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Que me desculpe o Sr. que não sei quem seja.
Moçambique, ano de 2030. Um candidto à presidência da república filho de um europeu branco e de uma moçambicana negra vence as eleições
Europa, África e o mundo em geral entusiasmados com a eleição de um branco, pela primeira vez na África sub-saariana...
O mundo capitalista está em convulsões. O mundo inteiro. O capitalismo é o modelo económico/ideológico global do planeta e apenas os interstícios da tecelagem escapam à sua voraz heterofagia. Até depressões marginais se ressentem do estertor global: as migalhas do bodo deixam de se precipitar das toalhas bordadas quando os comensais sentem a fartura a esvair-se. A indigência alastra. as poeiras das implosões raramente assentam na base das estruturas. No main stream recorre-se às reservas e os ácidos estomacais não trabalham no vazio.
Quando o capitalismo se reergue da grande depressão dos anos 30, o planeta acordou dual. A oriente o comunismo, a ocidente o velho e recauchutado capitalismo. A rápida entrada na 1º Guerra Global (1939/1945) baralha e volta a dar (e por isso essa crise não poderá funcionar como modelo para a saída da actual) e emerge-se do vazio ideológico da Guerra mais dual e maniqueísta que nunca. Anjos e demónios acantonam-se nos dois lados estanquicizados mudando conforme o ponto desde onde se os observa. A "cortina de ferro" dinamiza, fortalece e cristaliza dois paradigmas que se contendem e alastram pelos campos planetários da não ideologia. A luta é fria no centro mas escalda nas periferias.
O capitalismo prospera mas tem medo. Medo da força e medo da ideologia operária. É este último medo que regula os excessos do capitalismo liberal. A ganância, o dinheiro antes do homem e a auto-regulação.
Em meados do séc. XX já só, paradoxalmente, o capitalismo acredita no comunismo. Na sua força moral e filosófica. Os cidadãos do mundo socialista já rejeitaram a modelação do "homem novo". Sobrevivem adaptando-se às arbitrariedades dum paradigma de igualdade medíocre e totalitária. As nomenclaturas já só reproduzem... as nomenclaturas, num bailado escabroso e mortal (curiosamente numa lógica churchiliana de este mundo é uma merda, mas é o menos merda de todos).
Os capitalistas, ainda crentes no comunismo actuam com carapins de lã. Os "direitos dos trabalhadores" irrompem como nunca, em lado nenhum da História. Subsídios de férias, décimos terceiros meses, subsídios de desemprego, baixas por doença pagas, licenças de maternidade, direitos sindicais "avançados", reduções de horário laboral, etc, etc, etc; não são "conquistas dos trabalhadores" (ou não são só) e avanços civilizacionais. São cedências impostas pelo bluff que se instalou a Leste. Cedências ante o medo do modelo moral que poderia levar os "explorados" do ocidente a revoltar-se e a abraçar o paraíso da "sociedade sem classes".
Não é por acaso que o modelo económico capitalista solar (ainda só! há 30 anos) era o do Japão. A empresa era uma família, o trabalhador vestia a camisola da sua unidade produtiva e trabalhava nela até à velhice. Patrões, quadros superiores e trabalhadores em geral eram iguais e só se distinguiam pela complementaridade orgânica da produção. O capitalista de chapéu alto (o tio Sam) estava sem glamour. O próprio capitalismo estava sem sex-appeal e não era o capitalista japonês que o tinha (filmes como o 9 semanas e meia só foram possíveis muito depois).
Mas entretanto a "terceira vaga" de Tofller varreu o ocidente e alastrou, sem convite, a oriente. As tecnologias da informação e da comunicação (sic) penetraram por entre as grades da "cortina de ferro" e mostraram aos aparvalhados "cidadãos de leste" um "maravilhoso mundo novo". Parte dele, objectivamente, transportando uma carga considerável de ilusão, engano, propaganda e pseudo-realidade. Foi este mundo novo, e não o patético Reagan, que estilhaçou cortinas e muros e homogeneizou as partes.
