Julgo que a minha educação falhou de alguma forma, e que esse assinalável embuste escapa à capacidade de juízo da minha natureza. Sou por isso uma pessoa amedrontada. Não porque receie que algum desconhecido na rua me esfaqueie a troco de míseras importâncias, mas sim porque a minha lucidez é uma estranheza pouco abrangente. À imagem do meu rosto todos os outros são pouco esclarecidos. É devido a essa falta de confiança que os meus sentimentos são uma névoa de emotividades suspensas num paralelismo sempre ambíguo, desguarnecidos da clareza própria aos homens fortes.
Infelizmente nunca me considero ridículo, nem de algum modo penso que as minhas atitudes podem ser desrespeitosas, pelo que não posso, e ninguém pode, em qualquer situação, colocar a minha seriedade em causa. Não sei se estas observações abreviam-me a indolência, ou se a força da minha expressão terá suficiência redundante.
Não sou um indivíduo político, mas estou guarnecido de tal promiscuidade. Tenho a certeza de que conspiram contra mim, mas a minha fragilidade é hostil e acabarei por me tornar mártir. Tratar-se-á de mesquinhice ou decadentismo senil. Há quem no vulgo me ache a personagem trágica de um enredo extremamente óbvio. Enfim, sempre houve de tudo e para todos. Eu não vou além da minha fúnebre tristeza, do masoquismo da minha melancolia.