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Façam-se trevas por agora

por vítor, em 03.02.21

IMG_20201027_174515.jpg

Talvez a morte nos traga a paz.

Talvez o que parece calma e pousio

Seja apenas uma tempestade passageira

Não sentida pelos outros.

- Eu sou um cadáver abandonado e triste,

Poderia ser o que depois da vida

Traz severidade no trato e frigidez

ao desprezível que pode emergir da sabedoria.

- Não me abandonem, que sou triste e renuncio à catástrofe

Dos dias de antanho, sinto ainda a alma

Presa aos ganchos aguçados da carne,

Do corpo devoluto, o palpitar insuportável

Que se anuncia sem clamor. Levem-me a ver o mar,

A esquecer o olhar sem brilho, sem vida

Da horizontalidade sem fim. Não me abandonem

À cova do devir. Eu serei a vida que se transforma

E ilumina as trevas.

 

Monte Gordo, 18/1/2021 (segundo ano da peste)

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publicado às 13:05

Nos olhos do tubarão

por vítor, em 08.06.20

Retirei os olhos e coloquei-os
Sobre o parapeito da tua janela.
Com o corpo cambaleando, cego,
Entrei pelo mar adentro e
Nadei até perder o pé. Do
Parapeito da janela avistava-se
Um ponto boiando no azul
De chumbo, na boca hiante entre
O céu e o mar.
Quando abriste a janela e
Viste os meus olhos voltados
Ao mar, vimos os dois, da
Janela do teu quarto, um
Tubarão avançando ao meu
Encontro. Sem olhos, o meu corpo nada via. E nadava.
E o grito arrepiante que vibrou no
Ar da tarde que se iniciava
Nunca haveria de chegar ao
Nadador cego que planava nas
Profundezas de si mesmo. Fizera sim,
Tombar os meus olhos na
Areia morna da tarde de outono.
Foi então que a cena que a
Tarde geria se transformou bruscamente
Na peripécia estranha que os
Nossos olhos presenciaram:
O tubarão rodopiou três vezes
No ar que cobria a serenidade
Das águas e apontou
O nariz de lixa às areias sonolentas
Da praia, Chegado ao borbulhar da
Espuma das ondas, aspirou intensamente
O ar que cobria a praia e os meus olhos rolaram suavemente
Na direção da garganta profunda do seláquio.
A menina de tranças e peitos
Inchados que atravessava a praia
Numa corrida desenfreada chegou
Tarde e já não viu o animal
Que os olhos tinha engolido.
Eu também não o vejo, mas vislumbro o nada
Porque os meus olhos estão dentro do tubarão.
A escuridão que me rodeia afasta-me de ti e o mar é imenso.
Os peixes trarão o nosso estranho passado.

Monte Gordo – 8/6/2017

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publicado às 13:41

Praga de Monte Gordo

por vítor, em 03.10.07


Havia-te dar uma dor tam grande tam grande,  que quanto mais corresses mai  te doesse e quando parasses arrebentasses!

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publicado às 23:08

A Respiração dos Pássaros

por vítor, em 03.09.07
Longas filas no
 desespero da
palavra insegura e rara do
combustível hipocêntrico na
equação que implode na
respiração dos pássaros

Longas filas na
noite crua no
substrato silencioso e oco das
substâncias prenhes da
rebentação patética e orgástica das         ondas do
cutelo suspenso separando as carnes

Longas filas de cadáveres mutilados aspergindo
órgãos e membros na
erecta estrada que nos separa.


PS: Poema internacional. Uma parte feita em Ayamonte ( na fila para a gasolina daí: longas filas e o combustível lá se vai a poesia da coisa) e a outra em Monte Gordo no café. Também criado no dia de regresso ao trabalho. Terá alguma coisa a ver?

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publicado às 12:22


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