçobraria à vida cedo,

sem te vir a conhecer. Talvez por isso, terei lutado tanto pela família. Quando casei, não tinha

um tostão. Tirando alguns presentes práticos, a minha tia, a tia que nunca gostou de mim,

e por isso não a nomeio, deu-me um garnisé e uma jarra – e o garnisé, nessa mesma noite, a

noite de núpcias, desvairado com a mudança, voou contra o pechisbeque e atirou-o ao chão.

Em cacos. Fui pedir dois escudos à minha mãe. Que não tinha. Em cacos! Prometi nunca mais pedir dinheiro a ninguém. E cumpri. Até hoje.

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publicado às 17:08

Façam-se trevas por agora

por vítor, em 03.02.21

IMG_20201027_174515.jpg

Talvez a morte nos traga a paz.

Talvez o que parece calma e pousio

Seja apenas uma tempestade passageira

Não sentida pelos outros.

- Eu sou um cadáver abandonado e triste,

Poderia ser o que depois da vida

Traz severidade no trato e frigidez

ao desprezível que pode emergir da sabedoria.

- Não me abandonem, que sou triste e renuncio à catástrofe

Dos dias de antanho, sinto ainda a alma

Presa aos ganchos aguçados da carne,

Do corpo devoluto, o palpitar insuportável

Que se anuncia sem clamor. Levem-me a ver o mar,

A esquecer o olhar sem brilho, sem vida

Da horizontalidade sem fim. Não me abandonem

À cova do devir. Eu serei a vida que se transforma

E ilumina as trevas.

 

Monte Gordo, 18/1/2021 (segundo ano da peste)

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publicado às 13:05

Depois da batalha

por vítor, em 23.04.18

 

No campo devastado os cadáveres apodrecem ao Sol. Foi decidido pelo rei 
Que só os necrófagos poderiam tocar nos corpos em sangue. Tens o teu irmão entre os mortos
Que incham ao sol clemente de agosto. Os gemidos varrem a planície da batalha e ninguém
Ousa aproximar-se. Ninguém, sequer, ousa aproximar o olhar.
Tudo apodrece naquela tarde resplandecente de sangue e morte, de heróis mortos, heróis moribundos e mortos. Ninguém festeja nada que a dor se ergue como montanha de medo. Como sabre esquartejando a noite que se aproxima. A noite que tudo esconde e tudo revela: já é noite quando te levantas do catre fedendo a dor; fora da tenda uma Lua febril chicoteia, ao longe, o campo de batalha; caminhas como se fosses um vento sem destino que não a morte; procuras por entre os cadáveres de cavalos e homens – um equino uivante escoiceia o ar carregado de pó e sangue, escoiceia e bufa -; um homem com uma fratura exposta no coração – cedendo perante o abismo de fogo e fuligem escaldante, fundido à espada que o não protegeu – agarra-te a perna tremente. Continuas evitando o ferro e os corpos jazentes, cegaste e nada vês. Só o amor te conduz e pensas-te como criança, os teus pais, os nossos pais e nós. Crianças como todas as outras. Só os adultos têm sonhos para as crianças. As crianças só querem viver. E viver é brincar. Sempre. Com tudo e com nada. E é por isso que não tens como deixar de desobedecer ao teu rei.
Quando te aproximas do teu sangue frio, parado nas artérias e veias que também são tuas, um suor gelado escorre-te do corpo. Os olhos fitam os olhos. Os teus brilhando à Lua fitando o fim. Os meus afogados em lágrimas por tudo o que fomos e ainda seremos. Afogamos em dor. A dor de antanho e a de agora. A dor que transportarei para sempre como para sempre te arrastarei para longe onde não te sintas abandonado.
Era já tarde na noite de todas as decisões, e o rei dormia agitado. Volteava e gritava na noite única e infinita. 
A sombra de um homem carregando o cadáver ainda morno de um irmão escorrendo sangue atravessou o campo de batalha, pisando as almas que se libertavam das armaduras moribundas e tropeçando nos gritos dos cadáveres abandonados. Carregou-o até ser dia e, depois de o ter deixado em paz, voltou para o seu rei.
O dia seguinte seria de festa e júbilo.

