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cenas campestres

por vítor, em 12.11.10

 

 

O Outono não é, nestes campos do Sul,  o estertor a caminho do Inverno. A morte instalou-se com o esplendor do restolho, no final do Verão. O Outono é quando a erva desponta desse restolho entumecido da humidade das noites longas de Novembro. Aqui na quinta, a aproximação do Inverno é tempo da vida. Tudo renasce para tudo morrer. A Primavera, bem a Primavera é a redundância da vida. É, diríamos, a adolescência do ciclo

anual. O Verão é o fim. E cada fim é apenas o começo do princípio (msier De La palisse não diria melhor).

Como vos dizia o aproximar do Inverno traz trabalho acrescido à quinta. Trazer lenha para junto do monte para a cortar à machadada ou com a moto-serra e recriar a horta são os meus trabalhos favoritos. Hoje carreguei a minha pick-up de lenha de alfarrobeira e oliveira (lenha seca e pernadas caídas que resultam da auto-poda das alfarrobeiras - chega a cair mais de metade da copa e com um barulho assustador) e despejei-a junto ao armazém. Armei-me de machado e cortei lenha para uma semana de lareira.Ah, já me esquecia, hoje é o dia da primeira noite, da primeira noite de fogo dentro de casa. Esta noite a Betty não sairá de casa. Enroscada na sua cama junto à lareira, sonhará com ratos toda a noite. Já agora, o outro doméstico da casa, este o verdadeiramente doméstico que a atrás citada nada de doméstica tem, D. Matrix ladrava, ladrava no quintal enquanto eu machadava a madeira cansada. Nestas ocasiões não pode andar por perto ou ainda o racho. Aliás, nem eu devia andar por perto... e ainda por cima tem estado em prisão domiciliária durante o dia por comer galinhas à vizinhança.

Mas o que me deu mais gozo foi o recriar da horta. Já tinha lavrado a terra prometida com o trator. Hoje foi só misturar na terra o composto do diligente compostor, lançar a semente à terra e, com um ancinho centenário, misturar e enterrar. Depois da rega abundante dos quatro canteiros com, por ordem alfabética, alfaces, coentros, rabanetes e salsa, armei um banco corrido com uma travessa (solipa) da linha do comboio junto à horta e, enquanto via o sol mergulha ao fundo da quinta, fumei um cigarrito sentado na bancada lateral. Sim, que uma horta, ao contrário do que os parolos da cidade pensam(pronto, não se zanguem, os parolos de todo o lado) é um espetáculo permanente e em constante mutação.

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publicado às 19:53

A Vida na Cidade

por vítor, em 16.04.07
Esclareçam-me! Nas últimas vezes ( poucas, muito poucas mesmo ) que me tenho deslocado à grande cidade, tenho-me deparado com um cenário deveras preocupante. Amigos meus sentados no sofá,  frente à televisão e com uma mesinha (tipo para refeição de bebé ) onde, num computador portátil, navegam pela rede. Ecrã a três metros + ecrã a meio metro! Alienação total!

A amostra não é pertinente, mas é preocupante. Sobretudo a seguir ao jantar, filhos na cama   ( ou ligados a outros ecrãs ), são longas horas de zapping,  pixeliando pelas ondas hertzianas.    ( Poças! isto é que é falari! ).

Gostaria de pensar que estas situações são excepcionais e que a regra não se assemelha, nem por sombras, a esta pequena, pequeníssima amostra. Mas tenho cá um dedinho adivinho que me diz que não é assim tão rara esta nova "forma de vida".

Eu, que vivo no campo e que quando visito os meus amigos da zona os encontro a podar as gravílias, a rachar lenha para a lareira, a apanhar favas, a  jogar futeboladas com os filhos, a dormir, quando o tempo permite, nas suas camas-de-rede ou mesmo a  apanhar caracóis; os encontro, pela noite, a ler junto à lareira ( no Inverno ) e a conviver com os amigos nos alpendres nas cálidas noites de Verão algarvias, espanto-me e entristeço-me com estas tendências urbanas emergentes. Já não bastava a alienação* da maior parte dos trabalhos (empregos?) que para não se beliscar a auto-estima, se propagandeiam interessantíssimos,  mas que vendo bem, são inúteis e dolorosos?

Anos de vida ligados a ecrâs no trabalho e na alegre casinha. Anos e anos de vida passados nos esconsos interiores de automóveis e transportes públicos aspergindo fumarolas mortais na atmosfera cinzenta e envenenada.

"Estranha forma de vida" num espaço onde há de tudo. Onde a a oferta é tão variada que bloqueia a capacidade de escolha da maioria dos mortais. Excesso de informação difícil de  manipular e processar que se revela letal para a vida.

Continuando a aspar partes de letras de canções, posso apenas aconselhar a que se vê enredado nesta teia de constrangimentos e  incertezas: " muda de vida"!

* Alienação. Repitam devagar soletrando: a-li-e-na-ção! Velha palavra vilipendiada pela história recente e ausente da pena dos escribas modernos, mas que sulca o corpo deixando-o em carne viva. Voltaremos a vê-la a adornar os textos e não será tão serôdia a sua ressurreição. Obscurum per obscurius!

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publicado às 21:32

O Outono, a chuva e as alfarrobas

por vítor, em 21.09.06

O Outono começou em pleno:  calendário e estado do tempo irmanados.

A chuva caiu por toda a tarde no Sotavento. O odores levantaram-se das terras embriagando.

A chuva é dos espectáculos mais deslumbrantes da natureza. Na cidade, alguns, chamam-lhe "mau tempo", eu passo horas a olhá-la e a abençoá-la. Às vezes sem me dar conta que me misturo nela. Foi assim que hoje entrei, pelas 13 e 30, completamente encharcado no café Veneza, para honrar um compromisso.

Ainda por cima a chuva impediu-me de continuar a minha tarefa sazonal de fim de tarde. Hoje não varejarei nem apanharei alf@s . A vida no campo é tão dura...

 

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publicado às 16:27


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