Sem o regularizador a Leste o capitalismo iniciou uma cavalgada selvática pelas planícies- sôfregas-de-homens-velhos-à-espera, distribuindo magia e recolhendo dividendos sem fim para gozo e baba de accionistas e gestores. A desenfreada cavalgada correu maravilhosamente até ao final do século das ideologias, ajudada pelo sustento imponente das novas tecnologias e pelo acordar de mundos distantes e há muito ensimesmados. Este beijo mortal do capitalismo constituiu o seu apogeu e a sua queda. Trouxe para a compita económica global outros contendores onde o capitalismo, aproveitando um húmus cultural favorável e irrepetível, floresceu como cogumelos em estrume de cavalo e provocou o acordar trovejante desse mundo paralelo, o Islão, esse "outro lado" tão distante e tão perto...
Estamos numa encruzilhada civilizacional complexa e de difícil desembaraço. Os próximos anos serão excitantes mas, terrivelmente, inseguros e perigosos.
Como irá reagir o ocidente à apropriação oriental do capitalismo? Como irá reagir às inúmeras expressões do renascimento do Islão? Será a guerra (quente) a funcionar como desbloqueador?
Quem irá regular quem?
Alguém terá que o dizer. Alguém que seja ouvido. Muita gente já o disse e discutiu no refúgio das opacas paredes dos antros políticos e científicos ou em conversas de café.
Como toda a gente sabe, da mais ingénua criancinha ao mais sábio dos sábios, a maior parte dos recursos disponíveis são escassos e finitos. Energia; por ora; alimentos, água, espaço, atmosfera e outros são esgotáveis ou sujeitos a contaminações irreversíveis e inutilizantes. As vagas de Toffler só lentificam, atenuam e prolongam este fluir pastoso para o abismo. Para o buraco negro que a tudo suga.
O modelo económico que se impôs a seguir à revolução industrial parecia inesgotável: um pequeno número de países, que se industrializou, enriqueceu fabricando e distribuindo, enquanto o resto do mundo se constituiu como uma enorme fonte de reservas de matérias-primas e recursos energéticos. Alguns, deste vasto campo mineiro, até melhoraram alguma coisa, o resto, um sub-mundo encoberto e apenas conhecido por elites bem informadas ou antropólogos militantes, manteve-se num longo e profundo limbo existencial. O modelo prosperou num paradigma relacional colonial e só sofreu os primeiros revezes com o início da descolonização, em meados do século XX, com os ex-colonizados a indigenizaram parte dos recursos até então sugados pelas metrópoles. Mas os territórios “ultramarinos” cedo mergulharam na turbulência pós colonização, acabando por voltar ao seio de potências que lhes assegurassem a segurança. Esta segurança reavivou a velha troca de máquinas por matérias-primas: armas por bananas…
Com o desmoronar das dependências territoriais do mundo moderno, construído pela primeira globalização, a das “Descobertas, entramos numa era dual vincada, na qual a “Guerra Fria” estabelece um novo padrão de entendimento. Económico e geoestratégico. Língua e cultura vergam-se perante a política pura e dura, mas, em certa medida, numa lógica neo-colonial. Fala-se até em estratégias dominó…
A terceira vaga que irrompe no mundo ocidental arrasa a “cortina de ferro” e instala um modelo unipolar liderado pelos Estados Unidos. No entanto a aceleração da globalização operou um difusão fulgurante das novas tecnologias de informação e comunicação e uma abertura de mercados que trouxe para a economia mundial e, agora algo de completamente novo para a geoestratégia político-militar, novos actores que vão ombrear com os antigos impérios planetários. Com um peso demográfico descomunal, tornam-se apetitosos para os tradicionais países exportadores e, ao mesmo tempo, perigosos competidores no fluente mercado global. Mais, tornam-se peças de relevo no tabuleiro de xadrez onde se jogam as relações de poder do século XXI. China e Índia, por um lado, e Brasil e Rússia, por outro, fragilizam a potência dominante e avançam imparáveis pelos territórios antes ocupados pela potências colonizadoras. Os tão famosos BRIC robustecem enquanto americanos definham no Iraque e os europeus, na constante indecisão de consciência do mundo, se entretêm com assuntos intestinos e paralisantes.
