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a inutilidade do retorno

por vítor, em 20.03.10

Quando atravessei a linha que separava a aldeia do resto do mundo, entrei num sonho estranho que me espantava e ao mesmo tempo  esmagava. O medo pesava como a escuridão dos tempos em que  as virgens sem consciência pariam profetas. Olhei atrás e vi desaparecer os dias que me abraçaram para sempre. Agora o roteiro seria traçado por mim, as agruras deixariam de ter o amparo da vizinhança.

 

Lançado na aventura de percorrer os caminhos dos outros, comecei por enveredar na direção que me pareceu mais fácil de entender. O breve  cheiro da brisa refrescante. Instinto de animal ameaçado: o vento traria fragmentos do perigo que o futuro transportava e os suores da alma abandonada atingiriam o antro da minha vida, na aldeia difusa no longe que crescia. Enchendo os pulmões com o ar novo que vinha das terras do sonho por cumprir, avancei destemido nas planuras que completavam a traição que urgia desocultar. Voltar atrás era um sussurro incontornável nas paredes opacas da imaginação. A vegetação rasteira rareava nas bermas do trilho esotérico que ladeava o corpo, as árvores deixavam de projectar as suas sombras no espaço que corria sob os meus pés, os pássaros voavam ao sabor da correnteza dos ares sem olhar para os novos amigos da viagem. A própria poeira dos lugares sem esperança começava a assentar com o lastro do vagabundo inexperiente.

O burburinho que se aproximava, transportado pelo vento risonho do além, acrescentava à paisagem um travo acre a solidão. Quando o ruído tomou conta de tudo e, no horizonte, apareceram as primeiras construções brutalizando o olhar, senti o cabelo assustado e espesso.

De olhar  turvo e mãos crispadas, entrei na cidade deixando a alma na periferia orbital. A penetração traumática no antro do devir inibe o desejo. A cidade é o fim do sonho e a certeza da inutilidade do retorno.

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publicado às 23:25

até ao fim das marés

por vítor, em 21.02.10

           

 

            Não me digas que as galinhas gostam de queijo?, perguntei incrédulo, mergulhado na areia da praia postiça.

            Sim, respondeste, com cara de poucos amigos. E têm preferência por queijo da serra.

            Seriam quatro horas da tarde de um dia qualquer e o vento soprava de penente, sem dó. A areia fazia-me cócegas na parte inferior dos tornozelos. Na praia deserta começava a fazer sentir-se um odor a precipício e prossegui o questionário inquisidor: e a que sabem as galinhas comedoras de queijo?

            A galinha, naturalmente, respondeu a minha amiga, do outro lado da maré mortiça.

            Tinha lógica. Galinha alimentada a milho não sabia a milho, pois não? Mas queijo??!!

            Bom. Esqueçamos as galinhas que outros problemas amoro-filosóficos mais prementes se alevantam. Mas queijo?...

            Ah, e aquela dos ouriços que não gostam de cães?, perguntei maldosamente.

            E com toda a razão, opinou espontaneamente a minha bela e colaborante arqueóloga de sonhos escalavrados. Se os cães gostam de ouriços – gastronomicamente falando, claro – é de todo natural que estes não os apreciem e …

            Interrompi a sua rápida e incisiva (diria mesmo canina) argumentação, com não menos veloz e flamejante raciocínio. Mas eu gosto de ti e, até às cinco da tarde como prometido, tu gostas de mim.

            Não confundas gastronomia e sobrevivência, com amor e ódio. Replicou sem pestanejar. Eu sobrevivo sem ti, sem amor e sem ódio, até ao fim das marés. Sem religião não existem escravos. O amor e o ódio cativam as consciências obtusas da servidão.

             Meu Deus!

            A abrasão arenosa envolvia-me a pele peluda dos milénios. Nos joanetes assexuados convergiam exaustos os fantasmas da perplexidade funesta. Da atmosfera cálida. Reacção dos poros epidérmicos à invasão sedimentar. Na imaginação imensa da maresia, atropelavam-se cães, galinhas, ouriços e sexos. Sexos brandos e apocalípticos, soçobrando de espanto.

