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Retirei os olhos e coloquei-os
Sobre o parapeito da tua janela.
Com o corpo cambaleando, cego,
Entrei pelo mar adentro e
Nadei até perder o pé. Do
Parapeito da janela avistava-se
Um ponto boiando no azul
De chumbo, na boca hiante entre
O céu e o mar.
Quando abriste a janela e
Viste os meus olhos voltados
Ao mar, vimos os dois, da
Janela do teu quarto, um
Tubarão avançando ao meu
Encontro. Sem olhos, o meu corpo nada via. E nadava.
E o grito arrepiante que vibrou no
Ar da tarde que se iniciava
Nunca haveria de chegar ao
Nadador cego que planava nas
Profundezas de si mesmo. Fizera sim,
Tombar os meus olhos na
Areia morna da tarde de outono.
Foi então que a cena que a
Tarde geria se transformou bruscamente
Na peripécia estranha que os
Nossos olhos presenciaram:
O tubarão rodopiou três vezes
No ar que cobria a serenidade
Das águas e apontou
O nariz de lixa às areias sonolentas
Da praia, Chegado ao borbulhar da
Espuma das ondas, aspirou intensamente
O ar que cobria a praia e os meus olhos rolaram suavemente
Na direção da garganta profunda do seláquio.
A menina de tranças e peitos
Inchados que atravessava a praia
Numa corrida desenfreada chegou
Tarde e já não viu o animal
Que os olhos tinha engolido.
Eu também não o vejo, mas vislumbro o nada
Porque os meus olhos estão dentro do tubarão.
A escuridão que me rodeia afasta-me de ti e o mar é imenso.
Os peixes trarão o nosso estranho passado.
Monte Gordo – 8/6/2017
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