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No outro dia andei por aqui a brincar aos artistas. Aliás, nunca fiz outra coisa senão brincar aos artistas, como ... toda a gente.
Obra de José Bivar em exposição na nova galeria de Pechão.
A escolha foi feita, seguindo a lógica dos dois últimos Prémio Cativa, no dia 9 de Setembro. Só hoje o tempo permitiu a escrita de um post sobre o premiado deste ano. Pela primeira vez, o premiado é meu amigo (como diria um político, com muito prazer e muita honra).No entanto, esta amizade não tem nada a ver com a atribuição do Prémio Cativa deste ano. Ou pode ter, porque só conhecendo o Zé como conheço posso avaliar a sua importância no panorama artístico e assocativo do Algarve. Amigos amigos, prémios à parte.
"José Bivar. Descendente de El Cid, o Campeador, monárquico, neo-ruralista, artista plástico, criador da famosa Bienal de Faro e o homem que inventou a Rua do Crime e a sua primeira e mítica âncora: os Lábios Nus...", escrevia eu, há algum tempo, depois de uma tertúlia memorável em despedida do escritor e actor Valdir "Bujiganga", que regressava ao Brasil. Mas o Zé não é só isso: exilado em Paris, regressa a Portugal a seguir ao 25 de Abril e instala-se no chalé de Bela Mandil que passa a constituir, a partir daí, o maior cadinho de artistas que o Algarve alguma vez presenciou. Músicos, poetas, escritores, escultores, pintores, realizadores, declamadores, actores e gentes de todas as proveniências sociais, geracionais e geográficas tornam Bela Mandil uma referência cultural famejante e universal.
Está ainda para vir o estudo destes anos extraordinários de produção cultural no Chalé Cumano Bivar e a avaliação do trabalho desenvolvido por José Bivar ao longo detes 30 anos em prol do Algarve e do país.
Homem independente e livre, nada dado a afagos de egos carentes. De rumo impetuoso ao encontro das tempestades, evitando as bonanças apelativas, tem pago cara essa teimosia em viver a sua vida sem ceder a compromissos patrocinais. De tanto dar, hoje é um aristocrata financeiramente arruinado. As instituições fecham-lhe as portas e evitam-no. Um homem livre é sempre um inimigo a abater...
Hoje apetece-me sair de meia branca, camisa aberta mostrando os pelos do peito e lamber a faca ao jantar. Depois de uma semana de imersão cultural, quatro dias seguidos de noitadas artísticas, fiquei cansado. Cansado de artistas.
A censura está em toda a parte. As estratégias de captura do ascensor social, subtis e indeléveis, impregnam toda a esponja tribal.É uma tortura silenciosa que arrasa os mais frágeis, os que não têm resposta a esta violência opressora que consome a energia do outro enquanto outro.
Os ritos desconstrutivos são tanto mais eficazes quanto mais forem apontados à hipocrisia dominante. A liberdade é um espaço sem escala cultural. O veículo que nos transporta ondula nas descontinuidades mentais dos que a amam e respeitam. Os que leva sempre traz.
Regressado ao ermitério da Cativa, descansarei até não mais...
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