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Alf@

por vítor, em 16.08.07



A apanha da alfarroba é, tradicionalmente, uma actividade verdadeiramente científica: 1º- Uma equipa raspa e limpa o terreno por debaixo da copa das árvores, 2º- A mesma equipa procede ao varejamento das árvores (estas duas tarefas são feitas por homens), 3º - Finalmente uma equipa de mulheres procede à apanha e ao ensacamento.

Cada vez mais se deixam ficar as alfarrobas nas árvores e no chão. O trabalho é duro, moroso e cada vez compensa menos. A concorrência dos países do Magreb está a deixar os agricultores à beira do desespero. A alfarroba,  que ainda há pouco era vista como a possível saída para os agricultores, e muitos investiram em novos pomares no últimos anos, está também a tornar-se um pesadelo para os camponeses algarvios. Não precisando de regas, de adubos químicos ( a própria árvore se auto fertiliza com a queda constante das folhas), de pesticidas, fungicidas e outros  cidas " , beneficiando do aumento da procura nos mercados internacionais (chocolates, rações, produtos alimentares e medicamentos) a alfarroba era vista como o verdadeiro maná da agricultura do Algarve. Só que a procura crescente abriu o apetite a outros produtores internacionais com uma mão-de-obra baratíssima com a qual não podemos concorrer.

 

Hoje passei a tarde a varejar e a apanha alfarrobas. Nada de cientificidade que a equipa era eu próprio e mais ninguém. Eu varejei, eu apanhei, eu ensaquei e eu transportei para casa. Escusado será de dizer que ninguém raspou nem limpou, previamente os solos, o que me valeu dedos e mãos arranhados e a sangrar nas inúmeras plantas espinhosas que abundam sob as copas das frondosas árvores. Sobretudo as terríveis espargueiras , que rasgam a pele ao menor descuido.

 

Valeu a pena? Bom, do ponto de vista económico, não muito. Pelas minhas contas por alto apanhei 8 arrobas o que, a 5 euros a arroba, dará 40 euros em 4 horas. Portanto 10 euros à hora. Isto tendo em conta as arranhadelas, o calor, os mosquitos, a sede (esqueci-me de levar água e estava bem distante de qualquer abastecimento), as cabeçadas nos troncos, o risco corrido ao trepar  à árvore para varejar lá no alto e ao belíssimo dia de férias que deixei de gozar.

 

Valeu a pena,  pelo silêncio e pelas horas de reflexão. Pelo enfrentamento comigo mesmo ( a paisagem envolvente com a ribeira do Almargem a serpentear e a entrar na Ria Formosa, ajudou certamente bastante). No entanto, eu ateu, cheguei a casa parecendo consolado com o sofrimento cilicial ” do cristão que se encontra a si mesmo quando experimenta o sofrimento e a tortura auto infligida.



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publicado às 23:00


1 comentário

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De Ω a 15.09.2007 às 01:43

Ao passar por aqui
Bateu uma nostalgia... imensa
Esta actividade, verdadeiramente científica
Fez-me lembrar... que foi á muito
Muito tempo...
Era eu uma criança,
Que brincava no baloiço e ao pião
Não tinha tranças pretas
Mas caçava borboletas...
E ansiava pelas férias grandes,
Para fugir da cidade para a aldeia algarvia
Onde, durante três curtos meses de férias
Trocava o conforto da casa da cidade,
Pela casa da prima
Que não tinha água canalizada
Mas tinha uma casa de banho no quintal
Com vista para o palácio,
Pelos passeios, nas carroças puxadas por mulas,
Pela visita ao tio, que era ferrador
Vê-lo calçar os cavalos e as mulas,
Ir á bica, encher os cântaros
Comer feijão com couves ou grão com massa
Em vez dos bifes com batatas fritas,
Ir lanchar a casa daquela tia
Que fazia uns bolos de amêndoa, chila e ovos divinais,
Ouvir os galos a cantar e saber que horas são
E como não podia faltar, a apanha da amêndoa e da alfarroba.
1º Uma equipa familiar, pais, filhos, primos e tios, entre os 10 e 50 anos,
Estendiam plásticos debaixo das alfarrobeiras,
O que poupava dos arranhões.
2º A mesma equipa varejava, começando pelos mais novos.
3º Finalmente a mesma equipa, procedia à apanha e ensacamento,
Como as alfarrobas caíam, na sua grande maioria em cima de plásticos,
a tarefa tornava-se bem mais fácil,
Existia ainda uma 4ª fase, á que chamávamos “rabisco”,
Que consistia em procurar as alfarrobas perdidas,
Esta era feita unicamente por nós,
Os mais novos e revertia a nosso favor
Valeu a pena
Por tudo...
Por estes momentos que posso recordar

Ω

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