            O ódio aproximava-se devagar, como era conveniente. Conveniente e imperioso. Na vastidão absoluta dos sentimentos inertes uma gaivota de papelão guinchou na tarde. Da anti-praia sons da aproximação do Levante invernoso. As areias da vida movediça envolviam-me calorosamente e sem mágoa visível. Dizível, pelo menos. O fim da tarde fazia o seu caminho, inexorável.

            A minha tia alimentou os felizes galináceos a queijo e nunca se queixou da cor da canja. Mesmo a crosta, que envolvia o caldo milagroso, lhe era meio indiferente. Aproveitava-a para barrar o pão.

            O atrito da caneta do tempo soava sulcando o papel da vida. Arrepiava o silencioso tombar do dia. A solidão, brutal e sanguínea, assomou às cinco da tarde de um dia qualquer. Até ao fim das marés.

 
 
Texto para o Luíz Pacheco. Um escritor como outro qualquer.

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publicado às 22:51

Um homem atravessou as portas da cidade. Quando deparou com a vida dentro de portas, cansou-se e voltou atrás. O ermitério de onde tinha vindo era a sua casa e a sua casa ficava perto do mar. Dali ouvia  as ondas e o vento que as levantava contra as praias da sua infância. Foi assim que se despediu de todos e passou a falar para tudo o que tinha deixado para trás. A noite compensava-o das saudades dos amigos. A solidão era o infinito que sempre procurara. Nunca os sonhos tinham sido tão claros: o caminho do esquecimento será a mais feliz das jornadas, até ao fim.

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publicado às 23:49

no tempo das romãs

por vítor, em 08.02.10

Sempre que a noiva comia romãs tremia. Era como se um tufão se aproximasse da costa. A romã actuava nela como um poderoso afrodisíaco. Quando o tempo das chuvas se aproximava, devagar como convém nos secos clima mediterrânicos, a preocupação invadia-me secretamente. Não tinha sido diferente naquele ano.

Do verde amarelado, foram abraçando o vermelho erótico e clamando pelo passante. O dito era eu, na maior parte das vezes. Mas,  na calmagem dos caminhos calcários pousavam, por vezes, pés descalços e dançantes: era ela, a minha noiva.

Conhecia-a há três anos. Doce como o fim das tardes de verão sem vento, bela como só eu sabia, arrancou-me o coração no primeiro momento. O futuro toldou-se-me num tempo irrecuperável e incerto, como a filosofia que atrai multidões sequiosas de sangue. E diria ainda mais; a solidão recuperou o seu significado supremo: a dor sem possibilidade de sentir o prazer do coração aflito. Eu para quem a independência era a vida. Nesse dia, há muito esquecido, entrou em mim uma luz que me sequestrou do mundo  e me enlaçou na morna sepultura do, dizem, amor.

Era doce como a tarde que se faz esperar. Como o caruncho da noite que não vem. Chegou e ocupou o lugar que era meu. Ocupou ainda mais de mim do que eu alguma vez teria ocupado.

Há três anos, era eu um rodopio fogoso e despreocupado, alegre e bondoso. Mas como mudei em três anos! Vivia para ela e vivia dela. Os dias passavam e a embriaguês sussurrante das fímbrias dos seus vestidos entaramelavam-se nos meus sentidos. Relia no meu corpo a sensação cruenta e terna dos afagos de minha mãe. Os pensamentos não engrenavam no segmento seguinte e encavalitavam-se em cacos de ideias incompreensíveis e dolorosas.

Ela, a minha noiva, possuia-me e o enamoramento violentava cada vez mais a minha identidade, a minha alma secreta. Penso até, e só hoje o comecei a vislumbrar, que a minha alma saltou para o corpo dela. Vive nela e parece feliz. É... é apenas um pressentimento. Mas o vazio que o meu corpo encerra leva-me a acreditar cada vez mais nisso.. Um vazio leve onde me espanto com o desconhecido de mim para mim mesmo. Onde me perco sem referências, onde é necessário construir para recentrar o mundo. Sim, porque o centro do mundo passou de mim para ela, a minha noiva. E quando ela se afasta sinto-me periférico e só. O vácuo que transporto não permite a edificação de um novo eu. Os blocos constituintes de uma nova alma, sempre tão difícil de arrumar, não se enleiam neste ambiente sem ódio, sem lágrimas e sem idade. É uma tarefa impossível, e sofro, e aproximo-me cada vez mais dela, do meu centro do mundo, da minha alma, da minha noiva.

