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O calor cresce lá fora. Enquanto a calmaria se precipita do céu violeta, dou por mim a revolver os resistentes socalcos da memória. Alguns substratos profundos são compostos por sedimentos de memórias partilhadas. Escarafuncho e os sedimentos esboroam-se e invadem outras camadas confusas do antro cavernoso do pretérito, aumentando a confusão e ocultando a massa disforme que tento penetrar.
Por vezes recorro a memórias externas que se cruzaram nos caminhos que percorri e vou tentando compor pequenos e difusos fragmentos que me permitam chegar mais fundo. Colar fragmentos de de um mosaico, ou melhor, de uma película irrecuperável mas que, à maneira do digital, possa fazer sentido e sarar feridas escancaradas de outrora.
Continua a crescer o calor lá fora. O cão uivou pressentindo inquietudes nas pessoas que se afundam na História incompleta. (há uns dias, por brincadeira só falei inglês com ele: come on on Matrix, your food Matrix, you are the especial one Matrix. Foi-se embora e só voltou dois dias depois. As memórias dos cães são mais selectivas do que as dos homens). Como eu ia dizendo, o Matrix uiva nas sombras. A liberdade só é possível num sistema sem memórias: quando esburacas num passado inexistente. Só perante a vida. Caminhando, sem olhar para trás, nas numinosas paisagens onde as pegadas se apagam antes de os pés assentarem nas areias. Caminhando em intermináveis socalcos metafísicos.
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