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publicado às 12:00

O Zé Alqueva é o melhor pedreiro que conheço. As obras cá da quinta são todas feitas por ele. Há uns anos, desenhei uma casa e apresentei-lha para a construirmos. É a belíssima casa de turismo rural que temos aqui na Cativa. Com uns reparos do mestre, lá foi, aos poucos, nascendo uma casa de habitação onde antes era o armazém agrícola do meu avô. Construímos é uma forma de dizer: construiu-a o Zé, que eu tenho o meu tempo ocupado a trabalhar para as coisas da mercearia. O mestre Alqueva é um perfecionista. Usa os materiais tradicionais como ninguém e gosta do que faz. Às vezes irritava-se com as minhas sugestões patéticas ou com os materiais que eu arranjava para tornar a casa (achava eu) mais bonita. Curiosamente, e para meu espanto, não levantou objeções a chaminé da lareira que desenhei e que se ergue ao céu. Já com os azulejos da cozinha o homem atirou-se ao ar: cada um é uma peça única no tamanho, na espessura e na textura, o que acarretava um trabalho brutal e moroso de colocação. Um dia, cheguei a casa e encontrei-o a chorar convulsivamente sem conseguir pronunciar uma palavra. Pensei que lhe tivesse morrido um filho, a mulher, o pai ou a mãe, mesmo sem saber se os tinha. Quando, passado um bom bocado, conseguiu balbuciar coisa que se entendesse, disse-me, aos repelões, que tinha morto a Perdida. Atropelou-a quando fazia marcha atrás com o seu pequeno camião. A Perdida era uma cadela. Como o próprio nome revela, apareceu, sem se saber de onde, na Quinta e de cá mais não saiu. Afeiçoámo-nos a ela e, mesmo já tendo um cão (temos sempre um cão, às vezes dois, mas sempre machos pelo que a Perdida seria uma exceção na linhagem dos guardadores cá do sítio), ficámos com ela. O mestre Alqueva era o que mais tempo passava com ela. Os moradores da casa e donos da aparecida saíam pela madrugada e só regressavam pelo final da tarde. A hora do almoço era o grande momento de convívio. Comiam juntos e partilhavam mesmo as refeições. No final davam um passeio entre as laranjeiras. Homem prático, em lágrimas, pegou no cadáver a esvair-se em sangue, colocou-a na caixa do camião e enfiou-a num contentor do lixo. Depois da morte tudo é lixo, disse-me, filosoficamente, ante o meu desagrado com o desfecho. Eu, um sentimental e protetor da saúde pública, costumo dar-lhes (aos meus gatos, cães e galinhas) um funeral mais condigno. Abro uma cova à enxadada, deposito o amigo docemente no fundo e cubro-o com a terna terra da Quinta. Vem este longo confuso texto a propósito de uma certa resposta a uma certa e determinada, e inconveniente, questão que um dia fiz ao meu-mestre-de-obras. Zé!, porque é que não arranjas uma boa equipa e, com a tua arte e sabedoria, não te pões a ganhar dinheiro a sério construindo casas e não te deixas de biscates para a vizinhança? Respondeu-me assertivo e sintético. Eu sou um homem estranho! Nunca mais falámos no assunto e regressámos aos interessantes temas de antanho: mulheres boas e futebol. A supra citada e certeira resposta a uma, também referida, questão inconveniente, deveria ser a deixa às constantes, e seguramente inconvenientes, questões dos meus amigos leitores; e refiro leitores, porque a maior parte dos meus amigos nem lê nem sabe que eu escrevo; que já navegaram nas minhas palavras. Então, quando é que publicas essas escrituras ocultas? Quando é que te podemos arrumar na estante? Se não o faço é porque achariam a resposta um contra senso. Não é o escritor um gajo estranho?

PS: O Zé Alqueva tem uma escrita impressionante, única e idiossincrática, como se quer para quaisquer escritores. Nos papéis que me entregava à sexta-feira para justificar o pagamento, chegava a dar três erros ortográfico na mesma palavra. Por exemplo: “sementu” em vez de cimento ou “cervisu” em vez de serviço. E o que é que isso interessa? Não reparou o escriba das presentes palavras que num poema já blogado e facebucado vinham três, digo três, arreliadoras burradas. Já agora, para o envergonhar, aqui vão elas: embriaguês, perconceito e, vá lá, equilibrio ( fosga-se, o que tive de lutar contra o corretor para as escrever assim). Viva o erro ortográfico, ele representa para a escrita o que o nu representa para a pintura (só para chatear, estive quase a pôr assento, digo acento, agudo no nu).

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publicado às 21:45


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