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Dia 12, sábado, lá subirei, com grande sacrifício, à capital para a apresentação deste fabuloso livro da Joana Serrado e editado pela 4 Águas. Sacrifício pela viagem, não pelo livro. Ainda por cima tenho que voltar no mesmo dia pois, a treze, a minha querida mãe faz 80 anos. E esse dia não poderei deixar de estar junto a si todo o tempo.
"Da 12 de Janeiro de 2012, pelas 18H00, na Guilherme Cossoul de Campolide: Rua Professor Sousa da Câmara, 156 – Campolide (às Amoreiras), a sessão de apresentação do livro «GUARANY» de Joana Serrado, editado pela 4Águas.
O livro será apresentado por Nuno Júdice e Arie Pos, numa tertúlia em torno dos temas “Cafés”, “Poesia” e “Clássicos”.
Haverá leituras de poemas do livro por Inês Ramos.
Chegou ontem a casa e já está danadinho para ir por aí à aventura...
Começa assim:
"Não tinha pensado nisso. Os pensamentos também precisam das suas circunstâncias e estas não estão ao alcance da vontade. Acontecem quando ninguém as espera. Mais, emergem, muitas vezes, da realidade quando não são desejadas.
A avenida estendia-se, rude e crua, até ao fim do mundo. Alguns candeeiros iluminavam o nevoeiro morno do Levante. (...)"
Brevemente num sítio qualquer, as aventuras e desventuras dum poeta, bem acompanhado, à procura dum bar aberto na madrugada sem fim...
Sylvia Beirute é um mistério. E os mistérios aspiram as pessoas, fazem-nas procurar o sentido das coisas.Se as coisas têm sentido e encaixam no racional que tudo reduz ao palpável e indistinto. Desde que conheci o primeiro poema de Sylvia que a sigo, digamos, religiosamente. Religiosamente no sentido (outra vez) de "religare". Conheço gente ligada à escrita que também se agarrou a esta forma de dizer, que entrou no labirinto à procura. À procura de Sylvia: da criadora, porque a criatura é-nos servida, pelo menos em parte, na casa em Beirute. O meu amigo Luís Serguilha até me contou que alguém lhe tinha contado que alguém lhe tinha contado (o mistério, sempre o numinoso mistério) que Sylvia não era Sylvia. Era um homem. E revelou-me, o que lhe tinham contado, depois de ser contado e recontado, o nome de dois possíveis carregadores da suposta poetisa. Conheço os dois e já os inquiri (verbo duro, mas foi com dureza que os interpelei), mas nada. Não sabem quem é. Um deles conta que já a viu e já se mailou com ela e garante-me que se trata mesmo de uma mulher.
Pois bem, o meu sócio Fernando Esteves Pinto conseguiu trazer a poetisa para as 4águas e publicar um seu primeiro livro." uma prática para desconserto" com uma capa belíssima. Para além de ser proprietário em 50% da referida editora, ainda acumulo com o pomposo título de "director editorial" da obra. O que me honra duplamente.
Anseio por conhecer tão misteriosa criadora...
Brutal é um romance onde se representam todos os traumas da infância, da adolescência e da idade adulta resultantes da decadência humana: violência doméstica, abuso sexual e disfunção emocional. Brutal tem como base narrativa dois personagens que são um só – um jovem e um velho, duas idades da mesma pessoa, ambos fascinados pelo teatro – que, no cenário das suas próprias vidas, dramatizam impiedosamente os momentos que fundamentam e marcam as suas existências. Nesse palco do romance são postos em causa e analisados, até à humilhação de se sentirem culpados um do outro, na relação perversa que ambos sentem pela natureza humana. É um duelo entre a maldade e o remorso, onde o amor e a escrita são meros figurantes.
O novo livro de Fernando Esteves Pinto na Babel. O meu amigo, e sócio na editora 4águas, Fernando em grande. Merece-o. É um escritor fabuloso e um trabalhador incansável.
"Estavam calados. A sombra adensava-se no estreito recanto onde estavam estendidos. Numa parede resplendescia o oiro ténue e tranquilo da luz do poente. Ouviam o murmúrio do ribeiro, um leve sussurrar de folhas, algum pio rápido de uma ave, a minúscula obstinação de um insecto solitário.
Diante deles uma pequena janela em parte coberta pela folhagem de um arbusto. Pelo outro lado da vidraça, viam nuvens brancas, vagarosas, leves. Continuavam em silêncio, imóveis, extáticos, possuidores de uma serenidade imensa cheia de luz e sombra. Cada instante era uma longa vibração plena a que outro instante sucedia, igualmente pleno, igualmente vibrante, igualmente sereno. Nada esperavam no seu inteiro abandono fiel à densidade do silêncio. Não havia uma história a contar, uma palavra a dizer, o silêncio inundava-os e a maravilha latente tornava-se uma presença silenciosa, que era tanto do espaço como deles próprios em uníssono com ele."
Ramos Rosa como nunca o ... leu.
4 Águas Editora
A editora 4 Águas apresenta a nova obra de António Ramos Rosa. Prosas Seguidas de Diálogos. Uma pequena, independente e quase desconhecida editora do Algarve incendeia o panorama editorial, editando o maior poeta português vivo.
Começo a escrever a palavra que me despe
do hálito da meia-noite deste frio
(acanhado sem mãos)
entre outras coisas de ver apenas poucas vezes...
Começo a escrever uma lua sonora dentro do peito
agora peneirada das abrangentes fuligens
ao acender-se um lume vivo quando te aproximas
estranhamente coadunável...
Vens?...
Grito caladamente para a noite
para a multicor indecência do escuro
mas não direi desta noite sua sombra
de meu ego pior
(Não começo a escrever)
Rui Dias Simão - Os Animais da Cabeça
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