Os crescimentos brutais do consumo dos novos actores, despoletado pelo crescimento económico regular acima dos dois dígitos, aspergiu problemas por toda a parte. Aumentos astronómicos dos preços dos recursos económicos e alimentares, deslocalizações em massa e falência dos modelos sociais nos países ocidentais, são, apenas, a ponta do icebergue que se aproxima. O princípio do fim. Um mundo com motor na Ásia das Monções, um descalabro nas economias ocidentais, é incontornável.
Políticos e economistas liberais sempre defenderam que o desenvolvimento económico era extensível aos países subdesenvolvidos. Que isso favoreceria a economia global e todos ganhariam. Que tudo deveria ser feito para que esta globalização fosse uma realidade futura. Muitos deles, maliciosamente, defendiam-na mas no fundo sabiam-no impossível. A economia funciona como líquidos em vasos comunicantes, como manta curta em noite de frio… Basta-nos pensar que se os mil milhões de chineses tivessem o mesmo percentil de automóveis que os americanos, a atmosfera tornar-se-ia irrespirável (que queiramos quer não) e, no entanto, é tão legítimo terem-nos como qualquer outro país.
Para que a economia global proporcionasse um bem-estar a todo o planeta teríamos que assistir a um crescimento económico brutal das regiões menos desenvolvidas (já está a acontecer em algumas regiões) e a um abrandar constante dos PIB dos países desenvolvidos (o que também já se está a verificar). Nós, “o ocidente”, passaríamos de ricos a remediados para os pobres passarem de pobres a remediados. Enfim, todos remediados. Mas ninguém está interessado em passar de rico a remediado sobretudo se, para além disso, possuir o poderio militar.
Um dia teremos um presidente dos Estados Unidos a dizê-lo às claras. Alguém tem de o fazer. Falar à nação mais próspera e imperial do mundo pré-global:
“Americanos, nosotros somos los má solidários de entre los solidários. Nosotros representamos lo que de más fantástico a atingido el hombre, lo más ala que la humanidad a llegado. Los que más an fecho cumprir lo grandes ideales del ser humano. Pero el mundo a cambiado e tenemos que cumpitir com otros que no se importam com el bien estar de la humanidad, com los equilibrios de la naturaleza e com lo respecho de los derechos humanos. Que gracias a esso, han cambiado la economia del mundo libre debil e estagnada e com esso se fortalecido. (...)
A partir de ahora solo iremos a tener relaciones de igual para igual com los países que respechem los derechos delos hombres, los derechos sociales e de trabajo. Nos reservaremos lo derecho de intervenir para que los recursos de paises fragiles no se quedem em las manos de predadores sin escrupulos. Nos reservaremos lo derecho de intervenir para matener lo acesso á las fuentes de recursos minerales e energéticos, mismo en territórios estrangeros.(....)
Juro defender el way of life americana e implementar las bases de um nuevo paradigma relacional entre los pueblos. Una globalizacion condicionada. Com nosotros estaran quien será como nosotros.
Dios Salve América!
(foda-se, como é estranho o castelhano do presidente Rodrigues Zapato)
Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
(Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa)
Malditos ciganos, não sabia o vento levá-los, guinchou a mulher do café ( presumo que a dona do estabelecimento, entendendo o café como edifício que alberga efemeramente transeuntes carentes), armada de balde e esfregona farfalhuda.
Mijou à parede, mesmo ao lado da sanita, nojento! vociferou impiedosamente, colocando uma cara-de-boca-de-cu.
O homem, provavelmente levado pela ventania, não se encontrava nas redondezas, enquanto a relinchante esfregadora procurava o unânime assentimento dos carentes, efémeros clientes da globalização. Eu, que tudo sei, poderia adiantar que o vi agora mesmo entrar no barbeiro do quarteirão seguinte. Mas que interesse tem isso para agora...
