Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


As guerras do futuro

por vítor, em 17.09.07

 

À medida que nos afastamos dos tempos de antanho, tudo levaria  a crer que as "armas inteligentes" distinguem melhor as vítimas civis ( refira-se que não digo inocentes, que neste domínio só as crianças e os doidos e mesmo assim nem os próprios deuses fazem essa distinção) das baixas militares. Porém quando vemos as estatísticas, elas mostram-nos que não é bem assim. Melhor (neste caso, pior) os frios números revelam exactamente o contrário. Os civis morrem como passarinhos e os militares parecem mais protegidos do que nunca. O que até tem a sua lógica: quem domina as armas domina melhor os seus efeitos devastadores. Na neo guerra, quando desaparecem as linhas de separação entre os contendores, o inimigo está em toda a parte. Os civis não conseguem sair do campo de batalha global porque não sabem onde é esse campo, se é que ele existe na realidade. Nas trincheiras mortíferas da 1ªGrande Guerra (1914/18), vincando no terreno as linhas de separação territorial dos exércitos, não abundavam civis. Curiosamente é a aviação, essa nova arma de guerra que desponta nesta guerra, que vai fazer explodir (literalmente) o número de vítimas civis. O paradoxo cruel: armas mais sofisticadas e mais eficazes, armas mais mortíferas para quem menos tem a ver com a guerra, os civis. Este paradoxo aparente tem também a ver com a redução dos militares à medida que os exércitos se modernizam. Melhores exércitos menos soldados, menos soldados menos baixas. Outro paradoxo, já bem patente na Guerra dos Seis Dias, esquisito: melhores exércitos, menos soldados.

 

As neo guerras estão só no princípio. A iniciada com o 11 de Setembro é só uma reduzida amostra do por aí virá. No entanto um "belíssimo" laboratório para estudar o que o futuro nos reserva. O cerne de toda arte da guerra é causar o maior dano possível ao inimigo e assim continuará a ser e o maior dano que se pode causar é destruindo a vida de forma aleatória e massiva. Ou seja matando civis. É uma triste conclusão (?) mas é a realidade. O futuro não será de "amanhãs-que-cantam ". Quando a tecnologia permitir a manipulação por qualquer um de uma arma nuclear de bolso, quando o mundo cibernético dominar todas as actividades humanas, quando a nanotecnologia e a engenharia genética saírem definitivamente dos laboratórios o mundo vai saber o que serão os ventos do apocalipse.

 

Oxalá esta delirante especulação não se venha a verificar. Mas o Homem não aprendeu nada depois de Tróia e os cientistas, que brincam aos deuses, são tão ingénuos...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:53

11 de Setembro e as neo-guerras

por vítor, em 12.09.07

 

O 11 de Setembro foi o maior golpe alguma vez desferido contra o Ocidente. Um acto terrorista que se insere numa luta global pelo poder global. Um acto de guerra (lamento não poder ser politicamente correcto para com este terrível episódio e neste momento) espectacular atingindo o coração do “império” cultural e económico. Revelando as fragilidades do poderoso guia da civilização ocidental. Baralhando a velha vanguarda das liberdades e dos direitos humanos, a “consciência do Mundo”, a generosa Europa. Estas palavras custam-me a sair porque por debaixo delas jazem 3000 vítimas inocentes. Inocentes a nossos olhos de ocidentais. Mas nas guerras, mesmo nas neo-guerras , a maior parte das vítimas são sempre inocentes: foi assim em Hiroxima e Nagasáqui,  foi assim em Dresden , no Vietnam ,  no Afeganistão soviético, é assim no Iraque. Será assim mesmo com as mais inteligentes das inteligentes armas. Só o sangue dos inocentes faz da guerra um jogo real, só o seu sofrimento desvirtualiza a contenda.
 
Eu, para que não restem dúvidas, estou do lado do Ocidente. É o mundo a que pertenço. É o mundo que entendo. A Mega Guerra está somente no principio, talvez não venha a assistir aos seus momentos mais decisivos e cruéis, mas saberei estar no lado da barricada com os meus mesmo sabendo que não existirá nunca uma verdade absoluta e um lado verdadeiramente correcto. No entanto, sei que o Ocidente está mais próximo da liberdade, da justiça e da solidariedade. Por isso mesmo estarei  aqui, atento às derivas contra “os valores fundamentais” que tanto custaram a adquirir e a consolidar, com os meus.
 
