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Portugal tem dificuldade em fabricar gente normal. Homens e mulheres simples, com vidas rotineiras e hábitos à partida tão banais que contagiam de felicidade quem os tem. Em Portugal só nascem iluminados transformados em agitadores da genialidade quando nem chegaram à idade adulta. Bom, quando lá chegam, tenham medo, tenham muito medo do que dali pode sair. Portugal é um país que se contenta com mitos: o mito da grandeza, o mito da língua, o mito da genialidade. Nunca há gente simples; só mentes brilhantes capazes de tudo para orientar o nosso caminho, sem nunca terem a coragem de sujar os calções - se eu estou a falar no Néné, por favor, lavem-me esta boca com sabão macaco. A genialidade é um peso que carregam. Um estorvo que partilham com os demais. Uma poção mágica que bebem e que os faz querer ser Obélixes a toda a hora. Nunca se apercebem do ridículo que é o auto-retrato: nem toda a gente tem o talento de comer javalis às pazadas. A genialidade não é para todos, muito menos para quem assim se considera. É crescer e aparecer, meus caros.
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