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Nascera entre dois castelos. À noite costumava espreitar os rebanhos a pastar por entre as ameias, enquanto fumava os cigarros roubados ao pai e ao avô.
Contrariamente ao que diziam, nunca gostou de criar problemas. Uma vez dera o salto mortal sobre a opulenta barriga do avô Gestrudes que dormia a sesta. Rebentou-lhe a úlcera. Tanto barulho por causa de uma coisa que ele nem sabia o que era.
Valia-lhe às vezes a sua tia solteirona que se riu quando ele tinha três anos e espatifou quantos pratos havia na cozinha. Bebiam até às vezes uns copitos ...
Aqueles malditos castelos assobiando ao vento frio do Norte é que lhe davam a volta à cabeça. Chegou a ter batalhas diabólicas contra galinhas, gansos e afins. A espada recortava os ares e os pescoços enquanto ressoava por todo o vale o grito de Santiago. Que grandes petiscadas as daquela família.
Na primeira comunhão escarrou a hóstia na cara de S. Cipriano. Só depois, na morte da tia, voltou a ter tanto prazer. Riram como doidos até ela revirar os olhos. Depois chorou pela primeira e última vez na sua vida. Ninguém mais o compreendeu. No funeral espancou as carpideiras, o padre e o enterrador . Beijou os castelos e fugiu levando a vivida pistola do avô Gestrudes .
Correu praias, estradas e cidades. Possuiu mulheres e dinheiro. Matou. Espatifou o corpo contra nada e sorriu. Esperou por uns e foi esperado por outros. Ninguém gostou dele nem ele de ninguém.
Foi então que veio a guerra, lutou pelos castelos de pedra brincando ao vento. Já não era a velha pistola da família, eram as pedras do mundo que se abatiam sobre o mundo. Desesperou aos pés do inimigo e esperou um comboio para longe dos homens. À noite, já sem saber o que a esperança e os sonhos ousavam dizer-lhe, jurou não mais procurar relógios nus na planície.
Esperou pelo pôr-do-Sol e foi ter com a tia.
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