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Uma mulher magra desce a calçada íngreme e os jacarandás estão floridos. Roxas as árvores, melancólica a mulher. A mulher está só. Os pés colam-se nas pedras dispostas geometricamente. Paralelepípedos de uma rua igual a tantas outras e diferente como tantas outras. Pés que a calçada prende e ilumina. O mar está próximo e os pássaros estão felizes por isso. Tão felizes que viajam como se não estivessem poisados nas árvores. A mulher continua só, desce ainda mais e aproxima-se do mar que brilha no dia solarengo. Da orla que lambe a praia. Está longe a noite e perto o mar. É já na areia que a mulher magra caminha. Os sapatos ficaram para trás e as gaivotas afastam-se, temerosas, dos pés que escrevem na areia. Rescrevem sobre os caminhos que trilharam. Linhas cruzando o tempo perdido. Sobre as histórias que os caminhos tatuaram nas palmas dos pés. Não há nuvens no céu, e o mar parece cansado. A mulher mete o pé delicadamente na água e sente o frio a percorrer o corpo. A água parece fria mas a mulher sorri. Monte Gordo, 26-6-2018
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