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Podes Sempre Voltar Atrás

por vítor, em 03.06.24

 



Se me dissessem que a minha primeira casa seria uma gaiola dourada de pássaro canoro, o resto do meu dia seria passado a roer as grades dessa tão bela e cómoda casa. Sendo expectável que o aço resistiria aos meus dentes, nada mais aceitaria que se comesse, de forma a me tornar tão magro que pudesse atravessar o vazio das barras metálicas. Os pilares do que em mim se erguia! E se, mesmo assim, prevalecesse o frio da prisão imaginada, e se ao meu corpo escanzelado não fosse permitida a ausência do espaço a que, sem ter consciência do poder da música residencial, me acomodara, ousaria então a escapatória restante e final: montaria o cavalo selvagem da imaginação, sulcando a galope por entre vagas doutrinárias e sereias compreensivas. Quando a aspereza do ar, saturado de ameaças e alegrias, me fizesse tombar do equino, seguiria, então, o novo caminho. Nada do que vira antes me rodeava os passos. O espanto comovia-me e chorava. Ria, até. As bermas flamejantes do sonho que empreendera conduziam-me eufórico, ataráxico e vazio, bebendo tudo o que de belo a pradaria sem fim me oferecia. O que em mim olhava os passos de antanho, contemplando os dias sombrios da eternidade acumulada nos ossos dos transeuntes, apenas observava o pássaro doente na gaiola de fogo e sangue. A canção escapava-se no crepúsculo do entardecer e as asas da ave rocegavam o pântano fumegante. No desespero da dor, voltaria atrás. A liberdade amaldiçoou os meus dias e juntei-me a quem das trevas poderia criar luz.

Um pássaro que finge poder voar no vento cansado!

 

Cativa, 21/2/2024   in, Espúria

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publicado às 17:29

La liberté du Chien

por vítor, em 09.05.23






Enquanto passeio o meu cão, vamos sempre falando em francês. É um hábito que temos desde há muito: eu em voz alta, deliciando os transeuntes que connosco se cruzam (coitado, nem animal o salva); ele sem emitir som algum: parle avec les yeux. A vida dos cães não é muito diferente da dos homens: cheirar merda nos caminhos, o cu dos seus semelhantes e mijar por todo o lado marcando território. Até uma trela nos conduz pelos destinos que trilhamos. Quando cheiramos um osso, somos capazes de esgravatar a terra e desenterrá-lo mesmo a grandes profundidades. A terra e as pedras esgravatadas atiradas para cima dos outros, cobrindo de pó as superfícies. Sujando quem se atravessa. Viens! Ne me quittes pas! O meu cão é teimoso como uma pedra. É quando tenho pressa que ele mais se aprimora na sua atividade arqueológica. Chega mesmo à arte da espeleologia. Se lhe desse tempo chegava à Nova Zelândia. Às vezes, tenho que ser bruto e puxo-lhe a trela com força. Esganando-o. Tu me emmerde, chien! Olha para mim com os seus olhos tristes de incompreensão e faço-lhe umas festa como que a pedir desculpa. Mon ami. Escusez moi! Quando era novo, o canídeo, andava à solta pela quinta e pelos campos em redor. Era feliz! E eu também: porque o via feliz e porque não tinha que o passear pela trela. Só que, como seria de esperar para um humano medianamente inteligente, cão à solta igual a problemas à solta. O malandro começou a frequentar quintas vizinhas com galinhas livres e a trazê-las para casa. Quer dizer, a trazer as suas carcaças. Um dia a minha mulher tropeçou numa metade de galinha à porta de casa. Partiu os dois dentes da frente do maxilar superior e a brincadeira custou-nos para cima de quinhentos euros.Outra vez apareceu-me a GNR em casa com uma queixa de um vizinho que tinha sido perseguido pelo Matrix na sua zundhapp. E, o que determinou a sua vida futura, foi a cena bíblica com que me deparei um dia quando cheguei a casa depois de um duro dia de trabalho: uma mulher gorda, enorme, de grande chapéu de palha, esperava-me com uma galinha gigante pendurada numa mão, enquanto com a outra geria os saltos raivosos do animal, com um valente cajado sem moca. Lá acalmei o cão, arretez toi, tais toi!, e a mulher com uma nota de 20 euros. Era galinha do campo e já estava encomendada na cidade. Ainda ponderei pedir a demonstração da prova do crime, mas, conhecendo bem o criminoso, achei por bem não o fazer. Conflitos com vizinhos são o pior dos infernos da vida no campo. O próprio homem da mulher da galinha, disse-mo um outro vizinho, já tinha ameaçado dar "um tiro no cão e outro no dono". Uma tarde, já bem tarde, depois de desaparecido por três dias, o pobre animal, chegou a casa, desorientado e em pânico, com uma corda atada ao rabo com meia dúzia de latas dependuradas. Tive que tomar decisões drásticas e, quanto a mim, acertadas: criminoso em prisão preventiva, de factum perpétua, no quintal, e longos passeios pela quinta com a caçadeira do meu avô ao ombro. Não disparava, a dita, um tiro há mais de 50 anos, mas isso só eu o sabia. O presidiário era contemplado com dois passeios diários pela trela. Exigia-os quando chegava a hora e parecia tão feliz quando passávamos a portada retentora que me parecia mais feliz com esta nova situação do que quando era totalmente livre. A liberdade a conta gotas torna-se num vício definitivo. Continuámos, é claro, a conversar na língua de monsieur de La Palice.












