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Apresentação de Escrituras

por vítor, em 03.06.24

Pode ser uma imagem de 2 pessoas e texto

Meus amigos, como podeis ver, vou apresentar o meu mais recente livro. É um acontecimento raro. Por mim, não apresentaria mais livros com o gasto formato “institucional”: um apresentador, dois ou três diseures, o editor, o autor, ele próprio, um número musical e uma plateia onde, na primeira fila, se acotovelam uns familiares babados, nas filas seguintes uns amigos, meio contrariados, e, finalmente, nas últimas filas, talvez os mais interessados, e interessantes, uns conhecidos vagos. A fórmula rotineira vem-se acomodando aos escritores e continua a reproduzir-se pelo país fora, desde o mais recôndito povoado, à mais densa metrópole. Grandes e pequenos artistas, apresentam-se, e revelam as suas obras, como se de rituais ancestrais se tratassem e não houvesse outra forma de revelar as suas criaturas ao mundo. Bem sei que esta é ainda a melhor maneira de vender livros e, para quem aprecia, estar mais próximo dos seus leitores. Mas, caramba, Mário Cesariny apresentou um livro num baile, Fernando Ribeiro de Mello, na noite de 15 de Dezembro de 1971, reuniu em sua casa uma chusma de jornalistas e figuras dos meios culturais lisboetas, tendo-os recebido dentro de uma ampla banheira circular, coadjuvado por uns sujeitos vestidos de diabo e um par de travestis em trajes menores em cujos corpos tinham sido desenhados os títulos de quatro livros a apresentar. Nos dias de hoje, com respeitinho e disciplina, não fazemos outra coisa que não satisfazer as editoras e os poderes instituídos: tudo o que vai para além da norma e do expectável é censurado, e autocensurado, e reproduzimos modelos insonsos e já testados.
Como vos dizia, a raridade do ritual, deste evento sem interesse de maior, deve-se ao denso desiderato contratual. E lá estarei, depois de anos sem apresentar um livro, para vos dar a conhecer a minha mais recente cria. Lá estará, também o editor e tradutor, o livro é bilingue, para castelhano da obra. Poderia ter convidado uma estrela do mundo literário para apresentar a criatura, uns amigos do teatro para ler textos e, outros, músicos para tocar umas peças. Poderia ter enviado convites a autoridades várias, públicas e privadas, a amigos e conhecidos. Talvez tivesse casa cheia. E vendesse muitos livros! Mas sentir-me-ia um bully.
Será uma conversa com quem quiser aparecer. Falaremos de livros e escritores, de edição e distribuição. De leitores e nichos de leitura. Abordaremos a falácia de que se vestem e travestem uma grande parte dos livros e dos autores. Da inutilidade da criação e da ausência do autor nos abismos da criação artística. Da vaidade como motor da produção do artista. Ou da importância do feudalismo literário na proteção e promoção dos seus subordinados. E do que mais entenderem conversar. E do silêncio que envolve as palavras
Garanto que lerei alguns textos, qual bardo gaulês. Se também o quiserem fazer, agradeço.

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publicado às 17:35

alf@, trabalho e curtição

por vítor, em 07.09.10

 

Setembro é um mês terrível. Recomeça o trabalhinho que permite obter  as coisas para o dia-a-dia, inicia-se a campanha da alfarroba. O preço cada vez baixa mais ( o ano passado a arroba era a 4.80 €, este ano é a quatro) e a paciência cada vez é menor. Como já vos disse é um trabalho bom para filosofar, para o encontro connosco e com a "natureza". Mas passar horas a varejar, a apanhar e a transportar as sacas para o armazém é um exercicio de filosofia zen que me começa a pesar. Este ano, ando na campanha com o meu filho mais velho. É uma epécie de represália pelo seu primeiro ano de faculdade desastroso. Coitado, doi-lhe tudo e arranja todas as desculpas possíveis e imagináveis para se cortar.

Para o ano tenho que arranjar alguém que me faça o trabalhinho. Como?, não sei ainda bem, mas alguma coisa se há-de conseguir. O que me consola é que o trabalho na terra funciona como a frequência do ginásio. Já começo a ficar com um cabedal de fazer inveja aos cinquentões, e às cinquentonas, cá da terra...

Ainda por cima, o trabalho/trabalho, este ano,  tem a novidade de se iniciar com os tais de mega-agrupamentos e tem sido uma mega confusão. Mas não há-de ser nada.

Temos portanto uns dias em cheio: de manhã e parte da tarde, mega trabalho com novas caras, novos espaços, novos procedimentos, novas manias e novas confusões; ao fim do dia, alfarroba e mais alfarroba; à noite, aniversários de amigos, amigos que chegam e que partem (copos e tabaco em excesso), filhote mais novo que sai com os amigos, etc,etc,etc. Tem sido duro. Amanhã, tudo recomeça.

 

O que me consola é que, depois de um Verão extremamente longo e quente, vem aí a chuva e o frio...

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publicado às 23:06

os amigos matam-nos...

por vítor, em 16.08.10

CANAL SONORA

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publicado às 16:55

Um amigo nunca morre

por vítor, em 18.09.08

 

Tomava um café enquanto lia o jornal, na rua principal de Monte Gordo. Descontraía, num intervalo do trabalho.

A notícia chegou galopante, bruta e esmagadora. O Gavinhos morreu. O quê?!Como?! Não entendo!!!

