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Quando não falam em ti, apodreces.
Os dias passam e ocultas-te
Na pequenez da solidão que ensombra
As palavras indiferentes.
A quem interessa a estrofe sem leitor,
A porta escancarada na parede esburacada?
Lembra-te do tempo sussurrado,
Indiferente, revolvendo a terra húmida
Onde latejam vermes inconfundíveis
Que fecundam as trevas. Ninguém
navega sem conseguir entender as correntes
Que conduzem o devir. Ninguém se
Desconstrói quando o corpo resvala
Na ladeira que se ergue ante ti.
As ladeiras só existem na tua
Cabeça e o que procuras não está
Do outro lado da vida. Está aqui,
Junto às tuas mãos!
A outra margem só existe na penumbra
Do crepúsculo e mesmo assim
Só a acedes enquanto espuma
Evanescente. Espuma que encanta
Os que nunca se encontraram mesmo
Quando habitam vontades semelhantes
E percorrem veredas paralelas. Quando
Os olhares divergem do que realizas e és,
Da esteira difusa que cobre o passado
A que não podes voltar, reages
Como se a dor fosse uma impossibilidade
De regresso aos campos de restolho onde
O sexo convoca a inocência nas contendas
Do susto e do medo.
A ausência transforma-se num colapso de desejo,
Numa inusitada falência da vontade em
Penetrar o silêncio da realidade sarcástica.
O significado do ato envolve o que rejeita
A perplexidade, apodrece no tempo,
Na perdição que naufraga na escuridão e
Responde ao ego ausente.
Debaixo das nuvens moram os que não sabem saltar
Ao eixo nas noites eternas.
MG 14/06/2011
o ardor que penetra os rumores antigos
inverte o sono das insuportáveis
feridas inscritas no périplo das novas recusas.
Não é uma semente sisuda a desabrochar da morte
que poderá silenciar o apelo das noites pretéritas,
da inerte sofreguidão das pálpebras sulcando
o chão coberto de lágrimas circunstanciais.
da responsabilidade que transpira o incómodo
de interpretar a sabedoria que jaz nos corpos
estranhos jorram palavras desistentes,
riscam a penumbra onde os amigos ocupam
o vazio que desoculta a página revelada
no antes impossível, no erro inesperado
que funde as partículas, no fetiche do fim
que dissolve a neblina pintada no cenário
cru da linguagem abjeta. é uma anunciação
reiniciada (toda a linguagem é abjeta) quando
a iniquidade do esquecimento aponta a dor
ao cerne da nostalgia. Cativa os que não entendem
o verdadeiro fingimento que a decadência arrasta,
o fingimento tenebroso que acarreta o medo
que implode nos subterrâneos do diálogo murmurado.
de volta ao lugar de onde saíram os vibrantes
desejos de renunciar ao todo e apascentar
gaivotas na ilusão da parede obstinada.
de volta ao fim que inunda o silêncio
e interrompe o ruído das cicatrizes envoltas
em pó petrificado nos esconsos sótãos do sonho.
a fuga é um ardor que deslumbra a impotência
dos convertidos à ilusão ruminante das portas.
MG 28/03/2011
Lembrava-se de tudo como se presenciasse a cena: à direita um actor de cinema com os olhos em bico do leite de coco com aguardente de cana. O crepitar da fogueira enchia a sala de recordações tristes. Embevecida no fogo estava ela. Porque fora ele meter-se naquele covil de lobos sem unhas?
Bebeu mais um copo. A cabeça recusava-se a pensar nas responsabilidades do dia a dia. Bebeu outro, de um trago só. Maldita cocaína, ouviu a consciência com voz grave de pai dos anos trinta.
Lendo uma revista pornográfica, desta vez à esquerda, estava um cavalheiro distinto mas sem gravata. Ela sorria avermelhadamente com a calma de quem jogava. Roleta russa.
Agora era o malvado joelho que teimava em não funcionar. Nem a perna conseguia cruzar. Que pontapé, essa gente devia era ser jogadora de futebol.
Na poltrona do meio dormitava um velho jornalista corroído por notícias de todo o mundo. Tinha sido, até, correspondente na Polinésia.
Ela chegara-se mais ao fogo como se precisasse de mais calor. Era a sua, dele, hora. Pé ante pé, chegou-se à lareira e, com a tenaz, retirou uma brasa do braseiro. Acendeu o cigarro à americana. Soprou o fumo, primeiro pelas narinas e depois através dos dentes.
Sentiu-se alarmado com as palavras que deixara escapar. O jornalista farejou notícia. O cavalheiro distinto sem gravata ousou mesmo esboçar uma retirada discreta, sem o conseguir. Pela porta dos fundos apareceu quem se esperava: o polícia secreto do governo sombra.
Sem conseguir reagir ao desencadear dos acontecimentos, e com dores acentuadas nas costelas, deixou-se prender por ele e... por ela.
Quando a jovem entrou no café, o indivíduo-sem-qualquer-referência engoliu o café num trago. Caíu-lhe nas vísceras aos trambolhões e fê-lo soltar um pequeno arrôto. Ruboresceu com o facto.
A Jovem tinha umas mamas alto lá e uns lábios grisalhos como o dia.
Era Outono e não chovera ainda. O pó dos meses acumulava-se nos passeios e assinalava os pés descalços da recém entrada.
Quando encostou as referidas glândulas mamárias ao balcão, o educado cavalheiro, aproveitando a ausência inexplicável do empregado, não se conteve. Deixe-me ter a honra de servi-la. O que deseja? Chupe-me os seios, disse ela sorrindo sem maldade.. Mas, balbuciou o prestável senhor, não sei se este estabelecimento comercial tem licença para tal prestação de serviço.
Então a sua ignorância transcende o meu desejo, questionou a apetitosa moçoila.
O tempo, que estava quente, pareceu arrefecer um pouco e um vento acre e silencioso entrou de mansinho pelas janelas entreabertas do café.
A ignorância das pessoas precede sempre a fragrância dos desejos. Assim sendo, o seu pedido é um serviço que prestarei sem remorso. Venham de lá essas mamas.
Nesse entretanto, o empregado entrou de mansinho na penumbra esotérica da volúpia e esperou desinteressado a finalização da delicada prestação. Afinal o estabelecimento tinha competência - e licença -, para mamadas e o incumpridor assalariado ficara comovido com o voluntarismo do cliente, que o tinha substituído numa falta sem explicação.
Serviço terminado, com satisfaçao de todas as partes, comemoraram, os três, com aguardente de figo.
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