São muitas as portas que dão entrada ao paraíso, estreitas, mas muitas. Estão todas fechadas. São portas sólidas e cada uma tem a sua própria chave. Tens acesso a todas as chaves. Elas brilham nas tuas mãos, perante as fechaduras cegas, enquanto escolhes uma para tentar acertar na devida porta. As chaves parecem todas iguais, mas cada uma serve a uma e a só uma porta. Sabes que depois de experimentares uma delas nunca mais a poderás usar pois não a conseguirás extrair da fechadura tentada. São tantas as portas que não te importas que algumas se tornem inacessíveis. O verdadeiro problema é que para tantas portas só existe uma chave. E não terás, certamente, tempo de vida para experimentar todas as chaves. Os matemáticos saberão, com os seus cálculos e fórmulas, as probabilidades de acertar na porta certa. De quantas tentativas terás que precisar para conseguir abrir uma. De quanto tempo vais precisar para teres a sorte de escancarar uma porta para o paraíso. Até, e isto com a ajuda dos psicólogos, como cresce a ansiedade à medida que as chaves, as tuas chaves, outros terão as suas, se vão cravando nas fechaduras erradas. Mas, garanto-to eu, que já renunciei ao paraíso em vida, e, sobretudo, depois da morte, que o que te motiva, o que te empurra enraivecido, até, é o desejo de abrir todas as portas de forma a que as fronteiras entre inferno e paraíso se desvaneçam como neblina ao Sol de verão. Mas para isso, sabe-lo bem, precisavas de abrir todas as portas.