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Atenas abafava em calor. Por debaixo de uma frondosa oliveira, Sócrates, parecendo zangado, perorava sobre tudo e sobre nada. Mais sobre nada. Que o conhecimento a isso levava...
Um jovem, que pela primeira vez o ouvia, seguia-lhe as sinuosas palavras, as impenetráveis ideias e as parábolas flamejantes. A maior parte dos discípulos acompanhava-o distraidamente passando, de tempos em tempos, pela confortante anestesia do sono.
"... todas as pessoas feias são criminosas e de mau carácter..."
Esta frase bateu fundo na consciência do contemplativo jovem que atirou sem pensar:
- Mas o senhor é feio e bem feio...."
A interrupção gritada ecoou na praça geométrica, os seguidores regulares acordaram agitados e a própria oliveira se agitou gemendo ao vento.
O jovem, assustado, encolheu-se em si mesmo atrofiando-se no tempo. Os presentes focaram o olhar no filósofo, esperando a resposta iracunda do mestre.
Sócrates olhou longamente o jovem e, sorrindo, disse:
- Eras o único que me ouvia neste dia tórrido de Atenas. A tua interrupção foi um dom nesta tarde do fim e do principio do mundo. E tens toda a razão. Eu sou das piores criaturas que se passeiam no mundo de Zeus. Sou mau como todos os homens maus que foram e que irão ser. No entanto escondo e oprimo a minha maldade e ajo como a melhor das ovelhas de Zeus!
A praça, geométrica, respirou de alívio e mesmo a temperatura pareceu ceder ajudada por uma suave brisa vinda do Egeu.
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