Ao contrário das Paleo-Guerras em que os contendores estavam bem identificados e ocupando territórios físicos bem determinados, nesta nova guerra o inimigo está em toda a parte. No nosso país e no país do nosso irmão. No país do outro e procedendo como “outro” dentro do “outro”. Sorrindo-nos durante o dia e conspirando contra nós na longa noite. Ajudando-nos a atravessar a rua e explodindo na pizzaria da esquina com os nossos amigos. Vai ser ( está a ser) uma refrega estranha e incompreensível. É preciso reagir com firmeza e sem hesitações, mas sem atropelar os que pensam de forma diferente da nossa e defendem valores diferentes dos nossos que não ponham em causa a nossa “forma de vida". Nunca foi tão difícil separar o trigo do joio. O Bem e o Mal, essa famigerada dupla, nunca apresentou fronteiras tão difusas e sinuosas. Simplificar as coisas, tipo “Eixo do Mal” só complica e  aprofunda a   intolerância e a incompreensão.
 
Com quem se bate o Ocidente? Esta pergunta já foi mil vezes respondida mas sempre sem cobrir a questão. Guerra de Civilizações, Guerra Religiosa, Guerra Económica, Guerra Norte Sul, Ricos contra Pobres. Transportará um pouco de tudo isto mas será, certamente, uma guerra de poder, de poder global no vasto tabuleiro do Globo. Como o romanos dominaram o “mundo” com os seus exércitos bem organizados e a sua engenharia, os espanhóis os mares e as terras com as primeiras armas de fogo eficazes, os ingleses o mundo-onde-o Sol-nunca-se-punha com as canhoeiras das suas armadas e os americanos com a sua eficaz economia de escala e a sua cultura globalizante, os novos imperadores serão os que melhor tirarem partido desta guerra global que se impôs com o 11 de Setembro.
 
Como numa partida de xadrez, a pertinência dum lance pode ser aproveitada pelo adversário. Um lance limitado a uma pequena zona do tabuleiro pode desencadear uma tempestade no "plateau ” capaz de pôr em cheque o rei.
 
Como já referi num post anterior, a vida (neste caso a vida na terra) é como uma partida de xadrez só que se pode ganhar batalhas sem jogar nenhuma pedra. Até poderá acontecer que aproveite um lance um espectador atento e imprevisto…

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 00:43

Guerra de Civilizações?

por vítor, em 05.06.07

Em1095 , no Sínodo de Clermont , o Papa Urbano II apela à libertação de Jerusalém. Em poucos meses camponeses, cavaleiros, homens e mulheres, lançam-se nessa epopeia. Partem para o oriente cerca de 600 mil pessoas esperançados em varrer as suas impurezas e, no caso dos guerreiros medievais, por falta de ocupação em virtude da decretada “trégua de Deus”. Estava em marcha a 1ª das 8 cruzadas.

 

Depois de uma viagem aventurosa e com peripécias variadas, estão às portas de Jerusalém a 7 de Junho de 1099. No dia 12, do mesmo, regista-se a primeira investida contra a cidade. A manobra revelou-se um autêntico desastre e os cristãos compreenderam que precisavam de mais meios humanos e técnicos para o assalto final.

Uma imensa multidão de peregrinos movida pelos impulsos místicos e pela fome de pilhagem, difícil de controlar, talvez tenha estado na origem do fracasso. Já à passagem pelo Reno e pelo Danúbio haviam incendiado e pilhado os guetos dos judeus. São gente perigosa e pouco disciplinada.

 

Só passado um mês se sentem preparados para nova tentativa de assalto. A 14 de Julho lançam uma violenta investida. Pensa-se que do lado cristão estariam 50 000 homens bem armado e do lado muçulmano, Iftikhar ad- Dawla , que governa Jerusalém, contaria com cerca de 10 00 árabes e sudaneses. Grandes torres de madeira, manganelas e catapultas tentam ultrapassar o fosso e aproximar-se das muralhas. Pedras, setas e fogo de vários tipos tentam atingir os ocupantes das torres. Incêndios lavram dentro e fora de muralhas. O cheiro a fumo e fogo enche o ar.

