Desejas cumprir o silêncio na planície
onde a revolta professa inquietudes diversas,
na completa evidência da apostasia .
Atravessas atalhos caóticos na memória vazia de afectos
salpicando pegadas enquanto as ásperas faces da multidão
se refugiam na fealdade consumada
do princípio uniforme da manada,
na esparsa rede incontinente que ampara
o precipício magnético e purificador.
A tua noite vem sem o conforto da escuridão
pesadelo laminar abrindo chagas, cicatrizes
incompletas perseguindo os momentos implacáveis
da solidão sôfrega.
A nossa noite vem cobrindo as conversas doentias
de namorados incompatíveis, dualidade controversa
na cadência impossível,
conversas na podridão aberta nas mentes, matriz
dos teus passos na cálida certeza do nada,
quando despertas no longo caminho
a violência dos muros esquarteja o que resta da sinopse
espinhosa do retrato a sépia
insuflando os desperdícios duma juventude precoce.
O tempo é um labirinto que não esconde
a raiz dos espectáculos repelentes da aprendizagem patética,
virtude confusa da simetria ambulante.
O campo lavrado que te precede
impede a reposição das imagens fáceis,
a nudez da planície silenciosa.
Como nas aldeias esquecidas por patrocinadores
da estética alarve da ciência,
escreves sem nunca deixar linhas.
A tinta que usas não deixa crosta, escreve
na vida liquefeita manchando a sangue a planície lavrada.
Os momentos que te fazem repousar os pés
acorrentam os caminhos e corroem-te os joanetes
tentaculares (apêndices inúteis na erosão dos corpos).
Uma vida assim é a resposta palpável
aos cantadores de odes às criaturas estéreis
que revolvem a lama que cura os desvios elegantes dos marginais.
Uma vida que não responde aos impulsos
psicadélicos dos ventos
às tentadoras sereias das tempestades,
que resiste na inexactidão dos tempos.
Se desejares cumprir o silêncio da planície semi-lavrada
não arrastes os pés na direcção do horizonte.