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Sylvia Beirute é um mistério. E os mistérios aspiram as pessoas, fazem-nas procurar o sentido das coisas.Se as coisas têm sentido e encaixam no racional que tudo reduz ao palpável e indistinto. Desde que conheci o primeiro poema de Sylvia que a sigo, digamos, religiosamente. Religiosamente no sentido (outra vez) de "religare". Conheço gente ligada à escrita que também se agarrou a esta forma de dizer, que entrou no labirinto à procura. À procura de Sylvia: da criadora, porque a criatura é-nos servida, pelo menos em parte, na casa em Beirute. O meu amigo Luís Serguilha até me contou que alguém lhe tinha contado que alguém lhe tinha contado (o mistério, sempre o numinoso mistério) que Sylvia não era Sylvia. Era um homem. E revelou-me, o que lhe tinham contado, depois de ser contado e recontado, o nome de dois possíveis carregadores da suposta poetisa. Conheço os dois e já os inquiri (verbo duro, mas foi com dureza que os interpelei), mas nada. Não sabem quem é. Um deles conta que já a viu e já se mailou com ela e garante-me que se trata mesmo de uma mulher.
Pois bem, o meu sócio Fernando Esteves Pinto conseguiu trazer a poetisa para as 4águas e publicar um seu primeiro livro." uma prática para desconserto" com uma capa belíssima. Para além de ser proprietário em 50% da referida editora, ainda acumulo com o pomposo título de "director editorial" da obra. O que me honra duplamente.
Anseio por conhecer tão misteriosa criadora...
Fernando Esteves Pinto, depois do lançamento do romance "Brutal", em grande com um novo livro de poesia. A capa é linda, espero ansiosamente tê-lo nas mãos. O meu amigo e sócio é já o escritor do ano de 2011 em Portugal. E o ano ainda só vai a meio...
Texto escrito semi automaticamente sobre a poesia de FEP:
Fernando Esteves Pinto, uma arqueologia do sonho
A poesia de Fernando Esteves Pinto inquieta. Inquieta porque desce (sobe?) até aos socalcos mais profundos do inconsciente, revolvendo os sedimentos há muito estabilizados. A poeira densa que se levanta, mete medo. Os destroços fundacionais emergem quando a poeira turva assenta nas depressões matriciais. O espectáculo desocultado não é agradável a quem o presencia. Especialmente para o ente escalavrado pelas palavras que metralham a carne e violam a mente. A inquietude não constitui um fim em si. O desmoronar dos blocos constituintes do velho edifício, montados de fora para dentro, representam um desafio para o leitor que, assim, pode, a partir da sua nudez revelada, edificar uma nova construção mais ajustada à alma e ao corpo. O Fernando é um arqueólogo da alma, um cavador de pessoas, mas também um arquitecto da carne.
Quem lê e acompanha o evoluir da sua obra poética apaixona-se por esta dialéctica da desconstrução/construção, por estas vertentes aparentemente contraditórias: medo e desejo, caos e cosmos. Um perigo contínuo e magnético que convida o leitor a uma dança de máscaras onde cada um dos dançarinos se oculta por detrás da máscara de outro, não reconhecendo os limites que separam as identidades difusas que evoluem no soalho da vida.
“Para que uma coisa permaneça, aplica-se com ferro em brasa. Só fica na memória o que não pára de doer”, diz Nietzshe, na sua obra Para a Genealogia da Moral. Fernando Esteves Pinto escreve penetrando e desvendando a genealogia da libido enquanto contenda natureza/cultura. A natureza pouco aparece na obra do autor: antes constitui uma meta linguagem que se entranha nas vísceras entreabrindo, apenas, portas – às vezes janelas – por onde se escapam instintos que inviabilizam o conforto das certezas. É dessa substância que encontramos numa passagem fabulosa no seu livro Ensaio Entre Portas: “”A porta da rua tem um sentido particular, ofuscante. É/ uma tampa indispensável que cai sobre as nossas costas/quando saímos ou entramos em casa. É um sinal de/interdição”. Tudo o que pretendi dizer até aqui, em quatro versos.
A arqueologia internalista (passe a redundância) transforma a vida em sonho, o que não significa que é menos real por isso. Fernando Esteves Pinto arremessa o leitor para um espaço inóspito, numinoso e ígneo, entre as sombras e a luz. Mas quem o lê terá à sua disposição uma escada para sair da caverna. Sair ou restar, será sempre uma escolha do leitor…
Conceição, 13 de Maio de 2011
Brutal é um romance onde se representam todos os traumas da infância, da adolescência e da idade adulta resultantes da decadência humana: violência doméstica, abuso sexual e disfunção emocional. Brutal tem como base narrativa dois personagens que são um só – um jovem e um velho, duas idades da mesma pessoa, ambos fascinados pelo teatro – que, no cenário das suas próprias vidas, dramatizam impiedosamente os momentos que fundamentam e marcam as suas existências. Nesse palco do romance são postos em causa e analisados, até à humilhação de se sentirem culpados um do outro, na relação perversa que ambos sentem pela natureza humana. É um duelo entre a maldade e o remorso, onde o amor e a escrita são meros figurantes.