Neste lento aproximar do tempo das romãs, uma ideia solta e intermitente azougava-me os ouvidos. Vinda do além (da minha alma emigrada?) a morte segredava, como só ela é capaz. A morte resolve todos os problemas a quem a ela se entrega. Porém o problema  parecia intransponível ( incontornável, diriam alguns). A minha noiva transpirava vitalidade nos líquidos e sólidos que a constituiam. Da carne espamódica e dos suores voluptuosos. Das almas que transportava.

A morte precisa de executor. Eu próprio como  me poderia   apagar sem despedaçar os restos sobrantes da minha carcaça? E o que aconteceria à  minha alma fugidia e feliz no corpo dela?

A chuva de outono aproximava-se vinda dos castelos púmbleos que viajavam num céu sem estrelas, ribombando apelos completamente imparáveis. As romãs cumpriam o seu destino. O rubi pintava-as inexoravelmente dando-lhes o poder da paixão, ígnea e caprichosa.

Os pensamentos da morte trilhavam o seu caminho de pó e lama, de som e de silêncio, na consciência esburacada do homem sem alma.

As chuvas começaram a cair,  grossas e quentes, levantando partículas do estio longo e seco. Água e terra misturavam-se no  ar. Primeiro,  preenchendo as rachas da terra ressequida e exangue. Depois, atingindo as raízes esquálidas das árvores sedentas e das sementes das ervas daninhas. Das flores que se erguerão na primavera longínqua. As romãs colheram o sinal. E o sinal alastrou pela terra desolada onde o restolho amolecia. As galinhas deixaram de parir e a minha noiva cantarolava a toda a hora. Quando a primeira romã estalou prenhe, deixando escapar um sorriso da cor da carne, não se conteve e precipitou-se, inconsciente, sobre o fruto divino. Vagarosamente,  foram desaparecendo nos lábios latejantes os bagos do fruto do amor (romã/amor).

Perante a cena embriagante da possessão das almas que a carne da minha noiva continha, decidi o futuro próximo da vida que nos animava. O resgate da minha alma.

O sorriso diabólico que me aspirou o corpo gemia de prazer e de dor. Os sussurros que sentia soltarem-se dos meus espasmos fundiam as almas que eram nossas.

Revolvendo a terra húmida, sob o olhar concupiscente da romanzeira cúmplice, rolámos inimputáveis  como deuses que se degladiam na espuma. As minhas mãos percorriam a pele escorregadia, o pescoço longo e frágil. A minha noiva estremecia e da boca escancarada, escorreu um fio escarlate e doce. Um rio por onde a minha alma transmigrou, regressando a casa.

E tudo serenou na felicidade efémera da tarde.

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publicado às 17:22

a ignorância precede o desejo

por vítor, em 26.11.09

 

Quando a jovem entrou no café, o indivíduo-sem-qualquer-referência engoliu o café num trago. Caíu-lhe nas vísceras aos trambolhões e fê-lo soltar um pequeno arrôto. Ruboresceu com o facto.

A Jovem tinha umas mamas alto lá e uns lábios grisalhos como o dia.

Era Outono e não chovera ainda. O pó dos meses acumulava-se nos passeios e assinalava os pés descalços da recém entrada.

Quando encostou as referidas glândulas mamárias ao balcão, o educado cavalheiro, aproveitando a ausência inexplicável do empregado, não se conteve. Deixe-me ter a honra de servi-la. O que deseja? Chupe-me os seios, disse ela sorrindo sem maldade.. Mas, balbuciou o prestável senhor,  não sei se este estabelecimento comercial tem licença para tal prestação de serviço.

Então a sua ignorância transcende o meu desejo, questionou a apetitosa moçoila.

O tempo, que estava quente, pareceu arrefecer um pouco e um vento acre e silencioso entrou de mansinho pelas janelas entreabertas do café.

A ignorância das pessoas precede sempre a fragrância dos desejos. Assim sendo, o seu pedido é um serviço que prestarei sem remorso. Venham de lá essas mamas.

