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O que pensará disto aquele desgraçado agricultor algarvio a quem um bando de bárbaros eco-terroristas rebentou a pontapé 30 belas plantas transgénicas, aqui há alguns anitos?
E o próprio presidente da república, que se associou com tanta força à condenação destes adolescentes assassinos que tão friamente abateram umas dezenas de irradiantes maçarocas?
E as virgens dos comentários mediáticos que na altura se masturbaram, espumando das mucosas, nos jornais e tvs?
Segundo o "Público" de hoje, "o ministro da agricultura avaliou em 3900 euros os prejuízos do agricultor cuja plantação de milho transgénico foi destruída por ambientalistas".
Fazendo contas por alto a 49 hectares de colheita isto significará 191 100 (cerca de 20 mil contos) euros de vendas. Nada mau para um pequeno agricultor atirado para a miséria por...
comentadores e virgens ofendidas.
Certamente que este santo agricultor também fará outras culturas na sua propriedade e então os seus rendimentos ainda serão superiores.
Fosga-se ! Eu, que também semeio milho na minha quinta, vou já virar-me para o milho transgénico. Vou também aconselhar os meus vizinhos a seguirem os meus neo procedimentos agrícolas. Assim poderão, finalmente, atirar as suas dívidas para o inferno e passar a ganhar dinheiro, muito dinheiro.
Tenho andado distraído em viagens pelo Norte de Portugal e só agora é que descobri que estive em Silves a "vandalizar parte da primeira plantação de milho transgénico no Algarve". Logo no meu Algarve!
Às viúvas contristadas (pelo que li nos blogues, imensas) apresento condolências mas outros valores mais altos se alevantam .
É ilegal? É! Mas também correr a pontapé o gajo que tenta roubar a carteira à minha mãe o é. Deveria apresentar formalmente a queixa às autoridades competentes.
Para além dos problemas ambientais e dos incertos impactos na saúde de humanos e outros animais, o que "eles" querem é dominar as sementes. Patenteá-las. Queres semear? Ora paga aqui. Tornar inacessível ao comum dos mortais aquilo, que hoje, é abundante e quase de graça. Colhi uma espiga: uso na alimentação uma parte e resemeio a outra, indefinidamente. Tornar a espiga estéril é o objectivo primordial.
PS1 : Como fico emocionado com a possibilidade do Sr. José Meneses vir a morrer à fome, com as suas lágrimas gritantes.
PS2 : Como se os meninos e meninas do movimento "Verde Eufémia" (então a senhora não era vermelha?) conseguissem destruir 50 ha de plantação. Conheço bem esta malta e se pisaram 30 pés de milho já foi muito. Eu, por mim solo, arrebentei com um terreiro inteiro de hipócrisia transgénica...
PS3: Se no quintal do meu vizinho ocorrem actos que põem a minha segurança em questão, sinto legitimidade para invadir a sua propriedade privada e acabar com a ocorrência. Bush dixit.
A apanha da alfarroba é, tradicionalmente, uma actividade verdadeiramente científica: 1º- Uma equipa raspa e limpa o terreno por debaixo da copa das árvores, 2º- A mesma equipa procede ao varejamento das árvores (estas duas tarefas são feitas por homens), 3º - Finalmente uma equipa de mulheres procede à apanha e ao ensacamento.
Cada vez mais se deixam ficar as alfarrobas nas árvores e no chão. O trabalho é duro, moroso e cada vez compensa menos. A concorrência dos países do Magreb está a deixar os agricultores à beira do desespero. A alfarroba, que ainda há pouco era vista como a possível saída para os agricultores, e muitos investiram em novos pomares no últimos anos, está também a tornar-se um pesadelo para os camponeses algarvios. Não precisando de regas, de adubos químicos ( a própria árvore se auto fertiliza com a queda constante das folhas), de pesticidas, fungicidas e outros cidas " , beneficiando do aumento da procura nos mercados internacionais (chocolates, rações, produtos alimentares e medicamentos) a alfarroba era vista como o verdadeiro maná da agricultura do Algarve. Só que a procura crescente abriu o apetite a outros produtores internacionais com uma mão-de-obra baratíssima com a qual não podemos concorrer.
Hoje passei a tarde a varejar e a apanha alfarrobas. Nada de cientificidade que a equipa era eu próprio e mais ninguém. Eu varejei, eu apanhei, eu ensaquei e eu transportei para casa. Escusado será de dizer que ninguém raspou nem limpou, previamente os solos, o que me valeu dedos e mãos arranhados e a sangrar nas inúmeras plantas espinhosas que abundam sob as copas das frondosas árvores. Sobretudo as terríveis espargueiras , que rasgam a pele ao menor descuido.
Valeu a pena? Bom, do ponto de vista económico, não muito. Pelas minhas contas por alto apanhei 8 arrobas o que, a 5 euros a arroba, dará 40 euros em 4 horas. Portanto 10 euros à hora. Isto tendo em conta as arranhadelas, o calor, os mosquitos, a sede (esqueci-me de levar água e estava bem distante de qualquer abastecimento), as cabeçadas nos troncos, o risco corrido ao trepar à árvore para varejar lá no alto e ao belíssimo dia de férias que deixei de gozar.
Valeu a pena, pelo silêncio e pelas horas de reflexão. Pelo enfrentamento comigo mesmo ( a paisagem envolvente com a ribeira do Almargem a serpentear e a entrar na Ria Formosa, ajudou certamente bastante). No entanto, eu ateu, cheguei a casa parecendo consolado com o sofrimento cilicial ” do cristão que se encontra a si mesmo quando experimenta o sofrimento e a tortura auto infligida.
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