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Retrocessos e Luz

por vítor, em 27.03.09

D. Maria II proibiu as touradas, em todo o território nacional, em 1836. Passos Manuel, ministro do Reino, lavrou e promulgou o decreto:"Considerando que as corridas de touros são um divertimento bárbaro e impróprio de nações civilizadas, bem assim que semelhantes espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade, e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros."

O decreto foi às urtigas passados escassos nove meses. As poderosas forças da barbárie impuseram a sua lei e voltou-se atrás nos tempos.Mas a vontade de um homem lúcido e ligado às reformas do ensino e das mentalidades,  não pode deixar de nos impressionar pela sua precocidade e modernidade.

 

Vem isto a propósito da decisão da Câmara Municipal de Viana do Castelo em declarar a cidade como a primeira "cidade antitouradas" em Portugal. Seguindo o exemplo que 53 cidades espanholas já tinham dado, Viana do Castelo, corajosamente, rejeita a tortura de animais e abraça o futuro.

 

Se votasse em Viana, a minha cruzinha seria para quem ousou ser pioneiro nesta luta contra o obscurantismo do prazer pelo sangue.

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publicado às 14:04

O infinito e a sua sombra

por vítor, em 16.09.08

 

Olhaste sempre para o lado

não ousando ver a luminosidade

que se desprende do caminho,

 inventando a gestão do futuro,

corrompendo a perplexa realidade.

 

A memória difusa naufraga

nas traseiras da tua casa,

na árvore enraizada do quintal.

 

Vês as galinhas-da-cor-do-gato

alimentando-se de vermes da estrumeira?

Utiliza-as para viajares no tempo

feliz das paisagens encantadas,

no princípio fracturante e inatingível,

mergulhando as mãos na merda-fresca-da-cor-do-gato.

 

Para compreenderes a utilidade da podridão

reboca o teu olhar até à inscrição escravizante

dos  tempos primordiais

que espreitam por debaixo do entulho

onde o medo cresceu.

 

Não mudes,

o passado tem o tamanho do futuro

e a vida é um efémero lampejo de nudez

na anárquica deriva da esfera celeste,

na ausência dolorosa de lucidez.

 

A tua visão lateral é um sopro

nas velas da caotização do cosmos.

 

PS: Qual é a cor do gato?

 

VRSA, 10/9/08

 

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publicado às 22:18

As guerras do futuro

por vítor, em 17.09.07

 

À medida que nos afastamos dos tempos de antanho, tudo levaria  a crer que as "armas inteligentes" distinguem melhor as vítimas civis ( refira-se que não digo inocentes, que neste domínio só as crianças e os doidos e mesmo assim nem os próprios deuses fazem essa distinção) das baixas militares. Porém quando vemos as estatísticas, elas mostram-nos que não é bem assim. Melhor (neste caso, pior) os frios números revelam exactamente o contrário. Os civis morrem como passarinhos e os militares parecem mais protegidos do que nunca. O que até tem a sua lógica: quem domina as armas domina melhor os seus efeitos devastadores. Na neo guerra, quando desaparecem as linhas de separação entre os contendores, o inimigo está em toda a parte. Os civis não conseguem sair do campo de batalha global porque não sabem onde é esse campo, se é que ele existe na realidade. Nas trincheiras mortíferas da 1ªGrande Guerra (1914/18), vincando no terreno as linhas de separação territorial dos exércitos, não abundavam civis. Curiosamente é a aviação, essa nova arma de guerra que desponta nesta guerra, que vai fazer explodir (literalmente) o número de vítimas civis. O paradoxo cruel: armas mais sofisticadas e mais eficazes, armas mais mortíferas para quem menos tem a ver com a guerra, os civis. Este paradoxo aparente tem também a ver com a redução dos militares à medida que os exércitos se modernizam. Melhores exércitos menos soldados, menos soldados menos baixas. Outro paradoxo, já bem patente na Guerra dos Seis Dias, esquisito: melhores exércitos, menos soldados.

 

As neo guerras estão só no princípio. A iniciada com o 11 de Setembro é só uma reduzida amostra do por aí virá. No entanto um "belíssimo" laboratório para estudar o que o futuro nos reserva. O cerne de toda arte da guerra é causar o maior dano possível ao inimigo e assim continuará a ser e o maior dano que se pode causar é destruindo a vida de forma aleatória e massiva. Ou seja matando civis. É uma triste conclusão (?) mas é a realidade. O futuro não será de "amanhãs-que-cantam ". Quando a tecnologia permitir a manipulação por qualquer um de uma arma nuclear de bolso, quando o mundo cibernético dominar todas as actividades humanas, quando a nanotecnologia e a engenharia genética saírem definitivamente dos laboratórios o mundo vai saber o que serão os ventos do apocalipse.

 

Oxalá esta delirante especulação não se venha a verificar. Mas o Homem não aprendeu nada depois de Tróia e os cientistas, que brincam aos deuses, são tão ingénuos...

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publicado às 15:53

As melhores praias do mundo

por vítor, em 08.08.07


A minha casa fica a 2 quilómetros das melhores praias do mundo. Mesmo em Agosto, tenho um imenso areal quase só para mim. O futuro é que não me parece radioso, quando olho para Norte vejo-os devorando a paisagem, animais insaciáveis às ordens de predadores sedentos. Gigantes em terras liliputianas, os guindastes assinalam os PIN da nossa vergonha. Vivam os resorts, os SPAs , o golfe sem fim, as marinas amigas do ambiente, os hotéis de 7 estrelas, as ilhas artificiais, que o futuro é já ali e o presente não existe.

A minha casa fica à beira das ilhas da minha infância. Prometem o paraíso mas eu sei que ele desapareceu quando destruíram a minha aldeia cobrindo-a com um sujo cogumelo de betão. Esse paraíso resiste e habita nas mentes dos que sobreviveram à destruição das suas aldeias, vilas e cidades. Poucos, mas eternos. Tristes, mas inteiros e livres.

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publicado às 22:16


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