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Quando abri a janela do quarto, depois de uma noite de inquietação convulsa, entrou uma brisa fresca e na pimenteira bastarda um casal de rolas debicava-se amorosamente. Depois da higiene pós sono e do pequeno almoço lento, saí para o quintal e vi que a minha gata rasgava o corpo indefeso de uma das amantes da moldura da janela. A outra, aparvalhada, seguia a tragédia no alto seguro da pimenteira. Um amigo meu está sempre a dizer que os gatos são uns assassinos e que constituem um perigo para muitas espécies em via de extinção: matam milhares de pássaros, osgas, lagartixas, cobras, ratos, perdizes, coelhos. Até os nossos queridos camaleões. Os gatos deveriam, ainda segundo ele, era estar em casa, castrados e enclausurados. Discordo sempre veementemente e daqui não saímos. Eu que é a vida, que gatos esterilizados e presos é que é um atentado à natureza e bla e bla e mais bla e encurralados na discussão. Hoje, arrasei-o: sabendo da sua paixão por veículos mototizados, atirei-lhe à queima roupa "e então os automóveis?"
Foto gentilmente surripiada a Claudia F.
Em Agosto o Algarve torna-se complicado. Não para que os que nos visitam pois esses são os responsáveis pela complicação de que vos falo. São "os agostinhos" epíteto que um meu amigo olhanense lhes aplica porque convergem todos a esta maravilhosa terra em Agosto. Aliás o que acontece em todos os Agostos em todas as terras turísticas do mundo.
Vais comprar o jornal, já acabou. Vais meter o euromilhões, está uma bicha até à rua do fundo. Vais tomar um café, não tens mesa. Vais ao restaurante, esperas 2 horas pela mesa, duas pelo empregado, duas pelo conduto e duas horas pela conta. E tudo aos repelões, com caras de caso e com os agostinhos a refilar e amuados com a confusão que eles próprios criam.
Hoje para fugir a este estado das coisas fui dar uma voltinha na minha velha Honda. Barrocal e Serra (até para ver como é que isto vai de incêndios), tudo fantástico como sempre. Santa Rita, terra da minha mãe Rita, serena e acolhedora (uma construçãozita aqui e ali esquisitam mas aceita-se). Quando me ia deitar na curva para a Quinta da Cativa um pensamento mau (normalmente bom) invadiu-me a cachimónia: um cigarrinho na Fábrica. Ria e mar com Cacela-a-Velha a espreitar lá do alto. Este, habitualmente bom - pese embora os malefícios do tabaco -, espreitar da ria, constitui um dos melhores divãs para a minha frágil e convulsa mente.
Quando cheguei ao cruzamento, na estrada que leva do Ribeiro do Álamo e Cacela-a-Velha, já os automóveis tomavam conta das duas margens do alcatrão. Quando entrei na estrada da Fábrica, a loucura já era assinalável: carros dos dois lados da estreita via quase impediam a passagem de um carro, os cruzamentos eram manobras dignas dos melhores pilotos de moto trial. Dentro da localidade a loucura era total: nós de tal forma complexos impediam a maior parte dos carros de prosseguir o caminho que os seus ocupantes tinham delineado. À primeira vista pareceu-me que só pelo ar ou pelo mar. Com a minha velha e dedicada mota, lá fui furando como pude entre aquela amálgama de lata e plástico e pus-me dali pra fora rapidamente e doente com a alucinante experiência vivida.
Como é possível que tanta gente se sujeite a tanta dor para ir e vir "descontrair" até à praia. A praia da Fábrica, garanto-vos é uma coisa do outro mundo. Mas o querer não pode constituir nunca a morte do querido e do ...querendo.
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