 

 

 


 



 




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publicado às 00:55

todos os sonhos são possíveis...

por vítor, em 09.10.12


Estou cá com uma fezada para o nobel da literatura este ano...

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publicado às 22:09

sempre caminharei na tua claridade

por vítor, em 25.04.10

 

 

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publicado às 02:24

Madiba

por vítor, em 11.02.10

 

Um ser humano excecional. Um político extraordinário.

 

Foi libertado há 20 anos, tendo sempre sido livre.

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publicado às 19:41

25 de Abril, para sempre!

por vítor, em 25.04.09

Este foi o jornal onde  aprendi a ler. O meu pai recebia-o todos os dias ( de borla, vejam lá). Era seu correspondente de província. Este número, tão especial, tenho-o em minha posse.

 

 

José Carlos Ary dos Santos - As portas que Abril Abriu.


Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.


Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril f
ez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

Lisboa, Julho-Agosto de 1975

 

 

 

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publicado às 00:10

um ermitério à prova de artistas

por vítor, em 09.03.09

 

Hoje apetece-me sair de meia branca, camisa aberta mostrando os pelos do peito e lamber a faca ao jantar. Depois de uma semana de imersão cultural, quatro dias seguidos de noitadas artísticas, fiquei cansado. Cansado de artistas.

 

A censura está em toda a parte.  As estratégias de captura do ascensor social, subtis e indeléveis, impregnam toda a esponja tribal.É uma tortura silenciosa  que arrasa os mais frágeis, os que não têm resposta a esta violência opressora que consome a energia do outro enquanto outro.

 

Os ritos desconstrutivos são tanto mais eficazes quanto mais forem apontados à hipocrisia dominante. A liberdade é um espaço sem escala cultural. O veículo  que nos transporta ondula nas descontinuidades mentais dos que a amam e respeitam. Os que leva sempre traz.

 

Regressado ao ermitério da Cativa, descansarei até não mais...

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publicado às 17:02

Escarafunchando num passado inexistente

por vítor, em 18.06.08

 

 

O calor cresce lá fora. Enquanto a calmaria se precipita do céu violeta, dou por mim a revolver os resistentes socalcos da memória. Alguns substratos profundos são compostos por sedimentos de memórias partilhadas. Escarafuncho e os sedimentos esboroam-se e invadem outras camadas confusas do antro cavernoso do pretérito, aumentando a confusão e ocultando a massa disforme que tento penetrar.

Por vezes recorro a memórias externas que se cruzaram nos caminhos que percorri e vou tentando compor pequenos e difusos fragmentos que me permitam chegar mais fundo. Colar fragmentos de de um mosaico, ou melhor,  de uma película irrecuperável mas que, à maneira do digital, possa fazer sentido e sarar feridas escancaradas de outrora.

Continua a crescer o calor lá fora. O cão uivou pressentindo inquietudes nas pessoas que se afundam na História incompleta. (há uns dias, por brincadeira só falei inglês com ele: come on on Matrix, your food Matrix, you are the especial one Matrix. Foi-se embora e só voltou dois dias depois. As memórias dos cães são mais selectivas do que as dos homens). Como eu ia dizendo, o Matrix uiva nas sombras. A liberdade só é possível num sistema sem memórias: quando esburacas num passado inexistente. Só perante a vida. Caminhando, sem olhar para trás, nas numinosas paisagens onde as pegadas se apagam antes de os pés assentarem nas areias. Caminhando em intermináveis socalcos metafísicos. 

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publicado às 21:54

Esta é a madrugada que eu esperava

por vítor, em 25.04.08


Uma nêspera

estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

(de Mário Henrique-Leiria)

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publicado às 01:17

Suas Altezas em leito púrpura

por vítor, em 20.07.07
 Suas Altezas, os príncipes das Astúrias (belas terras),  a contribuir para a subida da natalidade na Ibéria. Juiz espanhol proíbe e manda confiscar as revistas. Será que não gostou da posição dos intervenientes?

Lembram-se dos cartoons dinamarqueses sobre Maomé?

Se fosse aqui no rectângulo-em-pé o que não seria de bradar aos céus!: que já não havia liberdade, que a censura estava aí de lápis azul again , que a liberdade de imprensa estava condenada ( como reagirá Balsemão a isto sendo tão amigo da família real espanhola), que...que...que...

Como seriam recebidos em Espanha uns Gatos Fedorentos a parodiar a família real? Seriam proibidos ? Presos? Com o supra precedente, fico nas dúvidas. Em Portugal, onde parece não haver liberdade, estão na berra e na estação pública. Do estado! Aliás foi nela que mais se gozou com o nosso mais conhecido engenheiro. O, segundo alguns, mandante na dita cuja RTP. Confuso não.

Assim não vais lá José! (o Saramago, é claro).

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publicado às 22:41


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