O Gavinhos morreu. Repetia o mensageiro do outro lado do telemóvel. Não pode ser verdade, os amigos não morrem!

 

O Eugénio era um homem de aspecto rude, barba eterna e sorriso doce. Criado nas encostas da Serra da Estrela, em Gouveia, escolhera Tavira para viver há cerca de 30 anos. Por detrás desta silhueta grande e escangalhada, assomava um homem bom, dócil, solidário e gentil. Um homem apaixonado pela vida que acreditava nos outros e que, desinteressadamente, tudo fazia para poder ajudar os que a vida deserdara. Um dos homens mais inteligentes que já conheci.

 

A última vez que tive o privilégio de estar com ele (no café Veneza), transbordava de felicidade: estava com os filhos (vindos de Lisboa para um curto período de férias) e falou-me, com os olhos brilhantes,  na neta bebé e na reforma que iria chegar no ano que aí vinha (este ano, portanto). Milhares de projectos já fervilhavam naquela cabeça inquieta. Inquieta por agarrar o futuro.

 

Há alguns anos tinha, finalmente, vencido a besta do álcool que o atormentou parte da vida adulta. Mas a besta sempre espreita e desta vez traiçoeiramente sem permitir a intervenção da vontade. Um tumor no cérebro conduziu-o à morte em alguns meses.

 

"No passa nada", Eugénio. Só deixaremos de nos encontrar no café...

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publicado às 22:16

Atira-te ao mar e diz que te emperrarem

por vítor, em 05.09.08

Quando nos idos anos 70 (depois do "25")o Domingos nos encantava com a sua guitarra no comboio para Faro, onde frequentávamos o Liceu (no Sotavento só havia 6º e 7º ano - antigos- em Faro, pelo que o comboio de Vila Real a Faro era um autêntico regabofe de adolescentes cabeludos), sempre pensámos que aquele mosse haveria de revolucionar o rock no Algarve. Assim veio a acontecer e, mesmo com vicissitudes várias , entre as quais a marginalidade a que são votadas as almas criadoras que não pululem pelas sagradas terras da capital e a desarmante humildade deste músico extraordinário, o Domingos e os seus Íris são hoje a face visível de uma nova música a que, por falta de outro termo, chamaremos rock algarvio ( ou, como outros lhe chamam, rock da ria, tendo em conta a Ria Formosa onde babujam músicos e notas). Para além de músico de eleição, forjado nas cordas mágicas de outro monstro da música algarvia: Telmo Marroquino (de quem um dia falaremos com tempo),o Domingos entrega-se de corpo e alma à sua escola de música na Fuseta, viveiro  que perpetua a herança de músicos fusetenses como Zeca Repolho, Badalo e outros.

Lembrei-me desta música a propósito da volta ao trabalho. Mais valia atirar-me ao mar e dizer que me emperrarem...

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publicado às 22:36

Alfarrobas e Cascabulhos

por vítor, em 05.08.08

 

 

 

 

 

A noite caiu cálida e serena. A casa do Rui encheu-se de gentes que não se rende.  Gente vinda de outro mundo que caminha para outro mundo,  enquanto agita este mundo. As noites destas gentes rasgam caminhos sinuosos que traçam riscos de solidão nas vidas incompletas. Nada pode prever os ziguezagues apocalípticos, as longas rectas sem destino. As palavras são cruéis e imprevisíveis, mutilam e abrem brechas nas crostas ideológicas da multidão. Vergastam a pele dos que sentimos mais próximos. As mudanças indispõem os organismos e são a força vital da sobrevivência. A mudança é a vida e predispõe a morte.

Na noite cálida que lavrou o tempo, o cálice ergueu-se pingando o vinho e tilintou nas esperanças da recusa de eternidade. A velhice saiu à rua e gritou aos ouvintes incrédulos a impossibilidade de regressar a casa. À casa dos teus avós. À genealógica euforia do devir. O mar entranhou-se, sem estranhezas, na confusão dos espíritos perplexos e aspergiu gritos de aflição na vizinhança amortalhada: a reacção foi desproporcionada à acção. Gente, que ninguém soube de onde vinha, envolveu-se na contenda do cálice e das palavras. Abafaram-se ideias de lucidez feroz. Louca. Os amigos enervam-se quando nascem profetas fora de prazo. Profetas que conhecem os meandros das consciências estagnadas. Das consciências marcadas pela violação dos direitos adquiridos no super mercado   da sabedoria empacotada.

A casa do Rui flutua na noite. Enquanto os argonautas se digladiam na planície repleta de sombras, o anfitrião serve pérolas em cascabulhos roubados à lama escabrosa das almas inquietas.

As calmarias surgem na madrugada quando a conversa se concentra  num chão pejado de alfarrobas.

 

(PS: Não ligar à conversa mole deste vosso criado. As noites-da-casa-do-rui são monumentos rituais celebrados em honra de Baco)

(PS1:Este texto, que saiu de rompante à velha maneira surrealista, é dedicado  ao Adão que  tudo filma, compõe e edita e que nunca aparece)

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publicado às 23:30

Por um caminho sinuoso...

por vítor, em 30.07.08

 

Cumpre-me o doloroso dever de vos comunicar que aceitei constar como excepção neste, neste, neste...           falta-me o nome colectivo para este grupo onde atraquei.

 

 

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publicado às 22:21


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