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Lamento dizer-vos, sobretudo pelos possíveis danos causados às virgens úteis e aos crocodilos do costume, mas aqui tem habitado a melhor poesia dos anos 2010 e 2011. E a provocação nem é muito substancial...
No infinito não há portas
Apagaram as luzes e as questões ficaram para o fim. A breve história, que te apresentaram como metodologia para te encontrares, é um distúrbio na capacidade de enfrentar a desordem e inverter o processo que conduz à unidade mínima do amor. Queres questionar a fala dos outros, o discurso que avança na escuridão e revela a conversão da memória criando dificuldades à compreensão da linguagem. Apagaram as luzes e as certezas que alimentam as almas discretas recuaram até ao abismo das palavras primitivas. És uma bebé que sai à rua pela primeira vez. O mundo é novo e as folhas das árvores acenam-te da infinidade das almas. Nas trevas impostas, conduzes os passos acompanhando o sussurro da manada. Sem claridade, o melhor é perseguir a manifesta vontade da multidão que caminha flutuando na noite artificial e vazia. Aqui, sentes o reconforto do calor que se escapa dos corpos, a ausência de pensamentos. Só interessa caminhar na direção do infinito. Só o infinito poderá circunscrever o desejo que transportas. Nunca te ajudará a encontrar as saídas das sombras. Só saímos, ou entramos, quando há limites que interrompem as planuras, só ultrapassamos as barreiras quando nelas cavamos portas e janelas. Quando as saltas, por encantatório que te pareça, não ficas a conhecer a sua substância e, assim, não as ultrapassas verdadeiramente. A massa informe que integras, sem conhecer os teus parceiros de caminhada, irá um dia confrontar-se com o fim do pisotear do chão antigo. O mais provável é o voltear de cabeças, o recomeçar da estrada escura até uma outra possibilidade de confronto com o fim. Com a pluralidade da renovação das pegadas na pradaria brutalizada. É quando a horizontalidade esbarra com o muro violento que deves procurar chegar-te ao fim que promete o princípio. A manobra é de uma perigosidade extrema perante a deriva translacional da manada. A liberdade vem sempre após um limbo de perigosidade extrema. Se escapares ao esmagamento da dor que te acompanha, estarás (enfim?), só entre ti e o obstáculo que te limita a visão do que está para lá do fim. Ainda não chegaste aos territórios onde a tristeza é uma forma de ser livre como outra qualquer. Ainda tens que abrir uma passagem no muro de silêncio que se ergue à tua frente. Ainda estás a tempo de voltar e integrar o silêncio, regressar ao conforto dos sussurros que evoluem na obscuridade. (lembra-te que apagaram, há muito, as luzes) A escolha é tua. Só tua. Não é uma questão entre regressar e renascer: o renascimento é, ele próprio, um regresso. Um regresso ao futuro. O futuro é a tua escolha. Ousar enfrentar o desconhecido ou aceitar a benevolente oferta do caminho trilhado no pó que se levanta das trevas. Para lá do muro, existe um mundo sem portas nem janelas pejado de cadáveres que se atreveram a ser livres. O infinito é uma prisão sem referências. Não há portas para abrir na imensa vastidão sem fim.
VRSA 24 de Maio de 2011
Para onde quer que olhe, a distância perde-se numa claridade infinita. Eu sou o centro do meu mundo como tu és, como vós sois, o centro do teu (vossos). Na intersecção das nossas vidas, na confusão das mentes enraizadas, nas realidades etéreas e voluptuosas, encontramos os dias impossíveis de acontecer. Os dias efémeros da levitação final.
Seremos sempre como a poeira que resta no fim das tempestades.
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