Depois do árduo trabalho de limpeza da retrete, a senhora empresária sentiu-se aliviada. A sua alteridade reforçara-se. O “nós” consolidara em ritual suspenso e ávido de movimentos de nucas.
Sentou-se com a barba de cem dias. Pediu café. E, para agradar aos fregueses, uma aguardente velha. Seguramente mais velha que a sua barba e mais nova que a sua vida. A aguardente é claro. O que nada nos adianta sobre a sua idade. A dos dois é claro. A não ser que ambos tinham mais do que cem dias. O que já antes era óbvio: ninguém, com menos de cem dias, pede uma aguardente e nenhuma aguardente velha que se preze tem menos de cem dias. Que confusão. Quem disse que o caminhante fazia o caminho?! Voltemos ao caminho.
Tragou primeiro o café com cheirinho e depois, devagar, em pequenos goles a bebida ardente. Socializando-se com gozo. O tempo parou por breves instantes. Só o vento se ouvia inquieto.
O antropólogo sentia a nova pele aconchegar-se ao "velho" corpo enquanto um prazer intelectual profundo o colocava nos interstícios do tecido social e lhe corrompia a identidade. O tempo, como atrás víramos, parara e era preciso dar-lhe vida. A festa não pode ser eterna. A sociedade é um fluir incessante que não pode parar. Parar, como tão bem Lapalisse frisou, é morrer. Ficar encantado à espera do sapo. Ou do príncipe?
Esticou o gozo até onde pôde e subitamente levantou-se e pagou. Antes de sair foi ainda à casa-de-banho. Depois, despedindo-se com um claro “até-logo”, entrou no vento e desapareceu rapidamente na direcção do quarteirão seguinte. Alguns fregueses pensaram a medo: que cigano simpático...
O café entrou no remanso turbilhão (rodando para a direita como sempre acontece no hemisfério norte) da normalidade. As conversas de catação voltaram a escorrer sem fio afrouxando as tensões. Só o vento se ouvia inquieto.
Mas o tempo, que não é previsível, logo voltou a entrar em turbilhão ( agora rodopiando para esquerda como sempre acontece, com os turbilhões catastróficos, no hemisfério pobre) gerando uma confusão momentânea na ignorância dos clientes.
A dona do café, que não era ingénua, tinha ido espreitar à casa-de-banho.
Malditos ciganos, uivou. Não sabia o vento levá-los, guinchou.
Alguns fregueses pensaram sem medo: os ciganos são sempre falsos.
Eu, utilizando as mesmas premissas, cheguei a outras conclusões: nunca se pode confiar num antropólogo enquanto trabalha. E, manuseando outras premissas, diria mesmo: muito menos quando não trabalha.
Seriam umas onze horas, duas horas passadas sobre os dramáticos acontecimentos ocorridos, quando o antropólogo voltou a entrar no dito estabelecimento comercial. Alguns fregueses, especialmente freguesas, seguiram o seu deambular ondulante, pelo café, até à mesa escolhida para pousar. Roupas primaveris e uma cara escanhoada pareciam fazê-lo mais novo.
Mais novo que certas aguardentes velhas.
Sentou-se e pediu um café e um queque com passas. Mordiscou o queque enquanto ia bebendo o líquido quente, devagar. Adorava a mistura dos dois. Molhou mesmo o bolo no café.
O ambiente não se alterou significativamente com a entrada do estranho. Um caixeiro-viajante, pensou uma mulher mais nova, mergulhando em viagens para longe. O vento amainara lá fora.
O cheiro a mijo ainda não se tinha dissipado completamente apesar da esfregadela profissional. A dona do café estava feliz. A vida corria sem sobressaltos e os momentos eram dentes em roldanas de velho relógio com corda para uma semana.