O novo livro de Fernando Esteves Pinto na Babel. O meu amigo, e sócio na editora 4águas, Fernando em grande. Merece-o. É um escritor fabuloso e um trabalhador incansável.
Rui Dias Simão à conversa com Fernando Esteves Pinto
1 – O surrealismo dá-te muito trabalho?
R: Sobretudo à segunda-feira (sorriso)... A escrita é, em mim,
quando acontece, uma terapia lunissolar e estruturante; por
isso, uma atitude de trabalho inicialmente se não vislumbra
e evoca.
2 – A desestruturação mental é uma vantagem para um poeta se
sentir confortável num ambiente surreal?
R: Para já, antes pelo contrário... em boa hora, cada anzol,
cada peixe; em suma, é preciso estar muito estruturado
para saber finalmente desestruturar.
3 – Imagina que dividimos uma garrafa em três partes
(o fundo da garrafa, o corpo da garrafa e o gargalo),
as quais representam respectivamentetrês fases do dia
(a manhã, a tarde e a noite). Qual é a fase que te influência
mais no processo criativo?
R: Debaixo da Lua, sem (100) garrafas...
4 – Fala-me dos teus Animais da Cabeça.
R: É um livro que nasce de uns desenhos que fiz por volta
do ano 2000, os quais estiveram longamente pousados
sobre um sofá lá de casa, até que.
5 – O desenho e a pintura são o outro lado dos teus poemas.
Correspondem à clarificação mental do teu imaginário poético.
O que vês quando escreves poesia?
R: A mulher, a tal, nua, dentro dos translúcidos espelhos.
6 – Tens consciência de que a tua poesia marca uma atitude,
uma linguagem, que é no essencial a tua própria imagem e
comportamento perante a vida e os outros?
R: Tenho. Afinal, talvez não ...
7 – Que realidade entra nos teus poemas?
R: Neste livro ( os animais da cabeça), uma pseudo-realidade quase
fora de si mesma.
8 – Há um diálogo implícito nos teus poemas. Que diálogo é esse e
com quem?
R: Só pode ser com o eventual leitor e a literal surdez do mundo.
9 – O teu último livro “Os Animais da Cabeça” é, quanto a
mim, um breve tratado psico-filosófico sobre o género humano.
É na desconfiguração do quotidiano que investes a tua racionalidade?
R: Parece utópico, mas existe de quando em vez na minha escrita uma
certa irracionalidade a investir no quotidiano.
10 – Em quase todos os teus poemas verifica-se uma linha bem
definida de transição entre o sentimento pessimista da vida e o
sentimento cómico, risível da vida. Como te defines perante
a realidade?
R: Na totalidade dos contrários...
Dia 15 de Maio no Auditório do Campo Grande, Lisboa, pelas 19h
Apresentação: Rui Almeida
Leitura de poemas: Inês Ramos
O Adão regista tudo o que mexe na contra-cultura do sotavento e arredores. Lá esteve ele a filmar a apresentação do livro do meu sócio na 4 águas Fernando Esteves Pinto. Filmou, montou e divulgou.
No final da apresentação gerou-se uma conversa cruzada sobre o livro e o seu tema matricial: o sexo! Como não podia deixar de ser, a Antropologia também quis acrescentar alguma coisita sobre o assunto. Como sabem, os antropólogos são especialistas nestas obscuras áreas do comportamento humano. O de serviço àquela hora é que parecia estar ressacado. Ou será impressão minha?
Filmagem e montagem de Adão Contreiras:
capa de Manuel Almeida e Sousa
Afinal a cerimónia é às 21:30 e não às 17 horas
Fernando Esteves Pinto nasceu em Cascais em 1961 e é co-fundador do "Sulscrito" - Círculo Literário do Algarve e co-coordenador do projecto Palavra Ibérica e da editora 4águas.
livros publicados:
- Na Escrita e no Rosto (poesia)
- Siete Planos Coreográficos (poesia)
- Ensaio Entre Portas (poesia)
- Conversas Terminais (romance)
- Sexo Entre Mentiras (romance)
- Privado (novela)
Na gaveta tem o romance que vai arrasar a literatura portuguesa: "Teatro Brutal". Não ficará pedra sobre pedra. Das ruínas fumegantes, outro mundo emergirá...
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