 

Iftikhar tem uma ideia genial e expulsa os cristãos da cidade onde sempre tinham vivido em harmonia com as outras confissões. Livra-se de bocas esfomeadas, de uma possível sabotagem e obriga o invasor a alimentá-los. Curiosamente mantém os judeus na cidade intramuros. Dizem (as más-línguas) a troco de avultada maquia.

 

A noite já avança e os fogos greco /bizantinos lançados pelos sitiados constituem um espectáculo magnífico e tremendo. Algumas torres parecem tochas gigantes incinerando as frágeis figuras humanas que nelas se dependuram.

 

Na manhã de 15, as coisas começam a inclinar-se para o lado dos cristãos. O exército provençal, comandado por Godofredo de Bulhão (terá a ver alguma coisa com o nosso, do Porto, mercado do Bulhão?) está a conseguir trepar às muralhas. Godofredo, Litoldo e Gilberto de Tournai já estão no cimo das poderosas muralhas e são seguidos por dezenas de cristãos. Os mouros caem uns atrás de outros. A porta de Herodes abre-se… por dentro. Raimundo de Saint Gilles arromba a porta de Sião e  apodera-se da torre de David onde se encontra Iftikhar , que é feito prisioneiro. Trata-se de um momento histórico ímpar. Que horas são? Meu Deus! São 3 horas. A hora da Paixão do Senhor! Que coincidência…

 

Crianças, mulheres, velhos, homens, todos os derrotados, são passados a espada. Mesmo sem oferecerem resistência alguma. Os cadáveres amontoam-se nas estreitas ruas. E os Judeus? São também massacrados. A sinagoga, onde se refugiaram, foi incendiada morrendo assim toda a comunidade judaica de Jerusalém. Mas esperem! Há uma ténue réstia de esperança. Tancredo de Hauteville ergueu o seu estandarte na dourada cúpula da Mesquita do Rochedo e põe sob sua protecção os muçulmanos que nela se haviam refugiado. Sol de pouca dura. Os loucos Flamengos desobedecem à sua ordem e completam a tarefa: massacram-nos barbaramente.

Durante este massacre sem fim, Godofredo, Roberto de Flandres, Tancredo Gastão de Béarn , Raimundo de Toulouse, Roberto da Normandia e outros capitães suspendiam as armas no Santo Sepulcro e adoravam-No . Segundo as palavras de Godofredo de Bulhão “foi uma cerimónia muito comovente, durante a qual todos se sentiram melhores pessoas”.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:26

George Bush e a Antropologia

por vítor, em 26.05.07

Ainda em pleno conflito da 2ª Guerra Mundial, os serviços de informações militares encomendam a Ruth Benedict um estudo sobre a cultura japonesa e o Japão. O motivo é óbvio: os americanos preparavam-se para derrotar o Japão na guerra e para uma longa ocupação. Conhecer profundamente um povo  que ia ser ocupado, e do qual os americanos nada sabiam,  parecia-lhes evidente para obter sucesso, como a própria Ruth reconhece na primeira edição do livro que resultou da sua pesquisa, em 1946.

"O Crisântemo e a Espada" é um dos mais admiráveis livros que existem sobre o Japão e, curiosamente, foi escrito sem que a autora tenha ido ao Japão. Socorrendo-se somente de obras antropológicas, da literatura e do cinema e, fundamentalmente, apoiando-se na preciosa colaboração de nipo-americanos, Ruth Benedict , compôs um magnífico puzzle sobre os costumes, valores e mentalidade japonesa da época.

Diz-se que quando os generais americanos procuravam definir a primeira cidade a ser arrasada pela bomba atómica, teriam escolhido Quioto. Só que alguns deles tinham lido a obra de Ruth e tinham recuado a tempo. Seria como invadir a Arábia Saudita e bombardear Meca.

 

A  América de Roosevelt e de Truman era certamente diferente da de Bush , mas alguma humildade aquando da invasão do Iraque e algum conhecimento da história teriam sido uma  boa companhia nas horas de decidir. Certamente que continua a haver bons antropólogos na América. Mesmo qualquer estudante do último ano de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, teria sido uma boa escolha para evitar a Bush e aos americanos a delicada situação em que se encontram actualmente no Iraque.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:24


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D