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Quando a jovem entrou no café, o indivíduo-sem-qualquer-referência engoliu o café num trago. Caíu-lhe nas vísceras aos trambolhões e fê-lo soltar um pequeno arrôto. Ruboresceu com o facto.
A Jovem tinha umas mamas alto lá e uns lábios grisalhos como o dia.
Era Outono e não chovera ainda. O pó dos meses acumulava-se nos passeios e assinalava os pés descalços da recém entrada.
Quando encostou as referidas glândulas mamárias ao balcão, o educado cavalheiro, aproveitando a ausência inexplicável do empregado, não se conteve. Deixe-me ter a honra de servi-la. O que deseja? Chupe-me os seios, disse ela sorrindo sem maldade.. Mas, balbuciou o prestável senhor, não sei se este estabelecimento comercial tem licença para tal prestação de serviço.
Então a sua ignorância transcende o meu desejo, questionou a apetitosa moçoila.
O tempo, que estava quente, pareceu arrefecer um pouco e um vento acre e silencioso entrou de mansinho pelas janelas entreabertas do café.
A ignorância das pessoas precede sempre a fragrância dos desejos. Assim sendo, o seu pedido é um serviço que prestarei sem remorso. Venham de lá essas mamas.
Nesse entretanto, o empregado entrou de mansinho na penumbra esotérica da volúpia e esperou desinteressado a finalização da delicada prestação. Afinal o estabelecimento tinha competência - e licença -, para mamadas e o incumpridor assalariado ficara comovido com o voluntarismo do cliente, que o tinha substituído numa falta sem explicação.
Serviço terminado, com satisfaçao de todas as partes, comemoraram, os três, com aguardente de figo.
Tomava um café enquanto lia o jornal, na rua principal de Monte Gordo. Descontraía, num intervalo do trabalho.
A notícia chegou galopante, bruta e esmagadora. O Gavinhos morreu. O quê?!Como?! Não entendo!!!
O Gavinhos morreu. Repetia o mensageiro do outro lado do telemóvel. Não pode ser verdade, os amigos não morrem!
O Eugénio era um homem de aspecto rude, barba eterna e sorriso doce. Criado nas encostas da Serra da Estrela, em Gouveia, escolhera Tavira para viver há cerca de 30 anos. Por detrás desta silhueta grande e escangalhada, assomava um homem bom, dócil, solidário e gentil. Um homem apaixonado pela vida que acreditava nos outros e que, desinteressadamente, tudo fazia para poder ajudar os que a vida deserdara. Um dos homens mais inteligentes que já conheci.
A última vez que tive o privilégio de estar com ele (no café Veneza), transbordava de felicidade: estava com os filhos (vindos de Lisboa para um curto período de férias) e falou-me, com os olhos brilhantes, na neta bebé e na reforma que iria chegar no ano que aí vinha (este ano, portanto). Milhares de projectos já fervilhavam naquela cabeça inquieta. Inquieta por agarrar o futuro.
Há alguns anos tinha, finalmente, vencido a besta do álcool que o atormentou parte da vida adulta. Mas a besta sempre espreita e desta vez traiçoeiramente sem permitir a intervenção da vontade. Um tumor no cérebro conduziu-o à morte em alguns meses.
"No passa nada", Eugénio. Só deixaremos de nos encontrar no café...
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