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queria acompanhar os melros ao cair da tarde,
sentar-me nos torrões vermelhos do poente e respirar
o canto suave das aves negras. seguir os passos de veludo
da minha gata aproximando-se por entre as hastes de funcho
penduradas nos caminhos que levam às penugens negras da noite. os grilos preparam-se para invadir o ar húmido e quente
das laranjeiras acabadas de regar. não há melhor hora nos dias
que teimam em não passar do que as do lusco-fusco das tardes
que tombam nas noites mornas de verão, arrastando na sombra espessa os figos lampos inchando o sexo que ressuscita no céu
ardente na serra a noroeste. Os últimos suspiros da luz surpreendem a longa jornada convidando à reflexão os amantes inquietos. Os amantes que se movimentam nas levadas frescas bordejando os caminhos onde as pedras soltas conduzem os passos dos corpos ao silêncio que soçobra em galopes de cavalos inúteis celebrando o solstício.
Regresso aos melros de antanho e converto-me ao silêncio que reverbera no fim da tarde calmosa que nos abandona.
Cativa 22/6/15
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