Nesse entretanto, o empregado entrou de mansinho na penumbra esotérica da volúpia e esperou desinteressado a finalização da delicada prestação. Afinal o estabelecimento tinha competência - e licença -, para mamadas e o incumpridor assalariado ficara comovido com o voluntarismo do cliente, que o tinha substituído numa falta sem explicação.

Serviço terminado, com satisfaçao de todas as partes, comemoraram, os três, com aguardente de figo.

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publicado às 17:36

perplexidades da sombra

por vítor, em 08.10.09

 

O plano foi cumprido. Agora, aqui, sentado num velho banco do cais descanso ao sol de Março. A tarde caminha, sem sobressaltos para os braços da noite. As águas mansas refluem para o mar.

O que tinha que ser feito, foi feito.

As lágrimas escaldam na face sem luz. Passam criaturas sem propósito aparente. Atravessam o meu olhar para desaparecerem para sempre. A sua imagem reflecte-se nas águas do rio, como navegadores sem barco. Para eles a tarde não se afunda na memória. É uma tarde como outra qualquer.

Para mim é um final de dia que os tempos vão suster sobre  a minha vida. Nunca outra paisagem sucederá no incerto fluir das horas. Para lá da noite, o futuro está morto. Os dias passarão iguais aos dias que virão. A vontade de conhecer a manobra dos passos encontrará a arbitrariedade  solta do tempo encalhada num fundo que prende a correnteza do devir. Os ventos anunciarão primaveras nas falas dos transeuntes e a minha solidão ecoará para sempre nesta tarde solarenga de Março.

Amava-a como uma criança que ama o seio que suga na manhã da existência.

Entrara no hospital sorrindo. Caminhava ao encontro da morte como cavalos que galopam na pradaria. Sentia  afluência do destino a massajar-me as meninges inquietas. No longo corredor desfilavam as nossas vidas. Emergiam dos rostos deslavados os sonhos parasitas da realidade. No lajedo do velho convento, reflexos de uma criatura sem futuro.De um desconhecido ao encontro das trevas.

Quando a enfermaria 118 se aproximou, perfurando os pensamentos incaracterísticos da loucura, acordo da longínqua alegria de antanho. Desoculto, então, a irrealidade hiante.

A tua face ilumina-se na penumbra tranquila da tarde. No neon que tranquiliza a sucata que te envolve.

As águas desceram tanto que os caranguejos assomam das fendas rochosas. A tarde arrefeceu brutalmente e sinto calafrios na pele brutalizada. Não tarda e as estrelas iluminarão a noite.

Não me interessa mais percorrer os caminhos que me esperam. Os tempos que inundam a paisagem., arriscam cânticos de embalar. Rituais que outrora me arrastariam no rodopiar das calmarias. Nos equilíbrios redundantes da tempestade. Agora resisto, sem peso, às carícias do devir e bloqueio, inerte, nas angustiadas perplexidades  da sombra. Aspiro a noite e sinto que ontem foi um dia  diverso de muitos outros dias. Amanhã não serei ninguém: a tua libertação soltou-me do tempo. Levito acorrentado à solidão que me consome.

Sento-me. Observo todo o universo do teu rosto. A tua tranquilidade é uma mentira. A complexa integridade dos teus passos soltou-se de ti. Por isso a morte antecipou-se à morte e, ironicamente, iluminou-te  o semblante sobressaltado com que atravessaste  os territórios movediços de outrora. O sofrimento esvaiu-se na dor. A dor metamorfoseou-se em serenidade. A minha missão é unir-te ao além. Cingir o passado e o futuro com a diversidade do que éramos quando podíamos caminhar de mãos dadas na irredutível personagem que construímos.

Com a impunidade de um sábio, retirei os tubos que te mantinham palpitante. A doença cedeu perante a morte. A panóplia tecnológica horizontalizou e instalou-se na cidade um murmúrio indizível.

A maré baixara consideravelmente e na lama de breu as bocas de cavalete matraqueavam ritos de amor. Paradas nupciais inconsequentes.

 

Portimão/Monte Gordo, 13/17/03/09

 

(este texto é para o meu amigo Mário que soube renascer do caos)

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publicado às 13:47

romãs insondáveis

por vítor, em 30.09.09

 

 

Quando os dias felizes regressam e as paisagens se deixam perpetuar nas palavras distantes. Quando só existem bocados de silêncio nos caminhos insondáveis da memória - taumaturgos que se vergam aos obstáculos tortuosos do labirinto - , encontro a paz das planícies onde os parasitas da alegria jazem sob os sedimentos eternos da sabedoria.