Passado um bom bocado, e depois de umas miradas com interesse à telenovela da hora do almoço que corria na televisão, o antropólogo levantou-se, dirigiu-se ao balcão, pagou, foi à casa-de-banho e saiu despedindo-se:” até sempre”. Os fregueses responderam-lhe cordialmente e retomaram a postura de efémeros carentes sem lugar nem futuro.
O cheiro a mijo tinha aumentado consideravelmente.
Malditos ciganos.
A dona do café atribuiu-o ao vento que amainara lá fora.
Jovem recém licenciado em Antropologia atira-se com ganas ao mercado de trabalho. Envia currículos , bate a portas, fala com amigos influentes, chega mesmo a abordar políticos com provas dadas. Provas na arregimentarão de "colaboradores", claro está. Nada. Incompreensão, estranheza e mesmo desprezo. Desespera, quando, estaria a ver bem?, mesmo à sua frente uma miraculosa oferta de trabalho... Num circo espraiado pela clareira urbana: "Precisa-se empregado".
Não seria, certamente, o que almejava mas... circo, trabalho de campo, trabalho de campo, Antropologia. Ou não fosse a actividade circense um dos terrenos férteis da elaboração teórica dos estudos antropológicos. A ver vamos.
Contratado imediatamente, vê-se no interior da mastodôntica tenda ouvindo as características dos seu novo e primeiro trabalho. Ouve incrédulo. O seu trabalho consiste em se meter na pele de um leão e fazer-se passar por ele durante o espectáculo. Não... não será difícil e a segurança é um dos nossos lemas, o domador depois lhe dará as indicações mais específicas ao seu desempenho. Aceito, respondeu apalermado com o que dizia.
Depois da tal conversa técnica com o domador, lá se apresentou pela noite para a primeira representação. Quando ouve, pela instalação sonora, "e agora, vindo da mais impenetrável das florestas de África, o mais feroz dos ferozes animais do reino animal, o rei dos animais, o indomável leão das selvas por explorar", ainda lhe parece tudo um longínquo sonho difuso. Mas lá entra a caminho da jaula erguida no meio da arena. Debaixo dum aplauso sísmico, executa os números anteriormente combinados e executa rugidos medonhos ( ampliados por uma engenhosa aparelhagem sonora). Os aplausos redobram ribombantes. Confortam e facilitam os números desenvolvidos. Afinal, tudo parecia fácil e já se estava a ver, findo o forrobodó, a tomar notas no seu caderninho de bolso. Saltos por dentro de arcos em fogo, equilíbrios no topo de escadas e bancos de pernas altas, ascensões ao mastro espetado no meio da jaula e tudo caminha nos conformes dos conformes.
Eis senão quando se ouve pela já gabada aparelhagem " e agora um companheiro do nosso amigo das selvas, o feroz e inexcedível leão do deserto". E entra, jaula dentro um fabuloso leão, rugindo poderosamente, com uma juba portentosa e luzidia. Pelo sim pelo não, o primeiro leão trepou rapidamente pelo supra citado mastro central, e por lá ficou apreciando, como nenhum dos restantes espectadores, o desenrolar das acrobacias leoninas no terreno, passe o pleonasmo, térreo. Entraram ainda mais três magníficas feras mas o leão-empoleirado já não estava em estado de controlar o que se passava no rés-do-chão. Porém, com o passar do tempo foi acalmando. Afinal tudo não passara de um valente susto. O domador não iria repetir com nenhum dos felinos a subida ao erecto varão central. Afinal haviam-lhe dito que a segurança era a marca registada do circo. Crença de pouca dura. O descuidado domador incita o leão das areias a trepar até ao desgraçado, e já húmido, rei da selva. Cinicamente, dizia, para o cumprimentar. Quando sentiu o varejar do poste onde, de forma ridícula, se enrolava, começou a encomendar a alma ao criador. O rugido tremendo subia teatralmente, metro a metro. ao seu encontro e, quando já sentia o bafo na sua segunda pele, ouviu da tenebrosa boca do seu companheiro de artes "é pá, não há problema isto é tudo malta de Antropologia".
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