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D. Maria II proibiu as touradas, em todo o território nacional, em 1836. Passos Manuel, ministro do Reino, lavrou e promulgou o decreto:"Considerando que as corridas de touros são um divertimento bárbaro e impróprio de nações civilizadas, bem assim que semelhantes espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade, e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros."
O decreto foi às urtigas passados escassos nove meses. As poderosas forças da barbárie impuseram a sua lei e voltou-se atrás nos tempos.Mas a vontade de um homem lúcido e ligado às reformas do ensino e das mentalidades, não pode deixar de nos impressionar pela sua precocidade e modernidade.
Vem isto a propósito da decisão da Câmara Municipal de Viana do Castelo em declarar a cidade como a primeira "cidade antitouradas" em Portugal. Seguindo o exemplo que 53 cidades espanholas já tinham dado, Viana do Castelo, corajosamente, rejeita a tortura de animais e abraça o futuro.
Se votasse em Viana, a minha cruzinha seria para quem ousou ser pioneiro nesta luta contra o obscurantismo do prazer pelo sangue.
Olhaste sempre para o lado
não ousando ver a luminosidade
que se desprende do caminho,
inventando a gestão do futuro,
corrompendo a perplexa realidade.
A memória difusa naufraga
nas traseiras da tua casa,
na árvore enraizada do quintal.
Vês as galinhas-da-cor-do-gato
alimentando-se de vermes da estrumeira?
Utiliza-as para viajares no tempo
feliz das paisagens encantadas,
no princípio fracturante e inatingível,
mergulhando as mãos na merda-fresca-da-cor-do-gato.
Para compreenderes a utilidade da podridão
reboca o teu olhar até à inscrição escravizante
dos tempos primordiais
que espreitam por debaixo do entulho
onde o medo cresceu.
Não mudes,
o passado tem o tamanho do futuro
e a vida é um efémero lampejo de nudez
na anárquica deriva da esfera celeste,
na ausência dolorosa de lucidez.
A tua visão lateral é um sopro
nas velas da caotização do cosmos.
PS: Qual é a cor do gato?
VRSA, 10/9/08
À medida que nos afastamos dos tempos de antanho, tudo levaria a crer que as "armas inteligentes" distinguem melhor as vítimas civis ( refira-se que não digo inocentes, que neste domínio só as crianças e os doidos e mesmo assim nem os próprios deuses fazem essa distinção) das baixas militares. Porém quando vemos as estatísticas, elas mostram-nos que não é bem assim. Melhor (neste caso, pior) os frios números revelam exactamente o contrário. Os civis morrem como passarinhos e os militares parecem mais protegidos do que nunca. O que até tem a sua lógica: quem domina as armas domina melhor os seus efeitos devastadores. Na neo guerra, quando desaparecem as linhas de separação entre os contendores, o inimigo está em toda a parte. Os civis não conseguem sair do campo de batalha global porque não sabem onde é esse campo, se é que ele existe na realidade. Nas trincheiras mortíferas da 1ªGrande Guerra (1914/18), vincando no terreno as linhas de separação territorial dos exércitos, não abundavam civis. Curiosamente é a aviação, essa nova arma de guerra que desponta nesta guerra, que vai fazer explodir (literalmente) o número de vítimas civis. O paradoxo cruel: armas mais sofisticadas e mais eficazes, armas mais mortíferas para quem menos tem a ver com a guerra, os civis. Este paradoxo aparente tem também a ver com a redução dos militares à medida que os exércitos se modernizam. Melhores exércitos menos soldados, menos soldados menos baixas. Outro paradoxo, já bem patente na Guerra dos Seis Dias, esquisito: melhores exércitos, menos soldados.
As neo guerras estão só no princípio. A iniciada com o 11 de Setembro é só uma reduzida amostra do por aí virá. No entanto um "belíssimo" laboratório para estudar o que o futuro nos reserva. O cerne de toda arte da guerra é causar o maior dano possível ao inimigo e assim continuará a ser e o maior dano que se pode causar é destruindo a vida de forma aleatória e massiva. Ou seja matando civis. É uma triste conclusão (?) mas é a realidade. O futuro não será de "amanhãs-que-cantam ". Quando a tecnologia permitir a manipulação por qualquer um de uma arma nuclear de bolso, quando o mundo cibernético dominar todas as actividades humanas, quando a nanotecnologia e a engenharia genética saírem definitivamente dos laboratórios o mundo vai saber o que serão os ventos do apocalipse.
Oxalá esta delirante especulação não se venha a verificar. Mas o Homem não aprendeu nada depois de Tróia e os cientistas, que brincam aos deuses, são tão ingénuos...
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