A minha casa fica a 2 quilómetros das melhores praias do mundo. Mesmo em Agosto, tenho um imenso areal quase só para mim. O futuro é que não me parece radioso, quando olho para Norte vejo-os devorando a paisagem, animais insaciáveis às ordens de predadores sedentos. Gigantes em terras liliputianas, os guindastes assinalam os PIN da nossa vergonha. Vivam os resorts, os SPAs , o golfe sem fim, as marinas amigas do ambiente, os hotéis de 7 estrelas, as ilhas artificiais, que o futuro é já ali e o presente não existe.
A minha casa fica à beira das ilhas da minha infância. Prometem o paraíso mas eu sei que ele desapareceu quando destruíram a minha aldeia cobrindo-a com um sujo cogumelo de betão. Esse paraíso resiste e habita nas mentes dos que sobreviveram à destruição das suas aldeias, vilas e cidades. Poucos, mas eternos. Tristes, mas inteiros e livres.