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Uma mulher magra desce a calçada íngreme e os jacarandás estão floridos. Roxas as árvores, melancólica a mulher. A mulher está só. Os pés colam-se nas pedras dispostas geometricamente. Paralelepípedos de uma rua igual a tantas outras e diferente como tantas outras. Pés que a calçada prende e ilumina. O mar está próximo e os pássaros estão felizes por isso. Tão felizes que viajam como se não estivessem poisados nas árvores. A mulher continua só, desce ainda mais e aproxima-se do mar que brilha no dia solarengo. Da orla que lambe a praia. Está longe a noite e perto o mar. É já na areia que a mulher magra caminha. Os sapatos ficaram para trás e as gaivotas afastam-se, temerosas, dos pés que escrevem na areia. Rescrevem sobre os caminhos que trilharam. Linhas cruzando o tempo perdido. Sobre as histórias que os caminhos tatuaram nas palmas dos pés. Não há nuvens no céu, e o mar parece cansado. A mulher mete o pé delicadamente na água e sente o frio a percorrer o corpo. A água parece fria mas a mulher sorri. Monte Gordo, 26-6-2018
No início, repetia-se o frio
das águas, a profundidade do sonho
que regride na existência adiada.
A superfície da substância, o medo
que invoca a escuridão profunda,
asperge de crueldade a lágrima
divergente. A escuridão profunda
reflete-se no olhar das coisas num bailado
de desejo metafísico, intervenção cruel
nos socalcos efémeros da consciência encriptada.
No início, o fogo não aquece a memória
das águas. A terra regurgita a diversidade
dos materiais que agonizam nas entranhas
convulsas, liberta-os na planície lavrada
onde a tempestade suspende a caminhada
dos elementos, cumprindo a autoridade
que se desprende das cicatrizes da linguagem.
No início, a pedra conforta a incomodidade
das águas, inventa a gregaridade das almas
nos círculos da noite, brutalizando os estudos
soturnos, emancipação dos corpos
que implodem no desejo das águas.
Por fim, da celebração do mito, surge
a necessidade de encontrar a convalescente
argumentação do herói-com-sapatos-de-barro. Vrsa 12-11-11
Filosofando na Quinta da Cativa. Utilizando o velho método árabe da regueira e da caldeira (bem visíveis no pátio da Mesquita de Córdoba, só que aqui fixos) cá vamos passando as horas. Aqui há uns poucos anos, os filhotes acompanhavam a rega de rojo eufóricos. Corridas de barcos, nos graciosos "rios", e água no Verão eram atrativos incontornáveis. Agora, nem por lá aparecem para dar uma mirada. Perde o pai, ganha a filosofia...
a caldeira, já cheia;
"rios";
um pequeno pomar biológico;
a amiga (não das mãos) neolítica;
amiga à sombra: para fumar um cigarrito e assentar sofias.
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