 

Confortavelmente descasco as romãs que me paralisam os afectos e ordenam as físicas dores de antanho.

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publicado às 23:18

O Silêncio dos Afectos

por vítor, em 20.07.09

 

O sono paralisa a calma da noite. Paralisa a confluência dos passos na lenta progressão do calendário irreflectido quando gemes nos lençóis periféricos. Enquanto o prazer se esvai nas carnes reflexas e me recusas a humidade inconformada do sexo, ratificas o silêncio dos afectos, o vazio que me enche as apocalípticas memórias, as profundas fracturas rasgando desejos paranóicos que sucumbem no clamor dos instintos liquefeitos.

Quando a boca entreaberta revela a confusão das iniquidades das entranhas no enrugamento periférico do leito encharcado das humidades dos corpos, agarro a luminosidade das nádegas abandonadas, percorro a ausência que se instala entre nós. Uma ausência sem limites onde, por vezes, a multidão irrompe.

Quando o sono envolve a luz convulsa que emerge da carne insaciável, inicio a estrada fetal que me transporta a casa, onde renascerei sem ti.

 

 

(versão para poetas chalados - desculpem-me a redundância)

 

O sono paralisa a calma da noite

paralisa a confluência dos passos

na lenta progressão do calendário irreflectido

quando gemes nos lençóis periféricos

enquanto o prazer se esvai nas carnes reflexas

e me recusas a humidade inconformada

do sexo

ratificas o silêncio dos afectos,

o vazio que me enche as apocalípticas

memórias, as profundas fracturas rasgando desejos paranóicos

que sucumbem no clamor dos instintos liquefeitos.

Quando a boca entreaberta revela

a confusão das iniquidades das entranhas

no enrugamento periférico do leito

encharcado das humidades dos corpos,

agarro a luminosidade das nádegas

abandonadas,

percorro a ausência que se instala entre nós.

Uma ausência sem limites onde,

por vezes, a multidão irrompe

quando o sono envolve a luz

convulsa que emerge da carne insaciável

inicio a estrada fetal que me transporta a casa

onde renascerei sem ti.

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publicado às 20:02

o maléfico e o restolho

por vítor, em 14.05.09

 

 

 

 

 

 Enquanto vou escarificando o restolho antigo encontro-me com gente diversa. Hoje foi o maléfico que rasgava as raízes do cereal ao meu encontro. A trajectória não era arbitrária. Era a mim que queria chegar. Deixei-o aproximar-se como se de nada  me tivesse sido possível descortinar. As cicatrizes que sulcávamos aproximaram-se perigosamente e encarei-o corajosamente. O que te leva a roçares os meus sentimentos desprezíveis, atirei à queima-pele. O que ouso é o impossível. É o que não quero nem posso desejar. A ti que ninguém possui nem qualquer dia possuirá. A quem nunca os deuses revelarão compaixão. A ti só pedirei uma palavra que me minimize a curiosidade que fere como brasa a alma que perdi algures. Deixa-me tocar nos sonhos que a penumbra obscurece e inebria. Quantos são os dias que levas escarificando o que resta? Que penas cumpres na imensidão dos elementos, na atómica imprecisão das palavras?

Recuei até poder não. E de longe, protegido pela incontornável panóplia de seres inexactos, dei a resposta que o tempo daria: vem sem medo do devir. Nem deus nem os demónios me entendem. A longevidade da esperança encontrará, um dia, sem espaço nas mentes envoltas em expressões que se contendem na noite, as alvas procissões dos indivíduos sem amor. Escarificaremos as plantas que sobejam da morte anunciada. De onde se levantarão os que alimentam a beleza e o encantamento.

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publicado às 19:35

noites dolorosas

por vítor, em 18.04.09

 

 

Na noite das facas longas todas as palavras serão lançadas. Enquanto as lâminas rasgarem as carnes palpitantes a hipocrisia dará lugar à verdade plana e dolorosa. As palavras doerão mais que as punhaladas raivosas...

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publicado às 22:22


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