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Bares Esvaziados na Madrugada em Chamas

por vítor, em 19.06.06

 

 

 

    Ainda há pouco era noite e a felicidade submetia-se a bares esvaziados. Se as nuvens cortassem, o oceano seria o fim dos obstáculos viris que se desprendem do horizonte. Dionísio gostaria de poder  embalar todas as nossas mágoas...

 

   Ainda há pouco era noite e a felicidade submetia-se à fúria de bares esvaziados. A calmaria instalou-se nas minhas mãos. Se as nuvens cortassem o oceano, seria o fim dos obstáculos viris que se desprendem do horizonte.

  Dionísio gostaria de poder embalar todas as nossas mágoas mas, tal como a noite, é impotente. Sentei-me na borda de um barco enraizado nas dunas, olhando as oliveiras brincando ao amanhecer.

-         Olá, sorri-lhes. Desgraçadas, vencidas pela modernidade, essas alumiadoras do mundo através dos séculos. Brincam ainda...

  A madrugada levantara-se violenta, borrifando os meus olhos cansados com luz a jorros. Sinto vontade de me erguer no céu em chamas. Amacio um cigarro entre os dentes. Ainda há luzes acesas na povoação. Guardam o sono, dos espíritos selvagens da escuridão.

   A minha aldeia é um barco com cadastro político, um caminho turvo onde se trocam coktails molotov. Um caminho turvo na ponte de um barco. Nesse barco passo todas as noites de insónia à volta com entes esquisitos à babuja dos meus restos.

  Se houvesse poetas, o Outono seria a época do ano eleita para os seus cortejos fúnebres. No meu (teu) barco não há poetas. Não há dissidentes nas aldeias onde nasci. Qualquer cemitério me pode separar da paixão pela confusão das montanhas cheias de vento.

  Ainda há luzes acesas e sonolentas na povoação em chamas. Lembram pássaros acocorados sonhando com marés de petróleo.

  É sempre difícil construir num mar de destruição e paranóia.

  Um caminho turvo onde se trocam coktails de molotov, surgiu na ponte do teu barco.

  Elegantes a passear-se em cadáveres famosos, babando excreções ácidas, amando a nudez da noite semi-adiada. Os bares sem pensamento não existem  há muitos anos, consumidos por mágoas e desenganos.

  Eu quis beijar-lhe os seios, ela embebedou-se e riu: sonhámos até a mãe nos acordar.

 Que faço aqui, sentado nas bordas de um barco enraizado nas dunas geladas, olhando as oliveiras brincando ao amanhecer? Consumo a noite.

  Levanto-me subitamente e mergulho no dia. Poeta aonde vais? Lapidar os ossos no cais?( versos de um amigo) Os amigos são bocados de silêncio à espera de encontrar a razão onde o vazio estoura a saudade.

Mergulho no dia e tropeço na noite caída, no entanto, vou esperar que os intelectuais racistas ( todos os intelectuais são racistas) se instalem à beira do precipício a saudar os cadáveres célebres. Então, sem os empurrar, hei-de gritar:

 -  Olhem os barcos, bocados de bebedeira despedida por excesso de zelo!

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publicado às 18:52


4 comentários

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De ladoalto a 20.06.2006 às 14:45

Pois é camarada, Barcos enraizados na areia...Mestre Tiago bem tentou incutir o gosto pelas Novas Técnologias aos seus alunos dilectos,mas havia sempre umas minis atravessadas no caminho que levava ao Departamento de Comunicação Social(eu sei,esse não era o nosso,mas era onde estavam os computadores).Há gente assim,chamemos-lhe rituais de aproximação.Depois um dia descobre-se que podemaos comer pão com chouriço enquanto teclamos.e pimba,já entrámos.Espero que o Grande Tiago possa vir a saber disto.Eu, que por força das circunstâncias(?) lido com as TI amiude,ganhei um novo motivo para lhes reconhecer "algumas virtudes".Agradeço à www o facto de, uns anitos valentes depois,poder aceder à força da tua escrita.
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De vítor a 21.06.2006 às 12:39

Camarada! Agradeço o comentário mas não sei quem o fez. Apenas que desbundámos na FCSH.

Diz alguma coisa.

Abraços

Vítor
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De ladoalto a 22.06.2006 às 10:35

-Quem és tu Romeiro?
Este,retirando o capuz,retorquiu:
-Nimguém!..Nimguém!..

i´m felling so hapy
my baby is waiting for me behind the sun
and i love her when she look the seagul smiling

Um abraço cheval

Pedro

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De ladoalto a 22.06.2006 às 10:38

ops!..
na realidade,o que o Romeiro retorquiu,foi
-"Ninguém!..Ninguém!...
he!he!he!

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