Há já algum tempo que nada sabia dele. Do poeta Edgar Lua. Poeta que me "escolheu" como media divulgador da sua poesia. Um dia destes terei que me abalançar a publicar a sua obra. Ontem, por mero acaso, apenas por mero acaso, fui jantar com poetas na calmosa noite de Tavira. Alegres, e bem bebidos, diga-se de passagem, fomos beber a abaladeira a um bar novo com o pomposo nome de Ofélia, sim, a namoradita do outro, e virado para as artes. O bar, a abarrotar de gente, não tinha lugar para poetas, e lá fomos a uma espelunca próxima com o eufémico nome de pastelaria: um tasco sujo e escuro. Em boa hora: do fundo do obscuro antro saiu-me o supracitado poeta sorrindo de alegria e embriaguez. Vitor! Meu querido. Tenho aqui um presente para ti. E, olhando de soslaio os camaradas de pena, pena no duplo sentido, entregou-me um papel de mesa rasgado com o poema que vos ofereço. Retirou-se, então, para o fundo dos fundos, para uma mesa onde reinava a alegria e o entusiasmo pela noite. Para não melindrar poetas, uns, e talvez outros, retive as perguntas que me atormentavam o coração, e virei-me para os meus. Pouco tempo depois, a alegre pandilha saíu, aos trambolhões, pela porta dos fundos. Pareceu-me tomar, a pandilha, o caminho para as Quatro-Águas, rumo às acolhedoras areias da Ilha de Tavira. Li o poema aos meus congéneres que, talvez pelo adiantado da hora, não ligaram grande coisa.