Eia, vedes?
Vedes o que a distância esconde? Vedes? O melhor do mundo está por debaixo das sombras sobrepostas que as memórias aspergem no silêncio dos dias. Não te confortes com a solidão dos outros. Eia!, e não te envergonhes de ser quem não és.
Só o que ontem aconteceu fará de nós, de todos nós, uma assombração no caudal fecundo das águas da solidão. Nas almas que vão, levadas na enxurrada, poderás observar os rostos que as sombras ocultam. Aí, onde os abutres esperam a passagem dos cadáveres ainda quentes, verás, sem espanto, atravessar, em frente do cais que ocupas, aquele que foste antes de seres. Aquele que te acena mesmo depois de morto e que te convida à viagem. A estrada está escancarada para os que não obedecem ao devir. Vai e não voltes nunca a tua face para trás, no cais de onde partires está um homem que grita a quem passa. Já não és tu, nem tu és o que vai com os olhos postos no além.