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O sono paralisa a calma da noite. Paralisa a confluência dos passos na lenta progressão do calendário irreflectido quando gemes nos lençóis periféricos. Enquanto o prazer se esvai nas carnes reflexas e me recusas a humidade inconformada do sexo, ratificas o silêncio dos afectos, o vazio que me enche as apocalípticas memórias, as profundas fracturas rasgando desejos paranóicos que sucumbem no clamor dos instintos liquefeitos.
Quando a boca entreaberta revela a confusão das iniquidades das entranhas no enrugamento periférico do leito encharcado das humidades dos corpos, agarro a luminosidade das nádegas abandonadas, percorro a ausência que se instala entre nós. Uma ausência sem limites onde, por vezes, a multidão irrompe.
Quando o sono envolve a luz convulsa que emerge da carne insaciável, inicio a estrada fetal que me transporta a casa, onde renascerei sem ti.
(versão para poetas chalados - desculpem-me a redundância)
O sono paralisa a calma da noite
paralisa a confluência dos passos
na lenta progressão do calendário irreflectido
quando gemes nos lençóis periféricos
enquanto o prazer se esvai nas carnes reflexas
e me recusas a humidade inconformada
do sexo
ratificas o silêncio dos afectos,
o vazio que me enche as apocalípticas
memórias, as profundas fracturas rasgando desejos paranóicos
que sucumbem no clamor dos instintos liquefeitos.
Quando a boca entreaberta revela
a confusão das iniquidades das entranhas
no enrugamento periférico do leito
encharcado das humidades dos corpos,
agarro a luminosidade das nádegas
abandonadas,
percorro a ausência que se instala entre nós.
Uma ausência sem limites onde,
por vezes, a multidão irrompe
quando o sono envolve a luz
convulsa que emerge da carne insaciável
inicio a estrada fetal que me transporta a casa
onde renascerei sem ti.
Sincronizei a respiração com a tua. Primeiro pelo bafo quente que me varria o peito. Depois, sem conseguir sonhar alto, pelo tenaz ardor do sexo. Sendo a respiração una, os corpos gemem ubíquos e ígneos na calmaria da noite. O atrito das peles suadas electrifica e escalda as mentes esgazeadas. Torna-as caudalosas e indeléveis. Simples e vulneráveis.
Os pés rebolam na cama. Sinto o cotovelo a pairar no ar, oblíquo e sereno. Os cabelos, lianas do amor, aspergem os olhos fechados na procura da liberdade insultada por seres sem pulsões derramadas na urbe.
Lá fora a vida percorre os caminhos do costume. A embriaguez total e permanente envolve as avenidas.
Agora sinto os seios, invulgares, na solidão do corpo. Espraio a reacção das ondas preliminares onde, infantilmente, recolho o suco da mãe ausente. Arrepio-me saber-te no meu lugar. Aonde não há esquecimento nem prazer invertebrado e narciso. Se o eterno confluísse no nosso buraco negro, a vida seria, inacreditavelmente, simples e amorfa: osmótica, sábia e pura.
Nos amolgados lençóis, os dedos soltam-se pelas dobras do linho ancestral. A tua voz começa a sussurrar, rouca e prenhe, ecoando nos lares da vizinhança. Num estrebuchar de medo unimos ainda mais as nossas respirações e deixamos a incorrecção periódica dos dias ultrapassar o desgaste rotineiro da vida aprisionada. Aos solavancos trocamos líquidos inquinados e profanamos a inquietude hierofânica das almas. Lavramos a terra rasa de restolho, entre virilhas tumulares.
Ao fim da noite, fomos expulsar os espíritos selvagens numa mesa de café.
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