Ainda não sei bem porque não hiberno nestas noites tristes de Inverno
olho para a televisão e estou numa loja de gravatas fúteis
tenho nas mãos vazias várias facas
para cada cinismo
para cada face engraxada
na banalidade das carcomidas
palavras carcomidas
Telefona-me mãe!
Fala-me das alfaces das couves
fala-me do ritmo lunar dos pintainhos
das oliveiras por apanhar
da roda verde dos caracóis e dos netos
a perseguirem o gato preto
pois já não há papoilas para brincar ao sol das flores.
Telefona-me mãe!
Atirei um galo de barro ao ecrã ruidoso da porra (puta ) da televisão
Acertei numa Fátima qualquer (há sempre uma Fátima qualquer a azucrinar-nos a carola)
Mas de qualquer forma
Telefona-me mãe!
(poema do meu amigo, o poeta e artista plástico de Conceição/Cabanas, Rui Dias Simão)