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Quando se anda na rua, não tem problema. Retiras o macaco, rola-lo entre o polegar e o indicador e, quando já perdeu a humidade e não cola aos dedos, atira-lo, redondinho, para o chão. No automóvel, o processo é quase o mesmo. Só tens que abrir o vidro da janela e aventá-lo ao caminho. Não tem problema. As caretas que ofereces aos transeuntes enquanto pescas no estreito túnel não se distinguem das caras que se confundem nas vidas sem sentido.
O pior é quando as obstruções sólidas das cavidades nasais acontecem na cama. Na horizontalidade do sono ou nas convulsões da insónia e do sexo. Há já algum tempo que resolvi este problema. Dedo indicador revolvendo o habitat onde se criam os entes viscosos, unha em função de anzol retirando o inquietador, operação desumificadora com a sua rotação, já referida, entre o polegar e o indicador e … redondo, redondo, colocação do macaco extraído em cima da mesa-de-cabeceira. Ao lado dos livros incompletos, do relógio e dos anéis.
Quando o montante atinge quantidades incompatíveis como regular funcionamento de uma mesa-de-cabeceira, fora pela janela. Escusado será dizer que um monte de macacos se acumula do lado de fora da janela quase até ao parapeito. Parece uma obra plástica saída de um museu de arte contemporânea. E até fica bem no conjunto pimenteira-bastarda, pinheiro, buganvília, que assomam à janela. No entanto, não sei bem o que lhe faça. Ontem, o vizinho, o da barba azul, um homem estranho e educado, pospôs-se-me comprar o monte de macacos inertes. Rejeitei categoricamente. Vender algo que é meu e acumulei com tanta paciência e tempo, não me pareceu boa ideia. Mas passei o resto do dia e o que já passou do de hoje a meditar sobre as ideias do meu vizinho em relação ao destino para aquele monte de esterco. E, agora mesmo, alavancado pela febre da curiosidade que me é própria, decidi, sem pensar, vender-lhe o que me saiu do corpo e tanto tempo levou a edificar. Só assim poderei saber o destino que lhe está reservado.
M.G. 10/04/12
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