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Não sei como é que alguém pode estar satisfeito com o que se passou nas eleições legislativas em França. O que levará a nossa direita a estar tão feliz?
Que democracia é essa em que o vencedor (seja lá ele quem for) tem cerca de 80% dos votos? Em 577 possíveis a UMP pode vir a aproximar-se dos 500 deputados. Eu acho, só por isto, a situação extremamente preocupante! Mesmo se este maremoto não tivesse sido acompanhado de outros factos assustadores: abstenção de 40%, a maior desde 1958, e uma relação de 40% de votos para o partido mais votado, para 80% de deputados eleitos. O dobro dos representantes em relação aos representados?
Embora tudo isto ainda sejam projecções alicerçadas nos resultados da primeira volta, já começo a sentir a perplexidade dos franceses perante tais absurdos contabilísticos. E sobretudo vinda da direita francesa (mais inteligente do que a portuguesa? Parece-me bem que sim) tentando aliviar a tensão como quando os bancos centrais sobem as taxas de juro para controlar a euforia dos consumidores.
Numa situação de quase monopartidarismo na Assembleia, a oposição terá (não lhe resta outra alternativa) que vir para a rua para se fazer ouvir. E a rua, como em França sempre se soube, é dura e faz mais mossa que os assentos aveludados do parlamento. Os paralelepípedos são duros a valer. E Sarkosy sabe-o bem...
Mr. Sarkosy disse, entre outras, que seria o presidente do "trabalho, da autoridade, da moral e do respeito". Foi saudado como um discurso de ruptura, um discurso de modernidade e de futuro. Eu, que não sou entendido nestas lides, já ouvia a minha avó falar destas coisas aos netos nos anos 60. Estaria a saudosa senhora a regressar do futuro e a trazer estas pérolas ouvidas de Mr. Sarco no séc. XXI, ao qual não chegou?
Também o nosso pós-moderno Prof. Dr. (o respeitinho é muito bonito e, pelos vistos, fracturante) António Oliveira Salazar subscreveria as quatro palavras de ordem da nova oratória presidencial francesa e adiantaria, com mais charme, quero dar aos franceses o conforto das certezas.
Também gostei muito do "decreto" em que o Mr.( ler, em bom francês, messiu) acabava, formalmente e finalmente, com o Maio de 68. Não era sem tempo. Faz-me lembrar um dos primeiros artigos da constituição da república espanhola que rezava ( mais ou menos): " Devem os espanhóis ser bons". Foi, como todos sabemos, o que se viu.
Ça va!
Ségolène Royal está deslumbrante. A "força tranquila" está de volta, agora emergindo do reconfortante regaço do "eterno feminino".
Nem precisava falar, só sorrir levemente. E a França poderá ser outra vez o país da revolução.
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