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Há sempre palavras que não expressam
Os dias finais, rompendo o tempo, errando
No lajedo das memórias, palavras
Imóveis na narrativa infinita do devir.
Abarcar as cicatrizes, escaldando
a carne, nomear as dúvidas
e abandonar os afetos, nomear
os objetos que cumprem e preenchem
o vazio da multidão, reduz a rede seminal
a um labirinto oculto na consciência dos elementos.
Há palavras nunca ditas, criadas para
Executar o silêncio na nudez na pedra,
Espetro da linguagem nunca lavrada pelo fogo,
Consumindo as margens do sulco de Abel
Fecundado pelo sangue que o corpo liberta,
Inocentando Caim. Só palavras consumindo
A morte, absolvendo o assassino que emerge
Da natureza apologética, reescrevendo os
Pergaminhos do medo. Se a conversa aproximar
Os contadores de lendas, só restarão fragmentos
De palavras, ninguém recitará os tabus enquanto
Os procedimentos fatais da loucura se erguerem
No pano de fundo do teatro da vida.
Os assassinos vagueiam nos bastidores envolventes,
Sussurram onomatopeias complexas, confirmando tudo
O que foi dito nas planícies intemporais. A ausência
Reflete-se na sinuosidade do texto esotérico,
Saudando a imortalidade do desejo. A eternidade
Não extingue as palavras que devoram a carne e
Recriam o espírito. O tempo não esconde a
Insolvência que perturba o futuro, o futuro
Mediador implacável entre sobreviventes
E assassinos, na contenda final.
MG 18/10/2011
Diante dela perdi a cabeça
foi terrível
o chapéu foi-se com ela
(qual delas?)
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