Quem é o autor? O humano que cria? Ou queria? Que espaço podemos isolar entre o criado, a criação, e o querer de quem cria? Pouco! E, quase sempre, a autoria do criador é involuntária, resultando, apenas, da impossibilidade da réplica: nada é igual a nada. Só o mundo cibernético permite a omissão da idiossincrasia. E, mesmo assim, quando tentamos materializar o digital, sai o analógico único e imperativo. A autoria surge pois da impossibilidade da réplica. E, como sempre, escapa à vontade do autor. A criação, sendo, portanto, obra do criador, foge à sua vontade e assenta em pressupostos genéticos, arquétipos e condicionalismos socio-culturais inconscientes e impalpáveis. Sendo a humanidade portadora desses programas genéticos e culturais de forma inelutável e vital, qualquer ser humano será, potencialmente um criador. Um artista. Serão, ainda, estas
tatuagens, filo e ontogenéticas, que responderão pela emergência da criação. Criador e criação numa dança sem fim rodopiando convulsivamente ao som de uma música gravada a fogo na memória coletiva da humanidade. A lassidão das peias deterministas que enformam loucos e dementes faz destes os potenciais inovadores mais fecundos de entre os criadores. As obras de ponta são o resultado, cruel e vazio, de mergulhos, em apneia, de pescadores inconscientes no profundo e vasto inconsciente. Pescadores sem rede de pérolas inúteis.
Tudo o que fazes se liberta do que somos. A autoria é sempre uma obra coletiva sem autor. Inimputável.
29.1.2023