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Há 120 anos nascia em Lisboa o maior génio que esta terra à beira-mar plantada viu nascer.
Um dos maiores que a Humanidade acolheu no seu seio. Um homem infeliz que trouxe a alegria e a sabedoria aos que vão ao encontro das suas palavras. Legou-lhes também a aconchegante solidariedade da tristeza.
Com ligações familiares a Tavira e, principalmente, à Conceição, a minha aldeia, fez aqui nascer o seu heterónimo Álvaro de Campos.
Ainda hoje, um número significativo de casas do núcleo antigo da Conceição pertencem à sua família, mais precisamente ao seu sobrinho, o engenheiro (como Álvaro de Campos) Jacques Pessoa. Vivendo numa espécie de castelo no centro da aldeia, é a figura chapada do escritor e transporta a presença dos múltiplos "eles" que o poeta carregava. Tenho a honra de ser seu amigo e da sua mulher.
Deixo-vos um poema para Álvaro de Campos escrito por Pedro Jubilot ( um poema tão pessoano que me enganou pensando-o do próprio "engenheiro) parecendo ter sido escrito na "Praça da Alagoa", uma das mais belas praças ajardinadas da nossa cidade e onde, parece, o poeta tinha casa. Todo o poema respira e transpira Tavira: a ponte romana, o rio Séqua, o largo da alagoa, Veneza (Tavira é muitas vezes comparada a Veneza), o rio na maré baixa, o "engenheiro-na-cidade"...
"a última visita de álvaro de campos a tavira"
a paisagem vista da mesa do café
imagem de infância : largo da alagoa
igreja da nossa senhora da ajuda
o homem que de gabardine cinzenta
atravessa a pé a velha ponte romana
olhando para o rio de uma maré baixa
o homem que de roupa interior branca
atravessa o corredor da residencial sécqua
olhando para o espelho acendendo um cigarro
uma mulher chegando num carro preto
olhando para o edifício fugindo da chuva
toca a campainha e sobe apressada
uma mulher musa que traz cartas e mapas
projectos e quer saber a porta do quarto
do senhor engenheiro bate e ele abre-a
o homem alto e magro cabelo liso aparado
tem febre e escreve : “cada rua é um canal
de uma Veneza de tédios” a frase solitária
premindo as teclas da underwood"
de Pedro Jubilot
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